Teatro Contra-Senso, o grupo amador que se tornou o orgulho de uma freguesia de Lisboa

O Teatro Contra-Senso, com sede no Bairro do Armador, em Marvila é um grupo de teatro amador sem fins lucrativos. Teve início na Escola Secundária D. Dinis, onde os membros fundadores deram os seus primeiros passos na arte do palco.

Reportagem de Carolina Duarte

O Teatro Contra-Senso somo 25 anos de história e entre as maiores dificuldades está a questão dos apoios financeiros. “Atualmente, o Teatro Contra-Senso recebe um apoio anual da Junta de Freguesia de Marvila, valor que reduziu bastante depois da pandemia de COVID-19, uma vez que os fundos da Junta têm neste momento como prioridade as pessoas com carências económicas resultantes da pandemia. Deste modo, o apoio financeiro dado à cultura transitou para o apoio social, o que é compreensível”, explica a vice-presidente do grupo, Sónia Castro, acrescentando que a coletividade recebe ainda alguns apoios exteriores de entidades públicas e privadas, nomeadamente em termos de cedência de salas para os ensaios e apresentação de espetáculos.

Apoiado pela Junta de Freguesia de Marvila desde a sua fundação, o grupo de teatro Contra-Senso é hoje um dos embaixadores culturais da freguesia, tal como explica António Videira. “É para nós um orgulho enorme vermos este grupo crescer e levar o seu nome por Portugal. Não os acompanho desde o seu início, mas posso garantir que o Teatro Contra-Senso é o grupo embaixador da cultura na freguesia”, afirma o presidente da Junta de Freguesia de Marvila.

Habituados a subir a palco e a representar para salas cheias, este grupo é constituído por jovens que fazem parte de pequenas formações e que têm dentro de si a vontade de fazer teatro. Estiveram em cena no mês de julho com a peça “P.S. Acho que deves continuar a escrever”, a partir da obra de José Saramago. O sucesso na freguesia foi tão grande que a 2 de dezembro de 2022 voltaram a trazer a peça para os palcos.

Peça “P.S. Acho que deves continuar a escrever”

Matilde Silva é uma das jovens que integra a coletividade. “Faço parte do grupo há 5 anos, já fiz várias peças e o nervosismo de pisar o palco é sempre o mesmo, mas com esta peça parece que foi diferente. Ver os bilhetes a serem reservados, ouvir as pessoas a entrar na sala e no final, quando as luzes acendem, ver a sala cheia e o público em pé deixa-me com o pensamento de missão cumprida. É para estes momentos que eu vivo e espero continuar a viver destes aplausos, das lágrimas e dos risos durante muitos mais anos que seja aqui, no que considero a minha casa, quer seja num grupo maior”, revela.

Apesar do sucesso da última peça, Sónia Castro salienta que é mais difícil para uma companhia amadora mostrar-se num grande centro urbano como Lisboa. “É muito diferente a adesão ao teatro amador numa grande cidade, como Lisboa, e em outras localidades do país. Em qualquer cidade mais pequena, habitualmente com pouca oferta cultural, os grupos de teatro amador são conhecidos por toda a população, que enche as salas para ver os seus espetáculos”, aponta. Para o Contra-Senso o desafio é maior, por “concorrer” com os espetáculos das companhias profissionais. Mas a realidade é que as suas salas nunca estão vazias. “De qualquer modo, não nos tem faltado público. As famílias e os amigos dos atores e dos técnicos estão sempre na primeira fila e vão trazendo mais amigos e colegas. Este passa-palavra é fundamental para chegarmos a novos públicos”, sublinha a vice-presidente do grupo.

Ter uma sala própria

O Teatro Contra-Senso é conhecido pelo seu otimismo e por sonhar alto e, por isso, os seus planos para um futuro a curto, médio e longo prazo já foram discutidos e partilhados. Entre estes planos estão três novas produções, nomeadamente o primeiro espetáculo, de toda a história do grupo, encenado por um profissional do teatro, Margarida Cardeal. Trata-se de uma peça direcionada para os jovens entre os 14 e os 18 anos, no âmbito do festival PANOS – Palcos Novos Palavras Novas, organizado pelo Teatro Nacional D. Maria II, que deverá estrear em março. Ainda de realçar o espetáculo que surge da junção com o grupo de teatro TIL (Teatro Independente de Loures), um grupo amador do concelho vizinho.

Entre os desejos da companhia para o futuro está ainda uma sala de teatro: “gostávamos de ter a nossa sala de teatro, um local para apresentar os nossos espetáculos, uma vez que vivemos com a dificuldade de não termos um espaço próprio e estamos sempre dependentes da disponibilidade dos auditórios e teatros, muito requisitados quer por amadores quer por profissionais”, refere Sónia Castro. Além disso, queremos que o teatro continue a fazer-nos felizes e a fazer amizades neste meio, por exemplo, nos festivais para os quais somos convidados”, remata.

O Contra-Senso quer continuar a crescer e a orgulhar a sua freguesia. “Eu sei quem um dia ainda vamos ver alguém que começou neste grupo num grande palco ou na televisão” diz o antigo encenador e presidente do grupo, Miguel Mestre.

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