Teatro Viriato: Do palco cheio de batatas, ao palco cheio de artistas

Um local que outrora era campos de batatas, que alagava facilmente devido aos rios que por lá passavam, viu nascer um edifício icónico da cidade de Viseu.

Por Gonçalo Augusto e Inês Costa Reis Áudio de Francisco Rodrigues

À chegada ao Teatro Viriato pairava no ar uma certa ansiedade de todos os estudantes do 2º ano de Comunicação Social da ESEV, do que iria acontecer lá dentro. Entrando no Teatro Viriato, Maria João Rochete, da direção do Teatro, recebeu toda a gente de “braços abertos” no hall de entrada. E foi aí que Maria João Rochete começou por contar um pouco da história do teatro viseense.

O Teatro Viriato nasceu no século XIX com um outro nome, sendo que até fechou portas em 1960 já com o nome de Teatro Viriato. “Inaugurado a 13 de junho de 1883, como Teatro Boa União, só em 1889 passou a Teatro Viriato, sendo que em 1960 encerrou, sendo transformado em armazém”, refere Maria João Rochete.

Após tudo isto e passados uns bons anos, o município de Viseu cedeu à pressão dos seus habitantes e compra o edifício a privados. “Em 1986 a Câmara Municipal de Viseu adquire edifício”, conta a assistente de direção do Teatro. No fim de 1989 iniciaram-se as obras de recuperação, nas quais o arquiteto Sérgio Ramalho manteve o traçado e a dimensão original da sala e assim o Teatro ficou tal e qual como se conhece hoje. Em maio de 1998, a Companhia Paulo Ribeiro estabelece-se no novo Teatro Viriato. 1999 foi o ano passou efetivamente a chamar-se Teatro Viriato, pois antes chamava-se Teatro Boa União. No dia 29 de janeiro é inaugurada a programação regular do espaço, sob o comando de Paulo Ribeiro, e englobava, tal como ainda inclui, música, teatro, dança, novo circo, atividades pedagógicas e residências artísticas.

A proprietária do edifício é a Câmara Municipal de Viseu, mas quem está a gerir o espaço é o Centro de Artes e Espetáculos de Viseu, como conta Maria João Rochete, diretora adjunta do teatro. “Em 1999, quando o espaço abriu, o município decidiu abrir um concurso a associações que estivessem disponíveis para gerir o espaço com o apoio da câmara a nível financeiro”, refere. A associação tem autonomia, pois é ela que toma as decisões sobre o que programar, quem contratar, ou seja, no fundo “como gerir a própria casa”.

Maria João Rochete revelou ainda que normalmente o que acontece é que são as próprias câmaras a gerir os teatros municipais, sublinhando que em Viseu é diferente. “Há muitos sítios a nível nacional em que são as próprias câmaras que gerem um espaço, e nós aqui temos essa autonomia”.

O Teatro Viriato tem também um gabinete de comunicação, gerido por Ana Filipa Rodrigues, que “trabalha arduamente” para conseguir chegar a toda a gente de uma maneira eficaz e fazer com que o público que vá ao teatro seja cada vez mais jovem.

Depois de contar um pouco da história do teatro, Maria João Rochete mostrou velhas memórias do espaço nos seus primórdios, tais como algumas fotos de como era e umas cadeiras da plateia da altura.

Ana Filipa Rodrigues e Maria João Rochete levaram depois os estudantes a conhecer a sala de espetáculos, onde desvendaram todos os mistérios da mesma e toda a organização que implica uma realização.

A diretora adjunta do Teatro deixou os estudantes sentarem-se nos lugares da plateia. O Teatro Viriato mostra também alguma preocupação com os a visibilidade dos espectadores na plateia, pois “normalmente os lugares de fraca visibilidade, são bloqueados e não são vendidos”, refere Maria João Rochete.

O palco do teatro contém 8 bocas de cena. A teia no palco é parte fundamental num espetáculo, pois é lá que é colocada toda a maquinaria mais pesada, escondendo-a e essa teia tem que ser mais alta que o próprio edifício do teatro.

Os projetores do palco são ligados um a um, o que implica todo um trabalho de uns dias antes de acontecer as peças de teatro. “A luz consome a maior parte do trabalho de montagem de um espetáculo”, conta Maria João Rochete em cima do palco, rodeada em círculo pelos visistantes.

No Dia Mundial do Teatro, o edifício icónico criou uma atividade inovadora, na qual cada espectador faz o seu próprio teatro. Com uns auscultadores é contada uma história e essa pessoa tem que desenhar o que ouve, com uma pessoa ao lado, tornando-se numa nova proposta de fazer teatro.

O Teatro Viriato foi palco desta inédita iniciativa em Portugal, que dá pelo nome de “Not to Scale”. Estiveram também em Viseu dois dos autores deste projeto, Ant Hampton e Tim Etchells.

Maria João Rochete

À saída do teatro Maria João Rochete e Ana Filipa Rodrigues agradeceram a presença dos estudantes e apelaram a que dessem voz a algo que, “infelizmente não tem o devido destaque merecido”. Por fim, as anfitriãs ofereceram a todos os que estiveram presentes um pequeno panfleto alusivo ao Teatro Viriato.

O Teatro Viriato na atualidade

O Teatro Viriato é financiado pala Câmara Municipal de Viseu, pelo Ministério da Cultura e por receitas próprias, geradas pela venda de bilhetes, pessoas que doam dinheiro ou empresas que financiam determinados espetáculos.

O interior do Teatro Viriato tem uma arquitetura bastante simples, possui cores neutras que transmitem calma. No hall de entrada podemos encontrar o “cantinho das memórias”, que reflete a história do Teatro, através de fotografias que narram o percurso deste lugar, onde se percebe o nível de degradação a que o edifício chegou, cujo palco foi transformado num armazém de leguminosas. Para além disso, é possível ver e tocar nas cadeiras antigas deste edifício e ainda apreciar uma tela de Viriato que estava no centro do teto da sala antiga de espetáculos, que foi a única recuperada e preservada após a intervenção, outras duas pinturas desapareceram. A sala de exibição, tem igualmente uma decoração simples, é um lugar com um ambiente artístico, mas “já merece uma reabilitação”. Estamos a falar de 23 anos após a reabertura, já passou por um período longo e de uma utilização muito grande do espaço. Desde que esta casa abriu, nunca mais parou, nem durante o confinamento”, explica Maria João.

Há uma equipa “escondida” que permite o bom funcionamento do Teatro

“Somos uma equipa muito pequenina, mas somos muito trabalhadores e estamos cá há muitos anos, damo-nos bem uns com os outros, tentamos manter esta união, e também acreditamos no projeto”, conta Maria João, atual diretora adjunta do teatro.

Na bilheteira tem uma pessoa que gere os assistentes de sala, vende os bilhetes e distribui flyers e cartazes. No gabinete de comunicação existem dois responsáveis que fazem os designs, tratam das redes sociais, mediação de público, assuntos de relações públicas e assessoria de imprensa. Na parte técnica têm três pessoas – luz, som, vídeo e maquinaria de palco. Existem dois elementos de segurança e dois elementos na direção de cena e produção, que trabalham em palco e têm a função de acompanhar todo o processo da atuação e comandar os colegas relativamente à luz e som. Na parte da limpeza, existem duas funcionárias que ajudam a manter o espaço limpo e apresentável.

Em palco, a sensação pode ser de fascínio, porque é aqui que a maioria da maquinaria é escondida, principalmente os projetores de luz, que são afinados um a um, de acordo com cada espetáculo. Antes de cada atuação, existe muito trabalho técnico e artístico, os ensaios são fundamentais para que tudo corra bem.

Em conclusão, “este teatro é grande pelo seu trabalho, mas pequeno de dimensão”, é a deixa de Maria João. É o único sítio da cidade que tem uma programação regular, com atuações de companhias nacionais e estrangeiras, com grande projeção entre os viseenses. Existe uma escola ao lado do teatro que tem ensino articulado de dança e conservatório de música, e o espaço serve-lhes de palco de ensaio. Henrique Amoedo é o atual diretor artístico do Teatro Viriato. 

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