“Quando Tondela arde, quando Viseu arde, a minha casa arde”

O #dacomunicação esteve à conversa com o humorista antes do espetáculo solidário, a favor das vítimas dos incêndios de outubro, no Pavilhão Multiusos de Viseu.

Uma hora antes do início do espetáculo a fila era já grande no Pavilhão Multiusos de Viseu com dezenas de pessoas à espera que as portas abrissem. À medida que cada pessoa ia entrando para a sala recebia o livro “Mixórdia de Temáticas – Série Miranda” de Ricardo Araújo Pereira que a sua editora, Tinta da China, decidiu oferecer a todos os que compraram bilhete.

Fato cinza escuro brilhante, camisa branca e sapatos pretos. Foi assim vestido, em tons escuros, a condizer com as cortinas negras que serviam de pano de fundo, que Ricardo Araújo Pereira subiu ao palco (também ele preto) do Pavilhão Multiusos de Viseu. À sua frente tinha 1500 pessoas preparadas para assistir ao espetáculo solidário que decidiu fazer para ajudar as vítimas dos incêndios do passado mês de outubro.

Passavam cerca de dez minutos das 21h30 – hora marcada para o início do espetáculo – quando o comediante se dirigiu à plateia para, em primeiro lugar, agradecer a presença de todos. As perguntas do público não tardaram, até porque era para isso mesmo que ali estavam: para ter “Uma Conversa Sobre Assuntos” com o humorista.

Ao longo da noite, as temáticas das questões foram diversas. Falou-se da polémica do jantar de encerramento da Web Summit no Panteão Nacional, de padres que têm filhos, das falhas do SIRESP, do roubo em Tancos, de José Sócrates, de Trump, do Benfica, de um eventual regresso dos “Gato Fedorento” e até de questões mais pessoais da vida do humorista, como a leveza com que encara o dia-a-dia. A todas elas, Ricardo Araújo Pereira respondeu com a ironia e o humor que o caracterizam.

Minutos antes de subir ao palco, RAP – sigla pela qual é conhecido junto do grande público – recebeu o #dacomunicação no seu camarim para uma conversa onde, além de outras coisas, revelou que por Portugal ser um país pequeno fez com que sentisse de uma forma muito próxima a tragédia dos incêndios.

“O nosso país é demasiado pequeno para a gente não sentir aquilo que eu senti quando as coisas aconteceram. Quando Tondela arde, quando Viseu arde, a minha casa arde. O que acontece em Tondela e em Viseu, acontece-me a mim”, confessou o humorista.

Ricardo prosseguiu com a ideia da proximidade num país como Portugal: “Toda a gente tem um amigo que tem familiares em Viseu. Toca-nos sempre de alguma forma. O país é demasiado pequeno e coeso”, salientando que os vários espetáculos solidários que está a realizar pelas várias regiões do país “são uma forma de dizer que estamos cá uns para os outros”.

Questionado sobre a importância da iniciativa para as pessoas que sofreram com os incêndios, Araújo Pereira reconhece que a ajuda não é muita porque os prejuízos foram demasiados: “De facto, perante esta devastação que toda a gente viu, tudo isto são meras gotas de água”.

Ainda assim, RAP reconhece que há problemas que o dinheiro angariado com o seu espetáculo pode resolver. “Há micro e pequenos agricultores que ficaram sem o trator, sem os animais, sem a enxada… Já não é mau se a gente conseguir fazer qualquer coisa nesses pequenos problemas”.

Os fundos angariados com os espetáculos contaram já com um aumento considerável devido à doação de um anónimo que, com base no valor de dinheiro que era estimado recolher, deu outro tanto. Todo o dinheiro angariado está a ser gerido com o apoio de um gabinete jurídico que faz um acompanhamento da atribuição dos fundos.

A hora do espetáculo aproximava-se, mas ainda houve tempo para Ricardo falar do livro que lançou recentemente, “Reaccionário com dois cês”.

“É um livro diferente dos outros que eram uma coleção de crónicas umas a seguir às outras. Este está organizado por temas e isso talvez lhe dê um interesse novo.”, contou RAP.

Almeida Henriques, presidente da Câmara Municipal de Viseu, esteve a assistir ao espetáculo e à entrada aproveitou para deixar elogios a Ricardo Araújo Pereira. “É uma atitude muito solidária do Ricardo Araújo Pereira, que é uma pessoa que eu aprecio muito do ponto de vista do seu sentido de humor”, afirmou o autarca viseense.

O presidente da Câmara de Viseu referiu ainda que o município “só podia assumir uma atitude solidária em relação aos concelhos vizinhos”, recordando as iniciativas organizadas para além deste espetáculo, como a corrida e o concerto “Viseu Abraça” a 12 de novembro último.

“Com as verbas angariadas através da televisão no dia do jogo [da Seleção Nacional] mais as verbas destes vários eventos podemos estar a falar que Viseu foi solidário em cerca de meio milhão de euros”, deu ainda conta Almeida Henriques.

Ricardo Araújo Pereira está de regresso a Viseu já no próximo dia 1 de dezembro onde vai participar, juntamente com Michael Palin da série britânica Monty Python, no Festival Literário “Tinto no branco” integrado no evento “Vinhos de Inverno” – organizado pelo Município de Viseu e pela Viseu Marca – que decorrerá no Solar do Vinho do Dão.

 

Texto e imagens: João Pereira

 

 

 

 

 

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