Moinhos. O clube que reúne (quase) toda a aldeia nos jogos de domingo

Como a autora do livro “Moinhos minha terra”, Rosa Cravo, escreveu “falar de futebol nos Moinhos é fazer virar muitos corações e todos os adjetivos que se possam escrever seriam muito poucos para enaltecer o que é o futebol para a maior parte dos moinhenses”.

Por Inês Rodrigues

Moinhos pertence ao concelho de Miranda do Corvo e distrito de Coimbra, da qual dista mais ou menos 15 quilómetros pela antiga linha férrea e mais uns poucos pela linha rodoviária.

Equipa de Iniciados do Grupo Desportivo do Moinhos

Mas afinal, o que distingue o Grupo Desportivo do Moinhos dos clubes “tubarões” que o rodeiam?

Talvez seja a união ou a entreajuda, Joaquim Dias responde que “um jogador novo que chegue aqui sente-se logo à vontade e tranquilo. Há uma grande entreajuda e união. Os atletas chegam ao balneário e estão lá 20 minutos até irem para o campo, ficam nos balneários a dizer piadas uns aos outros, estão a brincar enquanto se vestem”.

Companheirismo, união, solidariedade são algumas palavras que Afonso Rodrigues usa para descrever o clube “As pessoas dentro do clube fazem-te sentir em casa, preocupam-se contigo e valorizam-te… esforçam-se imenso diariamente para garantir o bem-estar de todos… mesmo nos momentos difíceis unem-se e trabalham para dar a volta por cima. Já passei por alguns clubes na região de Coimbra e nunca me senti tão em casa como nos Moinhos.”

O início do clube na aldeia

Sócios fundadores

O Grupo Desportivo dos Moinhos, também conhecido por GDM ou simplesmente Moinhos existe desde 1965, ano em que se formou uma comissão que tinha como objetivo comprar um terreno para construir um campo de futebol. Fernando Rodrigues relembra esses tempos “fazíamos aqueles joguitos com equipas de terras daqui de perto. A nossa vida era jogar de vez em quando, não era como agora que jogam todos os domingos. Era algo amigável e no fim comia-se uma bucha e bebia-se uns copos.”

Fernando foi de tudo no clube desde fundador, jogador, presidente, tesoureiro, aguadeiro e até teve de fazer de árbitro em alguns jogos.

Em 1975, o clube iniciou a sua atividade competitiva com a entrada para o INATEL onde permaneceu até 1981.

A 14 de Abril de 1981, formou-se uma comissão de gestão para conseguir fazer os estatutos e entrar na Associação de Futebol de Coimbra (AFC), apesar do campo existente na altura não ter as medidas exigidas.

Após a sua entrada para a AFC, o clube constrói o edifício onde atualmente encontramos o bar, a sede, os balneários, arrecadação…

“As equipas que nos visitavam tomavam banho nas casas de banho da escola primária (localizada a 30 metros). Os jogadores de cá tomavam banho em casa ou nas fontes ou no rio, era onde calhava”.

Na época de 1989/1990 o GDM consegue subir para a 1º divisão distrital. Quatro anos mais tarde (94/95) consegue repetir o feito e ascender à divisão de Honra e no ano seguinte (95/96) é finalista da taça da AFC. Para celebrar todas estas conquistas, jogadores, treinador e toda a equipa técnica, depois dos jogos, rumavam até à garagem do Sr. Fernando onde “comíamos, festejávamos e bebíamos o vinho que tinha nas pipas, era fraco, mas era o que tinha”.

Em 2011/2012 sagram-se campeões distritais (1º divisão), sendo até aos dias de hoje o único título que conseguiram no escalão de séniores. Mas esta vitória trouxe um sabor agridoce, depois de serem campeões e subirem para a Divisão de honra, a falta de apoio por parte dos sócios, jogadores, treinadores e direção, fez com que descessem para a 1º divisão.

Desde 2013 que continua na 1º divisão fazendo todos os esforços para subir à divisão de Honra, mesmo que isso implique acabar os jogos com quase metade da equipa expulsa. Nos domingos à tarde a população junta-se toda no campo das Lapas, compra o bilhete, a um preço bastante acessível, sobem uns 10 metros onde são recebido por um “porteiro” que confere as entradas, não se sentam porque não existe uma bancada e desfrutam de um belo jogo de futebol, ou então de luta livre acompanhada pelos gritos a dar força ao clube ou então pelos gritos dos treinadores de bancada.

Um novo campo traz um novo projeto

Desilusão, o único sentimento que o clube tem com a descida para a 1º divisão. Mas isso não fez Vitor Hugo baixar os braços que assumiu a direção do clube e trouxe um novo pavimento e um novo projeto.

Foi “numa jantarada” com os presidentes da câmara de Miranda do Corvo, AFC, Junta de freguesia, sócios e atletas que ficou prometido a construção do campo em relva sintética.

“Foi um ano complicado, tiveram de andar a jogar em campos de fora por o nosso estar em obras. Houve algumas dificuldades por causa da altura da vedação”, realça Fernando Rodrigues, que apesar de já não ser presidente tinha estado presente nas negociações do campo no último ano que presidiu o clube.

Foi em 2015 que Joaquim Dias e Rafael Antunes decidiram criar o projeto da Escola de Futebol GDM para abrir oportunidade a outros escalões mais novos. As 12 “cobaias” foram os mais novos, os Traquinas e Petizes, o objetivo era ver a viabilidade do projeto quanto à captação de mais atletas para outros escalões.

Joaquim Dias, também conhecido por Dias, é coordenador da escola de futebol e também treinador, diz que o “mais difícil foi começar. Às vezes é preciso um esforço para organizar e preparar as coisas para os treinos e jogos, arranjar equipas para se fazer jogos de treino… implementámos um modelo para a escola formar e ao chegar aos séniores ser mais fácil eles perceberem esse modelo”.

Ao atingirem a idade máxima, os atletas subiram de escalão para dar continuidade à sua aprendizagem, passado assim de Traquinas para Benjamins. A entrada de mais atletas criou a necessidade de abrir novos escalões: Petizes, Traquinas e Infantis.

Devido ao fecho do clube de Almalaguês (um clube a 8 km) e à boa imagem que transmitiam, alguns atletas migraram para os Moinhos e foi então que em 2018, criaram duas equipas de Infantis. Com uma das equipas a atingir a idade para um novo escalão, surge, em 2019, os Iniciados.

E conquistas dos mais novos? É verdade que não são muitas, na verdade apenas conquistaram a Taça de encerramento na época de 2018/2019, no escalão de Infantis. Competição que abrange as equipas que ficam de fora dos três lugares cimeiros da 1º fase do campeonato distrital.

“A conquista da Taça de Encerramento foi sem dúvida um marco importante. É sempre gratificante ficar ligado à história do cube, mas o que me deixou mais satisfeito e orgulhoso foi o espírito de grupo que criámos e a forma como soubemos lutar e evoluir perante as dificuldades… Começámos a época com uma equipa com jogadores de realidades diferentes, em que muitos deles não se conheciam e acabámos o ano como uma “família”, criaram-se laços que vão ficar para a vida toda”, palavras de Afonso Rodrigues treinador da equipa vencedora.

Com a época a meio e contra todas as expectativas, o mesmo escalão apurou-se para a Taça dos Infantis, competição onde as três primeiras equipas de cada série passam para competirem entre si e encontrarem o campeão do escalão.

Outra conquista da escola do GDM foram as 6 chamadas de convocação para a seleção de Coimbra, 2 Infantis e 4 Iniciados. Apenas Afonso Miguel e João André (Iniciados) representaram a seleção conimbricense.

“Senti-me muito feliz por estar ali no meio dos melhores jogadores do distrito, quando entrei estava nervoso mas quando comecei a jogar só conseguia pensar que tinha de deixar uma boa imagem dentro de campo” foram as palavras escolhidas por João André para falar da sua experiência na seleção.

Atualmente a escola conta com 2 equipas de Traquinas e 1 equipa de Benjamins, Infantis e Iniciados

O que reserva o futuro?

Quanto ao futuro, esse é um pouco incerto. Com a atual direção já no 2º mandato há probabilidade de “caso ninguém se chegar à frente” 2020 fique marcado pelo fim do pequeno clube moinhense.

“A população está envelhecida e os velhos já não têm ritmo para a atualidade que é o futebol dos Moinhos”, apesar disto, Fernando não crê que seja o fim do GDM.

Para os Benjamins, Dias quer que os atletas cheguem ao fim do campeonato e tenham perceção que se esforçaram para atingir o melhor resultado. Quanto aos pequenos Traquinas/Petizes apenas quer “ que se divirtam, joguem à bola, façam golos, festejem e façam cambalhotas”.

Os Moinhos é um clube sem luxos materiais, mas humanamente luxuoso, Com o lema “Orgulho ser Moinhos” percebemos que o clube faz jus à frase sendo um verdadeiro orgulho para os residentes da aldeia.

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