Um retorno ao futuro norteado pelo mestre

Rotulado, unanimemente, como um génio, José Maria Pedroto é um dos nomes históricos do futebol português e, acima de tudo, do Futebol Clube do Porto. Para Pinto da Costa, seu camarada de múltiplas batalhas futebolísticas, “Pedroto nasceu adiantado 50 anos”. Hoje completaria 90 anos.

A nível futebolístico, Pedroto foi tudo. Um jogador extraordinário – médio de fino recorte, um dos mais completos da sua geração, mas foi, sobretudo, um técnico sublime, sendo inclusive o primeiro a formar-se no estrangeiro com o diploma de excelência. Fazendo jus às palavras de Pinto da Costa, Pedroto demonstrava estar num patamar distinto dos restantes intervenientes do futebol nacional. “O verdadeiro calcanhar de Aquiles do nosso futebol reside no simples facto de quase todos pensarmos que quando saímos dos estádios já não somos profissionais de futebol”. Um visionário.

Pedroto foi um vencedor. Conquistou títulos ao serviço da equipa de juniores da Seleção Nacional e do Boavista – criador do Boavistão, para além do brilhantismo ao serviço dos Vitórias – Sport Clube e Futebol Clube. Porém, quando se fala em Pedroto, fala-se, automaticamente, do Futebol Clube do Porto e vice-versa. Uma ligação umbilical. Zé do boné, como também era conhecido fruto da habitual boina, revolucionou um clube encarcerado no amadorismo, com a regeneração e consequente afirmação dos azuis e brancos como a maior potência do futebol nacional nos 30 anos seguintes.

Filho de um militar, Pedroto transpôs a rigidez e a liderança da sua educação para o relvado das Antas – castigos a jogadores sem olhar a nomes; a proibição da cor vermelha nas instalações do FC Porto. Para além da inflexibilidade dentro de portas, Pedroto, um nortenho a 100%, encetou uma guerra aberta contra as forças do sul – fazer das fraquezas forças, outra das peculiaridades do mestre. Para isso, de uma forma sábia, apelou às forças do povo da invicta com frases que ainda hoje são entoadas nas ruas da cidade. “É tempo de acabar com a centralização de todos os poderes da capital; as gentes do Porto são ordeiras. Se não fossem, há muitos anos teriam recorrido à violência perante os enganos dos árbitros que têm decidido da perda de muitos campeonatos e Taças; enquanto fomos bons rapazes fomos sempre comidos”.

O ADN e mística dos Dragões, tantas vezes proclamados na contemporaneidade, têm por base o trabalho desenvolvido por Pedroto há mais de quatro décadas. A vitória no campeonato nacional de 77/78, 19 anos depois da última conquista, e a aposta em jovens da formação e de zonas circundantes à cidade do Porto foram fundamentais para a cultura de vitória que se enraizou no clube, não apenas a nível nacional, mas também internacional, e que perdura na atualidade.

A vida de Pedroto terminou há cerca de 33 anos, sucumbiu perante um cancro, mas o seu legado continua vivo, pois um mestre nunca parte verdadeiramente enquanto as suas doutrinas continuarem a gerar novos discípulos e a instituição continuar a vencer impulsionada pelas suas bases. Feliz aniversário, mestre.

 

Texto: João Miguel Carvalho

Imagem: FC Porto

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