“Foi ficando o bichinho e eu fui fazendo cerveja”

Mickael Sequeira, ou Mikas como gosta de ser chamado, foi apanhado pelo mundo da cerveja artesanal. Depois de tirar o curso de técnico de laboratório em qualidade alimentar, ingressou para os estudos superiores em engenharia alimentar, mas não chegou concluir. Começou a trabalhar no ramo alimentar, onde ganhou muita experiência. Resolveu começar de novo e aventurar-se. Agora, com 33 anos, é proprietário de um bar em Vouzela, onde vende e produz a sua própria cerveja artesanal com o nome “Mickas Craft Beear”. Este ano participou pela primeira vez em competição, mais concretamente no “Ibeerian Awards”, concurso que se realizou em parceria com o festival “Aveiro Beer Fest”, e que serve para mostrar as melhores cervejas e partilhar uma cultura de cerveja de qualidade. No fim do concurso Mickael Sequeira superou as expectativas e regressou a Vouzela com algumas das suas cervejas artesanais premiadas.

Como surgiu a ideia de começar a fazer a cerveja artesanal?

Mickael Sequeira A ideia de começar a fazer cerveja surgiu por provar outras cervejas, cervejas estrangeiras, com um colega de faculdade e notarmos que estávamos habituados sempre às mesma. Como estava na área alimentar, decidi pesquisar um pouco mais e apercebemo-nos que era possível fazer cerveja em casa. Para fazer os primeiros lotes mandámos vir, a partir de um site da Bélgica, uns maltes e uns kits para fazer. Quando estávamos a pesquisar para ver como se fazia descobrimos que em Portugal já havia a Praxis e estava a começar a Sovina, com cerveja engarrafada. Isto em 2011. Foi ficando o “bichinho” e eu fui fazendo cerveja, cada vez  tentando fazer melhor, com pesquisa e aprofundando mais o conhecimento, comecei-me a apaixonar por esta área e surgiu o sonho de ter esta cervejaria.

 

Como é que no início fazia a cerveja?

MS No início fazia como faço agora, só que era em lotes de 20 litros, em baldes de 20 litros alimentares para fermentar a cerveja, fazia a segunda fermentação na garrafa juntando açúcar para criar o gás. Ainda não tinha cubas isobáricas como tenho agora em que a cerveja sai já com o gás certo. O princípio era o mesmo só em volume mais pequeno.

 

De que maneira é que começou a perceber que podia fazer diferentes cervejas usando tipos de sementes de forma a modificar completamente o sabor?

MS Isso é um pouco de leitura e de pesquisa, livros que mostram como existem diferentes maltes que provocam os diferentes sabores. Temos os maltes de base e depois os maltes especiais, são os caramelizados e os torrados. Daí consegues fazer aquelas cervejas “amber”, com mais ou menos intensidade ao malte torrado, até que podemos usar um malte mesmo torrado para fazer as cervejas pretas. Existem também os vários lúpulos, que dependendo da sua origem têm várias propriedades, uns mais cítricos, alguns mais ervais, outros mais terrosos. Conjugando dá para fazer os diferentes estilos de cerveja. O que eu tento fazer é criar uma ou outra cerveja, mas a maior parte das vezes passa por replicar estilos de cerveja que já existem no mundo. Às vezes mando vir de fora umas garrafas para provar, como foi agora para fazer a cerveja “american pale ale”, mandei vir umas cervejas americanas para provar e assim tentar fazer mais-ou-menos dentro do estilo dessa cerveja.

Em 2016 decidiu abrir um bar. Porquê?

MS Decidi começar a comercializar, porque vi que tinha hipótese de fazer boa cerveja e consegui fazer boas cervejas. Provava algumas cervejas artesanais e algumas desagradavam-me. Então, em 2016, vi que tinha possibilidade de começar. Também tinha um colega, o Pedro Sousa, dono da cervejaria Post Scriptum Brewery, na Trofa que foi um dos meus mentores no início e nunca me deixou parar de fazer cerveja. Ele dizia para arrancar com o bar.

 

Porquê em Vouzela?

MS Primeiro porque sou de Vouzela e, em segundo, porque acho que se não formos nós os jovens a proporcionarmos algo novo nestes meios mais pequenos não existe mais nenhum desenvolvimento. Tive a possibilidade de ser aqui, estava por cá e acho bem trazer este conhecimento à população local, porque eu acho que as cervejas artesanais têm de se tornar no “drink local”, ou seja, cada região, cada zona, ter uma cervejaria artesanal de eleição em que as pessoas sabem quando vão para a esses locais podem beber uma cerveja artesanal da zona.

 

Qual é o conceito do bar?

MS É o de dar a conhecer as pessoas e instruir na cerveja. Nós temos um país com muita tradição vinhateira, a nível da cerveja estávamos confinados a duas marcas basicamente e a cerveja muito idêntica, apesar de terem surgido outros tipos, como as pretas e aquelas mais ruivas. O surgimento das cervejas artesanais permitiu maior conhecimento, bem como fazer feiras, estar mais próximo do público e instruir as pessoas.

 

Também vende cerveja para outros sítios?

MS Sim, vendo para outros bares, restaurantes e faço cerveja para outros vendedores e estabelecimentos. Apesar de a maior parte ser consumida no bar, para fora vão bastantes e cada vez mais.

 

Em Viseu tem algum sítio para onde vende cerveja?

MS No Trebaruana e no Dux Palace, para já. Vão agora surgir outras coisas, mas ainda está em negociações.

Quais foram os prémios que recebeu no “Ibeerian Awards”?

MS Foi uma medalha de ouro com a “Vaucella – Red Ale” no estilo de “Irish Red Ale”, outra medalha de ouro com a “Mickas Craft Beer – Abbey Beer” no estilo “Belgian Dark Strong Ale” e uma medalha de bronze na cerveja “Mickas Craft Beer – Strong Ale”, no estilo “Quadruppel”.

 

Como é que foi a experiência de participar neste primeiro concurso de cerveja?

MS Ter ganho alguma coisa foi bom, pois não estava à espera de ganhar nenhum prémio, era mais para ter as fichas dos juízes para poder melhorar, no futuro, algumas cervejas. O concurso trouxe-me uma melhor dinâmica. Neste caso correu bem, foi engraçado, existe um contacto mais direto com outros cervejeiros que começamos a conhecer um bocadinho mais e com os quais trocamos cervejas. Graças ao festival arranjei agora um cliente em Aveiro.

O que representam para si e para o bar estes prémios?

MS É uma questão de reconhecimento, orgulho e de ver o nosso trabalho com mérito. Representa que temos de melhorar, já que podemos ganhar estes vamos tentar melhorar para ganhar mais. Também se torna um pouco de publicidade para a marca, nestes dias o nome “Mickas Craft Beer” chegou a mais pessoas que nunca tinham ouvido falar sobre as minhas cervejas.

 

Pensa em participar em mais concursos?

MS Para o ano vou participar no mesmo, pois este ano já estão quase todos fechados, principalmente concursos para fora. Mas sim, estou a pensar para o ano começar a concorrer mais, mesmo que seja só para ter as fichas dos juízes com o feedback para perceber em que direção ir em cada cerveja tendo em conta o estilo.

 

Quais os seus planos para o futuro?

MS Tentar arranjar o espaço para aumentar a produção, porque de momento são só mil e duzentos litros mês e começa a ser pouco face à procura externa, se fosse só para o bar da dava perfeitamente, mas com a procura externa tenho que aumentar o volume.

 

E para a cerveja artesanal?

MS Inovar, fazer várias cervejas, por isso é que também tenho sempre aquelas seis bases e depois ando a “brincar” para ter mais uma nova, experimentar receitas, dar a conhecer e ver se vai de encontro ao público, à adesão.

 

Pretende expandir o bar para outros sítios?

MS Sim, estou agora com umas ideias em conjunto com uns rapazes da Gafanha da Nazaré e pensamos fazer um bar “Mikas Craft Beer da Borda”, outra marca que vamos associar os dois e fazer um bar em Aveiro.

 

Texto e imagens: Luís Moita

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