13.10. A frequência da luz que não podemos ver

A minissérie “Tudo o que não podemos ver”, que estreou recentemente na Netflix, retrata a realidade vivida durante a ocupação nazi numa pequena cidade francesa pouco tempo antes do fim da Segunda Guerra Mundial. Marie-Laure e Werner Pfenning, divididos pelo conflito, na cidade fortificada de Saint-malo, em 1944, partilham a mesma frequência, onda curta 13.10.

Por Ana Raquel Pinto

Na produção americana a temática da Luz assume uma vertente filosófica, algo que é aparentemente inalcançável por todos os intervenientes. Em vários trechos da narrativa, todas as personagens acabam por mostrar a falta de fé que têm em relação à vida. A dada altura, um dos protagonistas, que é avisado que as suas ações podem ser punidas com a morte, refere, de olhos vazios, que de qualquer das formas, a sua vida vai acabar. Isto corrobora que, apesar de ser um soldado e estar do lado da superioridade, o mesmo espelha medo e falta de esperança num futuro próspero. Não sendo caso único, um dos superiores nazis está a morrer e, na sua ótica, salvar-se a si mesmo é a única coisa que importa, mesmo que isso implique matar pessoas inocentes. Neste sentido, a série não tenta apenas representar a reticência de muitos soldados que lutavam pela sua pátria de forma forçada, mas que muitos deles tinham ética e conflitos interiores que se sobrepunham à defesa da sua nação.

Na outra perspetiva, a ausência de luz e de esperança é também patente, todavia por questões diferenciadas. Os franceses estão sujeitos a condições deploráveis impostas pelos alemães. As suas vidas são como uma bomba-relógio, e a incapacidade de agir em relação aos nazis realça ainda mais a vulnerabilidade física e mental ao qual os franceses estavam suspeitos.

Ao analisar de perto a vida e o contexto sociocultural de ambos os lados, é mais fácil de perceber o porquê de não haver esperança nesta realidade.

A estética das cenas e dos planos acompanha a sensibilidade dos temas predominantes. A presença de luz é escassa e mais evidente quando a história remonta ao passado, onde a vida de todos os intervenientes era diferente e “claramente” mais pacífica. Neste sentido, assume-se que a presença e a ausência da luz também têm uma componente comunicadora na série. Quando centrada no presente, a narrativa tende a ser pouco iluminada, também para corroborar e acompanhar a tensão eminente no enredo. Em pequenos saltos para o passado, a claridade é mais percetível e enfatiza a calma e a paz contrastante. Temas mais brancos tentam comunicar que naquela altura, a vida era pacífica e nada evidenciaria um conflito armado à escala mundial.

Para os mais atentos, a série subentende várias mensagens que podem ter percecionadas de diferentes formas e que podem ser tidas em conta como lições de moral. A protagonista da série é cega, no entanto, é ela que transporta a luz de que todos falam, todos querem e que todos procuram.

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