Banda do Costume: O “hobbie profissionalizado” de quatro jovens que unem a amizade com a música

Os membros da Banda do Costume descrevem o projeto como um “hobbie profissionalizado levado com grande seriedade”. Desde 2015 que os jovens amarantinos escrevem a sua história e prometem ficar, apesar das dificuldades de gerir um projeto local “autossustentável”.

Reportagem de Eugénia Lopes

A paixão pela música surgiu quando era miúdo e tinha insónias, porque o pai decidia aprender a tocar guitarra à noite. Pedro Sousa lembra-se de pensar: “mal a mal entro em aulas de guitarra e ensino-lhe a ele”. E assim ingressou na Escola de Música Ritmo, em Amarante, o primeiro passo para o que viria a ser a Banda do Costume.

A Banda do Costume (BDC) foi formada por acaso em 2015 nos concertos de verão da Escola de Música Ritmo onde frequentavam os quatro amigos: Pedro Sousa, vocalista, José Sousa e Henrique Pinto, guitarristas e backing vocals e Gonçalo Teixeira como baterista. A partir de 2017 profissionalizaram a banda e decidiram começar a produzir originais.

O vocalista conta como surgiu o nome da banda: “o professor da escola de música estava a escrever o nome que ia dar ao nosso grupo para aparecer nos panfletos dos concertos e, em tom de brincadeira, disse que éramos “os do costume””.

Pedro Sousa assume que os momentos de inspiração dão o clique a partir da meia-noite e que quando começa a produzir uma música: “tem de ser acabada, não deixo para depois senão sinto que não vai bater certo”. O vocalista refere que nem todas as músicas que escreve são sobre ele, no entanto, descreve a sua música como sendo “egoísta e egocêntrica”. Inclusive queriam dar um desses nomes ao primeiro álbum que decidiram produzir.

“Sentia-me um rockstar”

Há um ano, sem experiência em produção, lançaram o primeiro original “Vagueando em Mim” e o vocalista assume que até hoje continua a ser a música preferida do público e que quando começam a tocar a música em concertos ouvem um “shh” que aquece o coração. “Sentia- me um rockstar porque na altura não tínhamos notoriedade em produzir músicas e visualizações agora completamente orgânicas, as pessoas é que fizeram a própria divulgação em cadeia”, refere.

Single Vagueando em Mim

O processo criativo da Banda do Costume é feito em parte por Pedro Sousa, vocalista do grupo, que confessa que escrever letras de músicas passa por “exacerbar o sentimento e transpor em palavras” e expõe que tem o hábito de escrever versos soltos no bloco de notas do telemóvel. Não costuma escrever sobre o que vê, no entanto, quando estava de férias começou a escrever a música “Cartas na Mesa” que, atualmente, não tem videoclipe, mas está pronta para ser lançada.

A Banda do Costume é caracterizada pelos próprios como um “hobbie profissionalizado” que levam com extrema seriedade e por isso mesmo, todas as sextas-feiras, apesar da vida pessoal de cada um, fazem ensaios descontraídos que consideram ser “um refúgio da semana”, complementa Pedro Sousa.

Os concertos, em época baixa, cingem-se a bares, onde, apesar de o retorno ser menor, a frequência é maior. Como o projeto é “autossustentável”, Pedro Sousa assume: “cada oportunidade que nos derem de atuar, nós aproveitamos ao máximo, quanto mais pessoas nos ouvirem melhor”. Durante o verão, atuam em festivais ou outro tipo de concertos que dá para compensar os poucos recursos obtidos durante a época baixa.

Em Amarante, o vocalista assume que podia ter mais apoio e que “as pessoas poderiam dar mais crédito ao que é uma banda local”, no entanto, percebe que “enquanto a banda não der um grande salto com o passar do tempo, que as pessoas começam a retrair o interesse” e que “apesar da banda ter crescido bastante de 2015 até agora, foram sempre baby steps”.

O vocalista da BDC, Pedro Sousa, recorda o quão bom é sentir o calor do público e que, por exemplo, em 2018, no evento Band’Art em Amarante, “as pessoas que foram ver não foram só os nossos amigos, foram também imensas pessoas de fora e que estiveram até ao fim do concerto”.

Atuação na Band’Arte

Pedro Sousa não sabe responder quais foram os melhores concertos que já fez e refere que se apropriou de uma frase do artista Pedro Abrunhosa: “o melhor concerto tem de ter sido sempre o último que dei e o próximo concerto será sempre o mais importante”. O vocalista explica que funciona como um “loop de melhoramento”, ou seja, “quando chegar o próximo concerto esse vai ser sempre melhor que o anterior”.

Devido aos constrangimentos provocados pela pandemia, a Banda do Costume teve de se ajustar e é aqui que entra o lado bom de não viverem financeiramente do projeto. “Podemos dar-nos ao luxo de dizer que com a pandemia estivemos a trabalhar em músicas novas”, afirma Pedro Sousa, acrescentando que gravaram e lançaram um EP de nome “Em Acústico I” com alguns originais e covers em acústico.

Por outro lado, foi uma época atípica porque não atuaram em concertos e, apesar de adorarem a parte da produção da música, o vocalista assume: “não escrevemos música para nós ouvirmos, é para os outros ouvirem e para perceber se foi efetivamente uma boa música e se as pessoas gostam mesmo de a ouvir”. “Em termos da autossustentabilidade da banda, foi difícil avançar com alguns projetos por falta de receita”, conclui Pedro Sousa.

E se o sucesso terminar?

Apesar do sucesso, o artista teme o futuro da indústria da música e assume: “dá para ter uma visão mais imparcial quando não se vive inteiramente dela, mas mesmo assim chateia um pouco, porque há espaço para pouca gente e a nível nacional os rendimentos não são assim tantos”. O vocalista defende que “acaba por ser um pouco ingrato, porque a música nacional é muito boa e grande parte dela não é reconhecida”, mas diz compreender que ninguém pode obrigar as pessoas a gostar de algo.

Quanto à possibilidade de o sucesso terminar, Pedro Sousa afirma que já se questionou se o tempo que despendem na banda é bem empregue e acrescenta que já pensaram que podiam estar a investir na área profissional de cada um. “A conclusão é sempre a mesma, pensamos todos: “eu preciso disto senão dou em louco””, declara.

A Banda do Costume lançou, no dia 23 de dezembro, um novo original “Ser Um Só”. O single teve um “processo de produção engraçado”, porque precisavam de mais uma música para concorrer a um festival. Pedro Sousa assume que em ensaios, um dos guitarristas, José Sousa, estava a fazer acordes aleatórios que lhe soaram bem que acabaram por juntar à letra da música que já tinha escrito, em 2019, a partir de alguns versos de uns poemas que teve acesso.

Pedro Sousa interpretou os versos à sua maneira e concluiu que poderia dar uma música com uma “dualidade
engraçada entre amor e desamor”, pois sentiu que tinha dois clichês que se contrariavam e achou interessante poder haver uma “dupla personalidade na música”. Assim, escreveu o resto da letra com o objetivo de transparecer essa ideia. Mesmo na produção do videoclipe, a “ideia foi sempre demonstrar essa dualidade”, ou seja, o videoclipe está cheio de cores, mas em momento nenhum demonstram felicidade. O vocalista da Banda do Costume percebeu que a letra da música estava a ter o efeito que queria inicialmente quando lhe disseram que “tanto podia ser uma música para tocar em casamentos como para cantar em divórcios”.

Pedro Sousa revela que, futuramente, tem um EP a solo para lançar. “Quero cingir as músicas ao que foram os meus sentimentos numa determinada altura da minha vida e gostava que quem ouvisse conseguisse sentir uma continuidade entre as músicas e que percebesse a envolvência do EP”, adianta.

Enquanto Banda do Costume, prometem mais lançamentos em 2022 e já se contam as semanas para o lançamento do novo tema “Força do Querer”. Para os acompanhar, estão ativos nas redes sociais (@bandadocostume) e todos os projetos podem ser ouvidos no Youtube e nas principais plataformas de streaming de música.

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