O poder das pessoas é maior do que as pessoas no poder!

Ainda há esperança. A Superliga Europeia não vai acontecer, pelo menos para já. Os adeptos, jogadores, treinadores e outros intervenientes (ex-jogadores, diversos meios de comunicação, etc.) conseguiram, unidos, mostrar que o futebol é nosso, que o futebol somos nós. Mas será que esta luta acabou? Ou foi apenas a primeira de muitas batalhas?

Por Kevin Santos

 Porquê? Porquê uma Superliga Europeia? Porquê esta ‘urgência’ dos ricos em ficar mais ricos? Porquê lançar esta bomba antes do final da época? Estas são algumas das questões que me foram assombrando nos últimos dias. Felizmente, a Superliga Europeia não vai acontecer, pelo menos num futuro próximo. Mas, afinal, porquê? Bem, a resposta é, e só poderia ser, a UEFA. Os adeptos aliaram-se a esta organização para salvar um futebol que já é envenenado, há muito tempo, por esta e outras organizações. Se acusamos os ‘dirty 12’ pela sua ganância e sede de dinheiro, devemos fazer o mesmo em relação à UEFA, FIFA e as associações, federações e ligas dos vários países.

A Superliga Europeia é, ou seria, o culminar de um processo em que se vai esquecendo o desporto e o dinheiro, como em diversos setores da nossa sociedade, aparece, cada vez mais, no topo das prioridades. Há cada vez menos espaço para sonhos e não podemos baixar os braços, a luta não acabou aqui. Porque a Superliga Europeia não vai avançar, mas a UEFA vai reformulando o formato da Liga dos Campeões e Liga Europa e há cada vez menos espaço para mérito desportivo, competitividade e integridade – ironicamente, os mesmos valores de que falava Aleksander Čeferin, presidente da organização.

O novo formato da Liga dos Campeões, que começará em 2024, vai contar com 36 equipas (mais quatro que as atuais 32) e será o fim do atual formato da fase de grupos. As quatro vagas extra serão preenchidas por: um clube do país que se encontra em quinto lugar no ranking UEFA; o campeão de uma liga interna com o maior coeficiente (entre os campeões não qualificados automaticamente); e duas vagas preenchidas pelos clubes com maior coeficiente, mas que não garantiram qualificação. Ou seja, os ‘grandes’ vencem, mais uma vez.

No atual formato, as 32 equipas dividem-se por oito grupos de quatro. A ‘nova’ Liga dos Campeões vai, na primeira fase, funcionar numa espécie de liga (soa-vos familiar?), com 36 equipas a competir. Porquê? Mais jogos e mais adversários. Ou seja, mais dinheiro. Com o novo formato, as equipas vão jogar mais quatro jogos e defrontarão dez equipas diferentes (cinco jogos em casa e cinco fora). Os primeiros oito classificados garantem qualificação para a fase a eliminar. As restantes vagas serão discutidas em play-offs, a duas mãos, entre os clubes posicionados entrea 9ª e a 16ª posições e os clubes posicionados entre a 17ª e a 24ª posições. Os restantes serão eliminados. A poeira levantada pela Superliga Europeia ‘escondeu’ este anúncio. Um anúncio que explica, em certa medida, os acontecimentos dos últimos dias. A revolta dos clubes, apesar de acontecer por motivos diferentes (“here comes the money…”), tem o mesmo alvo (UEFA e companhia) do meu – e sei que não estou sozinho – descontentamento. 

Com ou sem Superliga, o futebol é, cada vez mais, elitista, sujo e ganancioso. Repudio as ações de Florentino Pérez, mas concordo com ele quando exige maior transparência à UEFA e às outras organizações. Os adeptos deviam exigir isto, deviam continuar a luta. O futebol é nosso! Como pode a UEFA acusar os clubes de ganância e traição? “Ganda moral”, não é, JJ?

Os clubes exigem mais dinheiro, revoltam-se, criam uma competição e ameaçam acabar com o futebol como o conhecemos. A UEFA responde com ameaças de enormes castigos, como banir os clubes das competições e os jogadores das seleções, e coimas de milhões… E quando os clubes desistem destes planos, devido aos protestos, preparam-se para os premiar, distribuindo mais de 4 biliões de euros?  Onde estão os castigos? Ninguém vai sofrer represálias?

Quanto aos clubes… expulsem estes senhores dos nossos clubes, expulsem-nos do mundo do futebol. Acabem com os magnatas, acabem com o futebol negócio. Apliquem a regra 50+1, tal como acontece na Alemanha. O futebol é dos adeptos! E o que (mais) é necessário mudar para salvar o futebol (ou ressuscitá-lo)? Para começar, reduzir custos, “é hora de ter um futebol menos arrogante”. Tal como afirma Rummenigge, “o caminho não pode ser sempre somar mais e mais receita e pagar cada vez mais a jogadores e agentes”, é hora de inverter esta tendência. Seria importante acabar com o VAR, uma vez que não acaba com os erros de arbitragem e traz ainda mais discussão e dúvidas. Para além disso, a tecnologia mata as emoções e a desumanização do jogo não é o caminho a seguir. E, para terminar, a minha crítica mais forte é para o futebol português: Voltem a jogar à bola. Há demasiados apitos e pouca bola. Cada vez se joga mais fora das quatro linhas e cada vez se vê menos espetáculo. 

Será que ainda vamos a tempo de recuperar o ‘nosso’ futebol?

O poder das pessoas é maior do que as pessoas no poder.

Imagem de 7721622 por Pixabay

a