A imortalidade de um ‘artista de circo’

O futebol já não é o que era. Afinal, o futebol nada mais é que um reflexo do nosso mundo. Da nossa sociedade. E, tal como ela, o futebol mostra-se viciado, corrompido, pelos interesses financeiros. O futebol sempre se dividiu entre negócios e desporto. Mas hoje, infelizmente, o desporto já não é o que mais interessa e a paixão desvanece-se cada vez mais.

Por Kevin Santos

O futebol devia ser apenas ‘circo’. Se na Roma Antiga, época do “Pão e Circo”, os artistas de ‘circo’ eram, por exemplo, os gladiadores… Hoje, os nossos artistas são os futebolistas. O futebol não devia ser um negócio, devia ser o desafogo das exigências da sociedade do século XXI. Devia ser o nosso abrigo, como o foi em tempos.

Nos tempos em que o futebol era mais que dinheiro, Diego Maradona tornou-se no ‘artista de circo’ mais poderoso que alguma vez viveu. Não só porque nos presenteou com o seu talento único, mas porque, entre todas as polémicas, também sabia qual era a sua missão: “Si me muero, quiero volver a nacer y quiero ser futbolista. Y quiero volver a ser Diego Armando Maradona. Soy un jugador que le ha dado alegría a la gente y con eso me basta y me sobra”.

Maradona transcendeu o mundo do futebol e tornou-se imortal, um Deus. Um artista incontornável, sem medo de errar (e errou muito). Um artista cuja arte é o futebol. Um artista que ‘pintou’ os relvados com a bola nos pés. Um artista que ‘esculpiu’ os troféus que entregou ao ‘piccolo’ Napoli. Um artista que ‘redigiu’ a mais bela das suas obras em 1986. Os argentinos defrontavam a Inglaterra, o maestro pegou na batuta e conduziu a orquestra argentina às ‘meias’. Nesse jogo, Maradona ‘venceu’ uma guerra (devido às tensões da Guerra das Malvinas) dentro das quatro linhas. Nesse jogo, Maradona ultrapassou meia dúzia de ingleses e marcou o golo do século. E, ainda no mesmo jogo, Deus deu-lhe uma ‘mão’ e ajudou-o a empurrar a bola para o fundos das redes. Num só jogo, Diego Armando Maradona marcava dois golos que ficariam para sempre na história do futebol, ‘vencia’ uma guerra e levava a Argentina às ‘meias’ do Mundial que, alguns dias mais tarde, acabaria por vencer. A consagração de El Pibe. Era esta a magia do futebol.

Espero que o mundo volte a perceber o verdadeiro poder e importância do ‘circo’. Espero que o futebol volte à simplicidade mágica dos tempos em que Dios pisava os relvados. Maradona viverá para sempre. Em Nápoles, na Argentina e um pouco por todo o mundo. Hoje, o homem partiu, mas a sua obra, essa, nunca irá desaparecer. Hoje, o Diego partiu, mas a lenda, essa, é imortal.

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