Música e ciência no Dia do Instituto Politécnico de Viseu

A comemoração do Dia do Instituto Politécnico de Viseu irá assinalar-se a 23 de outubro, no espaço da Aula Magna. Toda a comunidade do IPV e da região é convidada a assistir a um programa que inclui um concerto-conferência “Música e Ciência – Mudam-se os Tempos”, com a atuação da Orquestra Metropolitana de Lisboa e a presença de Carlos Fiolhais. A entrada é livre.

A Aula Magna acolhe no próximo dia 23 de outubro, quarta-feira, a partir das 16h45, uma sessão comemorativa do “Dia do Instituto Politécnico de Viseu”, com o concerto-conferência “Música e Ciência – Mudam-se os Tempos”.

A sessão começa com a intervenção do presidente do IPV, João Monney Paiva, seguindo-se um momento cultural que concilia música e ciência em formato concerto-conferência. “Mudam-se os Tempos” é a denominação deste evento, inserido na iniciativa “Música e Ciência”, que resulta de uma parceria entre a Orquestra Metropolitana de Lisboa (OML) e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.

O primeiro tempo, o da ciência, ocorre com uma reflexão científica do professor Carlos Fiolhais, físico, ensaísta e docente universitário, com o título “De Carl Philipp Bach a Joseph Haydn: Muda a Música e Muda a Ciência”. No tempo da música, apresenta-se a Orquestra Metropolitana de Lisboa, com as obras musicais “Sinfonia em Sol Maior, WQ 173”, de C. P. E. Bach, e “Sinfonia N.º 64, Hob. I/64, Tempora mutantur”, de J. Haydn, sob a direção musical de Marcos Magalhães.

 

Instituto Politécnico de Viseu

Criado pelo Decreto-Lei n.º 513-T/79, de 26 de dezembro, é uma instituição de ensino superior de direito público ao serviço da sociedade, que tem como objetivos a qualificação de alto nível, a produção e difusão do conhecimento, bem como a formação cultural, artística, tecnológica e científica dos seus estudantes, num quadro de referência internacional. Valoriza a atividade de docentes, investigadores e não docentes, estimula a formação intelectual e profissional dos seus estudantes e assegura condições para que todos os cidadãos devidamente habilitados possam ter acesso ao ensino superior e à aprendizagem ao longo da vida.

O IPV participa em atividades de ligação à sociedade, designadamente de difusão e transferência de conhecimento, assim como de valorização económica do conhecimento científico, contribuindo ainda para a compreensão pública das humanidades, das artes, da ciência e da tecnologia, promovendo e organizando ações de apoio à difusão da cultura humanística, artística, científica e tecnológica.

 

MÚSICA E CIÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR

“O ciclo «Música e Ciência» pela Orquestra Metropolitana de Lisboa é hoje uma rotina já bem estabelecida para estudantes do ensino superior, incluindo concertos comentados, em associação com muitas outras iniciativas organizadas pelas instituições, associações de estudantes e outros atores sociais e académicos, assim como a administração local, orientadas para abrir novos horizontes aos nossos estudantes. Mas nunca é demais apelar mais uma vez a todos os dirigentes académicos e estudantis para que se mobilizem e dignifiquem a integração dos estudantes no ensino superior, valorizando espaços autónomos de liberdade, tolerância e emancipação dos jovens, bem como de acesso a ambientes de aprendizagem e de estímulo às novas fronteiras do conhecimento. A dinamização deste ciclo «Música e Ciência» no âmbito da iniciativa EXARP é um exemplo claro da mobilização de que todos precisamos de continuar a estimular”.

Professor Manuel Heitor, Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior

 

Concerto-conferência “Música e Ciência – Mudam-se os Tempos”

A contemplação musical é uma faculdade humana que desperta perguntas e desafia categorias do conhecimento. Ao longo dos séculos, pensou-se que a Música continha a «solução numérica» para os enigmas do universo. Mais tarde, inspirou analogias que permitiram às Ciências Puras expandir os princípios do saber. Juntou-se depois uma consciência social e antropológica, passando também a comprometer as Humanidades. Recentemente, a curiosidade estendeu-se aos domínios da emoção e dos processos cognitivos. Por tudo isto, e cada vez mais, a Música revela-se como um fenómeno interdisciplinar. E que melhor pretexto há para fazer regressar a prática musical (ao vivo) ao contexto académico? Prossegue, portanto, a parceria entre a AMEC/Metropolitana e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, desta vez com concertos-conferência realizados nos Institutos Politécnicos da Guarda e de Viseu e nas Universidades do Porto e de Coimbra. Para lá da comprovada vocação que tem para proporcionar bons momentos de entretenimento e lazer, é tempo de voltar a ouvir o que a Música tem para nos dizer.

Orquestra Metropolitana de Lisboa

 

SOBRE A CONFERÊNCIA

Entre a sinfonia em Sol Maior n. 64 do alemão Carl Philipp Bach (1714-1788), um dos filhos músicos de Johann Sebastian Bach (1685- 1750), que foi composta em Berlim em 1741, na corte de Frederico II, e a sinfonia n. 64 do austríaco Franz Joseph Haydn (1732-1809), composta em 1773, no palácio dos Eszterházy, medeiam pouco mais de 30 anos nesse século extraordinário da arte e da ciência que foi o Século das Luzes. No entanto, as mudanças são patentes na música – passa-se do barroco, onde o pai de Carl Philipp é um verdadeiro gigante, para o período que ficou chamado por classicismo, onde dominam, para além de Haydn outros dois gigantes (que de resto com ele contactaram na Áustria) que são Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) e Ludwig van Beethoven (1770-1827). Do ornamentado que caracteriza o barroco passou-se para um estilo de maior simplicidade e clareza. Mudam-se os tempos, como diz de resto o epigrama latino que está associado à sinfonia de Haydn Tempora mutantur. Como diz hoje o Nobel Bob Dylan “The times they are a-changing”.

A ciência do tempo também muda. No século XVIII dá-se o triunfo do método científico, que Galileu, Newton e outros tinham proposto no século anterior. A mecânica encontra numerosas aplicações bem sucedidas tanto no céu como na Terra. Novos fenómenos – como os da eletricidade e magnetismo – são admirados nos gabinetes de curiosidades, indo o seu estudo desembocar no eletromagnetismo do século XIX. A química aparece a partir da alquimia, sendo claros os progressos no estudo dos gases, que originariam a termodinâmica. A história natural conhece um grande impulso que viria a dar na teoria da evolução no século seguinte.

Em Portugal chega o ensino experimental, com as aulas experimentais dos Oratorianos na Casa das Necessidades em Lisboa em 1750 (ano em que morre Bach pai e também D. João V) e a reforma da Universidade de Coimbra em 1773, por ordem do Marquês de Pombal depois da sua tentativa falhada de criar o Colégio dos Nobres em Lisboa. Entre nós também “the times were a-changing.” Mudanças que vinham de fora e eram por isso mais lentas.

Carlos Fiolhais, Professor de Física da Universidade de Coimbra

 

 

Viseu, 21 de outubro de 2019

 

Joaquim Amaral • Comunicação e Relações Públicas • IPV

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