“As Eleições para o Parlamento Europeu não têm a cobertura suficiente para a importância que realmente têm”

As eleições europeias realizam-se de 23 a 26 de maio. Após a decisão do Reino Unido de sair da União Europeia, o número de eurodeputados diminui de 751 deputados para 701. Portugal volta, no entanto, a eleger 21 eurodeputados. Carlos Couto, representante do Bloco de Esquerda e Bárbara Xavier, candidata independente às eleições pelo Bloco de Esquerda, consideram que o partido está a ser assertivo no que é transmitido. No entanto, no que toca aos órgãos de comunicação são várias as críticas.

 

Qual é o objetivo do Bloco de Esquerda para estas eleições? E o objetivo está a ser atingido?

Carlos Couto: O objetivo para estas eleições é aumentar a representação do Bloco e aumentar a força e a capacidade de intervenção do partido e deste movimento.  A nível da comunicação, acho que o objetivo é conseguir de uma forma simples passar aquilo que é a mensagem e as ideias políticas que o movimento tem e propõe.

Carlos Couto, representante do Bloco de Esquerda

O Bloco está a ter a atenção mediática que pretendia ou está a falhar nesse aspeto? Os jornais poderiam abordar melhor este partido nestas eleições?

Carlos Couto: Pode ser sempre melhor. O Bloco tem a nível de alguns concelhos e distritos alguma dificuldade em que conseguir que as suas propostas, os seus eventos e as suas iniciativas passem nos órgãos de comunicação social tradicionais. Há zonas em que podemos fazer iniciativas, seja com a Marisa Matias ou com pessoas locais, e os órgãos de comunicação social simplesmente não passam. Por outro lado, a nível nacional, a mensagem que passa pode não ser a que queremos, mas o Bloco está presente nos médias nacionais.

 

 

 

 

Qual é a estratégia utilizada pelo Bloco de Esquerdas nestas eleições europeias?

Carlos Couto: o nosso slogan “Lado a lado” diz muito sobre a comunicação que o Bloco pretende para estas eleições. Este “Lado a lado” tem muito a ver com a candidata que é a Marisa Matias, com a lista dos ativistas como a Bárbara Xavier que não é aderente do Bloco, mas é uma ativista do partido. Portanto, acho que a nível da comunicação está a correr bem e o Bloco está a ser assertivo no que pretende transmitir.

 

Quais foram os órgãos de comunicação social e meios digitais utilizados nesta campanha eleitoral? E estes estão a cumprir os seus objetivos?

Carlos Couto: Estão a ser usados os meios tradicionais, ou seja, rádio, televisão e imprensa, mas também as redes sociais. Dentro das redes sociais, a nível local é um trabalho que é feito por ativismos e militância, por isso, certamente que terá as suas falhas porque faz parte.

 

Considera que o Bloco de Esquerda está a ter uma cobertura mediática suficiente?

Bárbara Xavier: Para começar, as eleições para o Parlamento Europeu não têm a cobertura suficiente para a importância que realmente têm na vida das pessoas e no país e acho que isso seria muito importante porque permitiria à população perceber qual é a importância, os objetivos, o porquê de estarmos na União Europeia e terem também uma atitude mais crítica às políticas que são propostas e que são tratadas por lá. Portanto, seria importante haver uma maior cobertura das eleições e da importância do Parlamento Europeu. Especificamente quanto ao Bloco de Esquerda, acho que poderia ser mais noticiado se compararmos com outros partidos. É fácil vermos que a quantidade de notícias é mais pequena e que é, portanto, dado menos espaço para que sejam noticiadas as atividades e qual a proposta da lista do Bloco de Esquerda.

Bárbara Xavier, candidata independente às eleições europeias pelo Bloco de Esquerda

Considera que o Bloco de Esquerda está a ter uma ação proativa em relação à comunicação social?

Bárbara Xavier: Acho que estamos a ter uma posição proativa que passa pelas conferências e eventos que são divulgados, passa pela escolha dos órgãos de comunicação, que notícias passam mais e a quantidade de espaço que é dado a essas notícias.

 

Falha mais dos órgãos de comunicação do que propriamente do Bloco de Esquerda…

Bárbara Xavier: Sim, eu julgo que sim. Parece-me que a divulgação está toda feita nas notícias, todas as atividades são públicas, portanto acho que passa pela decisão dos órgãos.

 

Em relação às redes sociais, considera que estas podem ser uma estratégia eficaz para difundir as mensagens do partido?

Bárbara Xavier: Acho que atualmente as redes sociais são um bom meio para difundir qualquer atividade, seja deste partido como qualquer de outro meio ou área.  Neste momento, as redes sociais têm uma importância gigante, não atingem apenas uma faixa etária sendo completamente transversais.

 

E futuramente provavelmente terão ainda uma maior relevância e as pessoas poderão mesmo se interessar na política por causa delas.

Bárbara Xavier: Sim, acho que isso já se está a notar.  As redes sociais têm um peso muito grande e, esse peso, na minha perspetiva, foi muito rápido e qualquer órgão e instituição está presente nas redes sociais e acredito que vão ser cada vez mais importantes. Mas também acredito que seja necessário, sabendo que elas são muito importantes, termos noção do impacto que elas têm.  E, portanto, também é muito necessário nós termos controlo sobre as mensagens que são transmitidas. É fundamental que estas transmitam apenas mensagens ecológicas e democráticas, não sendo um espaço de promoção de ódio que é o que acontece muitas vezes. Não podemos esquecer do impacto que as redes sociais têm em questões como as identidades de género e nos estereótipos de orientação sexual. E em termos políticos, as fake news são uma arma incrivelmente poderosa e isso foi muito visível em eleições fora de Portugal, mas também em Portugal. As fake news são muito importantes na questão da democracia porque passam mensagens que são completamente erradas e alimentam essa cultura de ódio.

 

As redes sociais têm a vantagem e desvantagem de darem voz a todos, é isso?

Bárbara Xavier: Sim, é verdade. Daí ser necessário explorarmos o pensamento crítico das pessoas, pois se tivermos todos atentos e conscientes se calhar teremos outra postura em relação a todas estas mensagens.

 

Considera que existe uma incompatibilidade entre os media portugueses e o que a União Europeia pretende?

Bárbara Xavier: Acho que era muito importante nós divulgarmos a importância e o papel dos nossos deputados e das nossas deputadas no Parlamento Europeu e perceber qual é o impacto que têm as diretrizes que são feitas na União Europeia e em Portugal nas pessoas e, neste caso, especificamente em Viseu. Os órgãos sociais têm um papel muito importante nisso porque é a partir dos jornais, dos telejornais, das redes sociais que as pessoas sabem as notícias. Portanto, é importante que esses espaços tenham essa informação que referi, de forma a que as pessoas possam pensar criticamente e para além da notícia em si.

 

Considera adequada a distribuição dos deputados pelos respetivos países, neste caso, propriamente Portugal?  É uma distribuição justa ou haveria de haver mudanças em relação a isso?

Bárbara Xavier: A distribuição, na minha perspetiva, não é justa. Isto porque os países com mais poder de voto, automaticamente, estão sempre em vantagem. É preciso que haja um conjunto grande de países “minoritários” em termos de votação, que se agrupem para terem uma votação semelhante, ou seja, estamos sempre em desvantagem seja qual for a proposta. É como começar sempre atrás na pista.

 

O que acha sobre a possibilidade do voto eletrónico? Iria fazer diferença?

Bárbara Xavier: Acho que qualquer facilidade vai potenciar o voto. No entanto, eu sou sempre uma apologista da educação e acho que devia partir muito mais por aí. As pessoas deviam perceber o impacto que isto tem em nós e nas nossas vidas e irem votar por sentirem que têm uma palavra a dizer. Toda a gente tem uma palavra a dizer que é valorizada, portanto, eu preferia que as pessoas fossem votar nessa perspetiva e com uma consciência cívica e responsável. Mas atualmente vivemos numa sociedade onde as pessoas querem facilidades e essa possibilidade iria fazer diferença, mas há que votar com consciência e não de uma forma aleatória. Assim, também é necessário educar porque o voto é uma decisão importante.

 

Agora que falou em educar, nós, jovens, quando temos oportunidade de votar muito de nós acabamos por não ir porque não temos uma orientação política. Acha que, por exemplo, na escola deveria haver uma disciplina ou um espaço para a política?

Bárbara Xavier: Concordo perfeitamente. Devia haver um espaço na escola em que estas questões fossem discutidas. É a partir da escola que formamos os nossos jovens, portanto, se não temos esse espaço na escola é pouco provável haver essa consciência política.

 

O que acontece muitas vezes é só sabermos dos acontecimentos, como as eleições europeias, quando estes estão quase acontecer. De que forma é que isso podia mudar, ou seja, de que forma se podia despertar o interesse para a política?

Bárbara Xavier: Para mim, é mesmo começar pelas escolas e desde pequenos. E não era apenas falarmos das eleições e dos partidos, porque a política não é só isso. Seria incentivar a ter uma consciência política porque não é preciso se ter uma orientação política para se ser uma cidadã ativa. Iria passar também por quebrar estas informações que passam e que são consideradas confusas. Ou seja, passa muito pela educação formal porque é aqui que nos são passados maior parte dos valores.

 

Muita gente considera que votar em branco e não votar é a mesma coisa. Isto não é, de certa forma, preocupante?

Bárbara Xavier: Sim. Mas o problema é que muita gente não vota porque não tem informação. E também o que acontece é que muita gente é direcionada para um partido por causa da família e não porque tem informação sobre esse partido ou sobre os restantes.

 

Acha que o facto de Portugal ter poucos deputados no Parlamento Europeu e, consequentemente pouca relevância, acaba por fazer com os órgãos de comunicação social em Portugal não tenham tanto interesse em noticiar as eleições europeias?

Bárbara Xavier: Acho que a mensagem que não deve pensar é exatamente essa. Acho que temos impacto independentemente do número de deputados, mas acho que essa pode ser uma das razões para a pouca divulgação.

 

Entrevista de Alice Santos, César Silva, Luís Silva, Marlene Moreira e Patrícia Brandão

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