Carnaval de Canas de Senhorim. 309 anos de “luta”

No dia 5 de Março, o Carnaval de Canas de Senhorim traz o povo uma vez mais à rua, no cruzamento da rua principal do bairro do Rossio com a rua que dá acesso ao bairro do Paço. Hoje, o confronto entre os bairros é por uma questão Carnavalesca, mas nem sempre foi assim.

As regiões de Canas de Senhorim, Nelas e Cabanas de Viriato são muito conhecidas quando se menciona a palavra Carnaval. Mas a tradição é o que mais chama o povo às ruas. “Em Nelas o carnaval é mais tipicamente brasileiro. Já em Canas de Senhorim, o Carnaval é mais local e tradicional”, refere Bruno Fonseca – proprietário de “O Francês”, em Nelas.

Tradicional também é a formação do Carnaval da região de Canas. Nasceu de uma diferença social entre os habitantes do bairro do Paço, zona nobre da vila e os habitantes do Rossio, a zona do povo. A rivalidade entre os dois bairros era expressa na “varanda das más línguas, onde se reuniam os idosos todos. Chegavam lá e existia pancadaria”, explica Maria Palmira, moradora de Canas de Senhorim. “Todos os anos íamos para tribunais”, acrescenta. A típica época carnavalesca era a altura ideal para denunciar e criticar problemas mal resolvidos. Ninguém levava a mal.

Atualmente, crianças e adultos, vivem o Carnaval de forma mais alegre, apesar das diferenças locais. É já nó mês de janeiro, no dia de Reis, que começam os preparativos para o grande dia do desfile.

Oficialmente, é no “Domingo Gordo” que se inicia o grande espetáculo. E já na segunda feira, pela manhã, que acontece a Farinhada. Uma caça a todas as meninas que saiam de casa. O perigo de serem enfarinhadas é grande. Segue-se para a cena mais conhecida que é a “2ª Feira das Velhas”. O passado é trazido de volta através de um desfile com roupas a rigor e através de marchas.

O grande dia de terça feira é aguardado por habitantes locais, vizinhos ou até turistas.

As ruas da cidade enchem com pessoas de todas as idades. É dessa multidão que os vendedores, de bolos, farturas e balões, precisam. Consideram que a clientela é essencial e que melhora os negócios a 100%. Os turistas que vão visitar o desfile não são apenas pessoas que compram ou trocam dinheiro, mas os vendedores consideram-se também os próprios turistas de Canas de Senhorim. “Sou natural de São Domingues da Serra, concelho de Castelo de Paiva, por isso já sou um turista do negócio”, menciona Manuel Vieira Duarte, vendedor ambulante de bolos tradicionais. Faz negócio no Carnaval de Canas há 42 anos.

Não é há 42 anos, mas há 309 anos, como declara, de forma alegre, Maria Palmira, moradora de Canas de Senhorim, que o espetáculo carnavalesco acontece. Os habitantes do bairro do Paço e do Rossio levam às ruas duas canções: “A Marcha do Paço” e “O Rossio Adonado”. Genuinamente de terras de Canas, foram criadas para a batalha final – o Despique.  “Quem as fez foi uma senhora que era escritora. D.Natália Miranda que faleceu o ano passado e era daqui da terra. Assim como fez a canção da Mina da Urgeiriça. São sempre as mesmas canções”, detalha Maria Palmira.

A partir deste momento, o trabalho árduo de meses é apresentado. O cruzamento dos dois bairros fica repleto de curiosos. A chuva e o mau tempo não impedem ninguém de assistir durante várias horas à marcha. Os vários carros alusivos a temas do Carnaval circulam nas ruas. Fazem-se acompanhar de várias associações que representam tanto o Bairro do Paço como o Bairro do Rossio. Crianças, adolescentes, jovens, adultos e avançados em idade “vestem-se de histórias de fantasia”. Cantam em alta voz a canção que lhes pertence. O Paço ou o Rossio pode ganhar uma luta de anos, nem que seja a luta da rua. O grupo que mostrar mais entusiasmo e boa disposição é o vencedor do Carnaval. “Quem desistir de cantar é o perdedor. Às vezes dura até à meia noite”, explica Manuel Vieira Duarte, vendedor ambulante de bolos tradicionais.

A quarta feira de cinzas encerra o Carnaval. É realizada a Queima do Entrudo, onde o palhaço do Entrudo é queimado em público.

Com lutas ou sem lutas, a ideia que permanece na cabeça do vendedor Manuel Vieira Duarte é que “o mais pequenino na Vila de Canas de Senhorim é o mais rico do mundo”. A vila tem batalhas populares, mas a intenção das pessoas transporta sempre um sentimento de hospitalidade por todos aqueles que por ali passam.

 

Texto e imagens: Diana Lopes

a