“Quando a cama fica vazia e a luz da capela acende”

A luz fosca da tarde ilumina os corredores do lar Viscondessa de São Caetano em Viseu. Entre o barulho de carrinhos carregados com material de limpeza, e os passos das funcionárias a saírem e a entrarem dos quartos que se estendem por todo o edifício, sobressaem as gargalhadas daqueles cuja atenção se vira ou para a televisão ou para a típica partida de sueca. Completamente alheios ao que se passa à volta, cumprem as indicações do pessoal técnico e vivem um dia de cada vez.

Reportagem de Ana Raquel Pinto, Henrique Soares e Inês Costa

O lar Viscondessa de São Caetano, valência da Santa Casa da Misericórdia de Viseu, presta apoio de 24 horas por dia a cerca de 180 utentes em idade avançada. Alojamento, alimentação, roupas, cuidados médicos e enfermagem, apoio social e um conjunto de atividades socioculturais são exemplos dos diversos serviços prestados pela instituição. Elisa Batista, diretora do lar, reforça essa ideia.

Focada em garantir a melhor experiência aos seus utentes, Eliza Batista não se poupa a esforços quando o assunto são os seus residentes. Em conjunto com uma equipa de cerca de 155 profissionais, a diretora gere a administração do lar e organiza as equipas que são distribuídas por cada setor da instituição, o que leva à necessidade de recrutar novos profissionais e estipular os horários seguidos pelos utentes. “Há sempre um trabalho em equipa, com a saúde, com a parte social e psicológica de forma a conseguir orientar todos os utentes”, realça a diretora do lar.

Uma das profissionais é Cecília Lopes. A trabalhar no ramo há 18 anos, a funcionária do lar cuida das necessidades dos utentes diariamente e envolve-se com eles de forma direta. Para além da forte ligação, Cecília Lopes não esconde o sentimento de amizade que possui com grande parte dos residentes, considerando-os como uma “segunda família”.

Da família criada dentro do lar fazem parte a dona Maria do Céu Barros e a dona Maria Piedade. Cheias de energia, não obstante a sua idade avançada, ambas aproveitam os dias no lar e referem a forma como são bem tratadas. Elogiam não só o pessoal técnico, mas também o ambiente nas instalações que tem “boa gente, boas funcionárias, boas enfermeiras. Não fazem mais porque não podem”, refere Maria do Céu, utente do lar. A boa relação dentro da instituição é também realçada pela dona Maria Piedade.

Conversas sem Bengala

Para além das atividades socioculturais, vários projetos vêm sido desenvolvidos por parte de associações e de pequenos grupos, de forma a desenvolver métodos que permitam uma melhor interação entre os idosos e a comunidade mais atual. “Conversas sem Bengala” é um projeto inovador desenvolvido por Beatriz Saraiva e Sabrina Bento, alunas da Escola Superior de Educação de Viseu.

Com o objetivo da participação de inúmeros idosos num podcast emitido pelo Jornal do Centro, o projeto, desenvolvido em conjunto com a administração do lar em Rio de Loba e com a Universidade Sénior de Viseu, é um verdadeiro sucesso. A iniciativa não só proporciona um momento diferente no dia dos idosos, como também combate a solidão e desenvolve interações entre eles e a tecnologia, o que os ajuda na adaptação a um mundo mais atual e tecnológico. “O podcast surgiu para eles como uma atividade como ir sair. Foi uma nova atividade que não estava na realidade deles”, enfatiza Beatriz Saraiva.

Tal como refere Sabrina Bento, as “iniciativas tentam combater a solidão, e isso é algo bom. Agora tem é que se deslocar mais estes projetos, não só na região de Viseu, mas também alcançá-los noutras partes do país”. Beatriz Saraiva reforça esta ideia.

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