Perfil. Giorgia Meloni, a primeira mulher a liderar um governo em Itália e o regresso do fascismo ao país

O nome de Georgia Meloni está profundamente conectado ao fascismo. Até à data continua a fortalecer amizades e conexões com a extrema-direita europeia e com os eurocéticos. Num país com um negro passado e historicamente centrista, a mesma tornou-se a primeira-ministra da Itália no passado mês de outubro. Esta é a história de Georgia Meloni e os riscos que podem desenrolar-se como consequência da sua ascensão.

Por Diana Duarte

Em sequência da demissão de Mario Draghi, a Itália foi a eleições legislativas no passado mês de outubro. O partido Irmãos de Itália (Fratelli d’Italia, ou FDI,​ na sigla italiana) tornou-se o principal partido do país com um quarto dos votos. É também a primeira vez que a extrema-direita lidera o país, desde que se entende por um país democrático. Numa das eleições com a maior taxa de abstenção dos eleitores, Giorgia Meloni, presidente do partido de extrema-direita, tornou-se a primeira mulher a ser chefe de Governo na história da democracia da Itália com apenas 45 anos.

Apaziguar a comoção fascista

Ao dirigir um movimento político considerado pós-fascista, diversos líderes políticos europeus e muitos italianos expressam as suas preocupações para com o futuro de Itália, da Europa e do Mundo. Ao ser vista como um risco para a democracia, Giorgia Meloni afirma perante a imprensa internacional que “a direita italiana acabou com o fascismo há muitas décadas”. Ao discursar pela primeira vez diante da Câmara dos Deputados rejeitou ainda “qualquer simpatia e proximidade com regimes antidemocráticos, incluindo com o fascismo”.

A mesma deseja tranquilizar o povo italiano com as suas palavras. No entanto, estas são incompatíveis com o seu passado e ações. A nova primeira-ministra italiana, numa entrevista dada quando tinha 19 anos, alegou que Mussolini foi “um bom político” e que “tudo o que fez, fez pela Itália”. A partir daí, a mesma tem tentado divergir-se desta declaração ao assegurar, durante a campanha eleitoral para as últimas eleições, que tanto a mesma como o seu partido lutarão “contra qualquer forma de racismo, antissemitismo, violência política e discriminação”.

A mais jovem mulher a tornar-se ministra

Giorgia Meloni nasceu a 15 de janeiro de 1977 em Roma, Itália. Segundo Meloni, quando estava grávida dela, sua mãe, enfrentando dificuldades financeiras e já em um relacionamento deteriorado com o pai, programou-se para interromper a gravidez, mas desistiu do aborto pouco antes dos exames clínicos. Filha de dois italianos naturais, Meloni acabou por ser abandonada pelo seu pai, um consultor fiscal, quando a mesma ainda era criança. Giorgia Meloni vive em união de facto com o jornalista televisivo Andrea Giambruno, com quem tem uma filha de 7 anos, Ginevra.

Iniciando a sua vida política aos 15 anos, Giorgia Meloni juntou-se à juventude do Movimento Social Italiano, um movimento político italiano neo-fascista, na ala Fronte della Gioventú. Foi em 1996, passados quatro anos, que a mesma se reuniu à Alleanza Nazionale, um sucessor político mais contido, mas ainda assim conservador do MSI. Paralelamente, a mesma trabalhou também como babysitter e empregada de mesa no Piper Club, uma das casas noturnas mais famosas de Roma. Entre 1998 e 2002, Giorgia Meloni foi representante da província de Roma junto do partido. Em 2006, Meloni foi eleita para a Câmara dos Deputados da Itália, pelo AN.

Foi considerada até 2011 a mulher mais jovem a ser ministra ao juntar-se, em 2008, ao partido “Povo da Liberdade” sob a liderança de Silvio Berlusconi. Em 2013, Meloni deixou o partido de Berlusconi para fundar Fratelli d’Italia junto de Gianfranco Larussa e Guido Crosetto, tendo assumido a sua liderança em 2014 até à atualidade. Irmãos de Itália em português instituiu-se como um partido que defende o nacionalismo conservador com um destaque considerável na soberania.

Nas eleições de 2022 e depois das eleições de 2016 e 2018 com resultados modestos, o partido liderado por Meloni alcançou a vitória com mais de 25% dos votos, tornando-se assim a votação mais significativa da história do partido.

Mulher, mãe, italiana e cristã

“Eu sou Giorgia, sou uma mulher, sou uma mãe, sou italiana, sou cristã”, afirmou Giorgia Meloni num discurso que se tornou viral em 2019. Assumindo-se anti-Europa, anti-aborto, anti-Eutanásia e contra os “lobbies LGBT”, a mesma tem como lema “Deus, Pátria e Família”.

Na sua apresentação ao parlamento, Giogia Meloni garantiu que está empenhada em “aumentar os valores dos subsídios por cada filho e ajudar os jovens casais a obter crédito para conseguirem comprar a sua primeira casa”. Assegura ainda que “este Governo de centro-direita nunca limitará as liberdades existentes dos cidadãos e das empresas”. Planeja também “travar as saídas ilegais” de migrantes de África que rumam para a Itália, ao restabelecer a operação Sophia, um patrulhamento aéreo do mar do Mediterrâneo. No entanto, a mesma atesta que não pretende, “de forma alguma, questionar o direito de asilo daqueles que fogem da guerra e da perseguição”, mas sim desfazer redes de tráfico humano.

Muitos politólogos confirmam que Giorgia Meloni encontra-se rodeada de pessoas simpatizantes do fascismo e que sua ascensão política foi fruto de uma campanha mediática que suavizou o seu extremismo de direita.

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