“Capela da música”. Banda Musical de Figueiredo completa 280 anos de história

Decorria o ano de 1741 quando o padre Mendes de Sousa tomou a decisão de criar aquela que anos depois se viria a intitular Banda Musical de Figueiredo. Inicialmente com o nome de “capela da música”, e formada por um grupo de homens com habilidades para tocar instrumentos, surgiu com o intuito de abrilhantar a Festa do Senhor da Boa Morte no lugar de Figueiredo, em Arouca, onde mais tarde foi edificada a capela que até hoje lá se mantém. Atualmente conta 280 anos de existência, o que faz dela uma das mais antigas do país e com uma estrutura diferente da inicial carrega, representada por um grupo muito jovem de 58 elementos e cerca de 33 alunos na escola de música, imensas histórias e tradições com o principal foco na evolução e crescimento mantendo sempre a amizade e bom ambiente pela qual é conhecida.

Reportagem de Ana Margarida Alves

José Barbosa, trompetista, começou a sua formação na banda quando esta retomou atividades em 1995. ”Na altura entrei para a banda, porque o meu irmão mais velho tinha um colega na escola de música e chegou a casa a dizer que queria entrar para a banda. O meu pai disse que se fosse um iam todos e então fomos os três e cá estamos até aos dias de hoje”, relembra o atual presidente, que passou a ser membro da direção desta associação em 2011, inicialmente ocupando o cargo de vice-presidente, onde se manteve por 4 anos, subindo de seguida para presidente. Após uma pausa, durante a qual foi substituído por Jorge Aido, também na altura músico da banda, José Barbosa regressou à presidência com uma equipa que o acompanha há três anos, formando a atual direção da Banda Musical de Figueiredo.

Após a criação da banda em 1741, “esta foi ganhando alguma fama, chamando músicos de outras origens até à banda e esteve em atividade até 1987, ano em que por falta de músicos e dinheiro foi abaixo”, explica o presidente, acrescentando que a coletividade ressurgiu em 1995, pelas mãos de Almerindo Pinheiro e Américo Fontes, professor e maestro, “que com alguns jovens fizeram uma associação de forma a reerguer a banda”, recorda. José Barbosa lembra ainda que, naquela altura, a banda dedicava-se a fazer festas maioritariamente pelo concelho, e completa dizendo que atualmente, apesar de outras atividades, esta funciona maioritariamente à volta de serviços religiosos, sejam estes animação das festas, cantar e tocar de missas ou procissões.

Formação de alunos e atividades recreativas

Atualmente a banda tem vários tipos de atividades, tendo como principal foco a formação de alunos. Para esta tarefa conta com a ajuda de 11 professores dos diversos instrumentos. Para além da formação de músicos, a banda dedica-se a outras atividades de cariz recreativo, adianta o presidente acrescentado: “vamos fazer um arraial de santos populares, estamos a pensar também noutras coisas”.

Até aos dias de hoje, a associação é conhecida também por atividades, como concertos dedicados a diversas causas e para marcar e celebrar diversas datas e eventos. Conta atualmente com um CD e livro que ajudam a ilustrar a sua história.

No ano de 2020, e de modo a contornar as adversidades trazidas pela pandemia, a banda criou uma rubrica intitulada de “À DESCOBERTA”, que consistia num direto transmitido na rede social Facebook, semanalmente, com um convidado diferente todas as semanas. Estes convidados foram diversas personalidades que marcaram e marcam a história da banda e, nestes diretos, eles revelaram curiosidades e história sobre a banda, partilhando um pouco das suas memórias com o público.

Banda Musical de Figueiredo

“Trabalhar todas as peças ao pormenor”

Ao longo dos anos a Banda Musical de Figueiredo teve vários maestros, como o padre Mendes de Sousa, primeiro maestro e criador da banda, Américo Fontes, que dirigiu a coletividade no seu recomeço e alguns anos depois, e o atual maestro Daniel Carvalho. “Isso de dizer que é uma das bandas mais antigas do país é um bocadinho contraditório, porque na realidade somos uma das bandas mais jovens, se olharmos para a idade dos nossos músicos”, graceja o maestro. Para Daniel Carvalho, é um desafio trabalhar com os jovens. “Isso realmente é um desfio muito grande, porque temos de trabalhar todas as peças ao pormenor, todos os naipes, todas as vozes, mas é muito gratificante ver a evolução dos jovens”, sublinha o maestro.

Quando iniciou a sua função como maestro, Daniel Carvalho recorda que ficou com a impressão de que se tratava de uma banda realmente jovem, mas que “precisava de algum trabalho”, sobretudo em termos de equilíbrio. “Havia muitos naipes bastantes reforçados e outros muito débeis e a minha primeira ideia era controlar essas diferenças o máximo possível. Além disso, vendo a minha formação de professor, eu queria criar uma estabilidade, para que um dia que eu deixe a banda ela esteja bem melhor do que encontrei”, afirma o maestro. Para alcançar esse objetivo, Daniel Carvalho tenta acompanhar de perto toda a formação dos alunos: “para além de dar algumas aulas de formação musical, faço um acompanhamento muito próximo da nossa banda juvenil, aliás temos alguns chefes de naipe muito jovens que participam da banda juvenil e eu faço questão de passar sempre que me é possível na banda juvenil, perceber qual evolução dos músicos”.

Daniel Carvalho considera que um dos fatores mais vantajosos para o teu trabalho é o facto de ser professor e de ter começado a dirigir, aos 16 anos, na banda de Bairros, onde iniciou a sua formação musical. Para o maestro, a experiência na Banda Musical de Figueiredo tem sido enriquecedora para ambas as partes, para a banda a nível de aprendizagem musical e para o seu crescimento enquanto maestro.

Ambiente favorável ao crescimento

Os elementos da banda passam uma imagem muito positiva sobre a mesma. Matilde Martins, clarinetista, é um desses exemplos. Iniciou os seus estudos de música na banda há cerca de seis anos e o que inicialmente surgiu devido à vontade de estar com os primos, pois todos frequentavam a banda, acabou por se tornar algo que tenciona levar para a vida. “Inicialmente comecei a aprender com os professores da banda e depois quis seguir formação e agora estou a estudar na escola profissional de música de Espinho”, conta a jovem.

Claúdia Santos e Paulo Ferreira são pais de elementos da banda e fazem questão de estar presentes nas suas performances sempre que lhes é permitido. Ambos concordam que a banda reúne um ambiente muito favorável ao crescimento das crianças e jovens e que tem sido uma mais valia para os seus filhos. Paulo Ferreira admite ser um fã do estilo musical associado à banda, mas evidencia também outros benefícios para os miúdos e para a família: “foi muito positivo para os miúdos, porque estas crianças na idade que tem se não tiverem uma saída, estão em casa nos telemóveis, tablets, computadores, televisão e a banda é uma forma deles saírem de casa, desenvolver amizades e os pais também acabam por sair fazer novas amizades, conhecer outras pessoas, convívios, é o que nós precisamos” concluiu.

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