Há “cegueira de género” nas redações em Portugal

A “cegueira de género” continua a ser uma realidade nas redações em Portugal. É esta a conclusão do I Encontro de Mulheres Jornalistas da ESEV, que decorreu no dia 17 de março, e contou com a participação da jornalista e ativista Paula Sofia Luz, de uma das responsáveis da plataforma Aborda.pt, Analú Bailosa, e da jornalista de desporto da Antena 1, Cláudia Martins.

O I Encontro Virtual de Mulheres Jornalistas, denominado “Chá das Três”, reuniu perspetivas e reflexões em torno das questões de género no jornalismo. No encontro que decorreu na tarde do passado dia 17 de março, esteve Paula Sofia Luz que recordou a sua experiência como diretora do jornal Eco, em Pombal. A jornalista e sindicalista salientou que em muitas iniciativas era ela a única mulher jornalista presente e que foi constante, ao longo da sua carreira, uma certa “discriminação positiva”, que passava, por exemplo, pela condescendência e paternalismo por parte de colegas ou responsáveis de instituições do concelho. “Foi desgastante e muito desafiante”, afirma Paula Sofia Luz, acerca dos seus 8 anos como diretora do jornal.

Os desafios de ser mulher no jornalismo também foram partilhados por Cláudia Martins, jornalista de desporto da Antena 1, que se assume como “uma raridade”, por ser uma mulher numa área tradicionalmente dominada pelos homens. “Nunca tentei ser um deles, mas tentei integrar-me o mais possível”, reconhece a repórter de pista, admitindo que, apesar de ser jornalista há 15 anos, continua a ter de provar o seu valor. “Para as mulheres a margem de erro é menor, há mais exigência e é preciso trabalharmos mais para mostrarmos o que sabemos”, afirma Cláudia Martins, realçando que as oportunidades nesta área não surgem para as mulheres da forma natural com que surgem para os homens: “temos de ser nós a provocá-las”.

Analú Bailosa apresentou o site aborda.pt, que pretende ser a primeira plataforma de jornalismo feminista em Portugal e que será lançada no dia 25 de abril. A estudante de jornalismo revelou que a equipa é constituída apenas por mulheres e que pretende desenvolver este projeto “longe do paternalismo e hierarquia dos media convencionais”, procurando “dar mais espaço a vozes femininas”. O aborda.pt quer ser um projeto de jornalismo alternativo e o seu público-alvo não se esgota nas mulheres. “O nosso objetivo não é estarmos fechadas numa bolha ativista, mas sim amplificarmos o projeto para a sociedade em geral”, afirmou Analú Bailosa.

No final do encontro e depois de escutados os diversos testemunhos, Paula Lobo, investigadora conceituada no âmbito dos estudos de género e membro da comissão científica do evento, concluiu: “é evidente que há uma cegueira de género”.

O I Encontro de Mulheres Jornalistas da ESEV encerrou com a promessa de uma segunda edição para 2023.

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