Covid-19: O que mudou na economia dos restaurantes

O impacto da pandemia é sentido um pouco por toda a economia mundial, mas nunca se viu uma crise tão grande na restauração, como aquela que a Covid-19 deixou no setor. Estima-se que em 2020 as quedas tenham atingido valores entre os 30% e os 50%, segundo os dados da BPstat. Desde o início da pandemia em Portugal, que data de março de 2020, o setor da restauração foi um dos que teve mais medidas e foi um dos últimos a voltar a abrir ao público após os confinamentos. Apesar das promessas do governo, muito foi o desânimo de alguns empresários. Hoje conhecemos a história e como se reinventaram três empresários de Viseu, proprietários dos restaurantes Taberna D. Maria, Prema e deRaíz.

Reportagem de Joana Liz

A cozinha tradicional portuguesa

A Taberna D. Maria, em Viseu, é um restaurante tradicional e tudo o que é servido e utilizado tem marcas do mundo rural. Os clientes tecem comentários positivos, ao espaço que consideram apresentar a melhor cozinha tradicional portuguesa, os melhores petiscos e o melhor acolhimento por parte dos seus funcionários. A taberna abriu portas em 2013 e afirma que se destaca dos outros restaurantes, pois fazem os possíveis para que os seus clientes se divirtam e levem consigo as melhores memórias.

A Covid-19 deixou os donos da Taberna D. Maria desanimados, uma vez que estavam habituados a uma interação direta com o público, todos os dias, no entanto não foi razão para desistirem. O takeaway tornou-se a solução para este restaurante e para muitos outros. A Taberna D. Maria teve a particularidade de surpreender os clientes diariamente, quando lhes chegava uma encomenda e realizava a entrega em casa. “Até cantamos e tocamos os parabéns a alguns clientes”, conta Alexandre Trindade, proprietário do restaurante, que nunca baixou os braços nesta altura tão difícil para o setor.

O mundo vegan na culinária

O Vegetariano Prema foi outro do restaurantes afetados pela pandemia, já que abriu portas em setembro de 2019, cerca de 6 meses antes da covid-19 assombrar o país. O objetivo deste restaurante é criar memórias com pratos sem sacrifício animal, já que em Viseu existem poucas opções para os amantes da culinária vegan.

A pandemia trouxe algumas dificuldades para estes proprietários, nomeadamente o número reduzido de pedidos para takeaway, e para isso criaram uma campanha no site GO FOUND ME, para que os clientes e amigos os ajudassem a ultrapassar as dificuldades e a manter o seu negócio de pé.

“Houve uma queda na faturação e tivemos de nos reinventar, criámos receitas novas e novos ingredientes para além dos que estão na carta”, afirma Leandro Lavanga, proprietário do Prema.

De maneira a ultrapassarem as dificuldades destes primeiros tempos enquanto proprietários de um restaurante, os sócios mostram-se confiantes. “Sempre otimistas e esperamos que este próximo ano nos traga mais clientes e que o nossa negócio volte à normalidade”, afirmam.

As raízes das avós, dos pais e da comida tradicional portuguesa

O restaurante DeRaiz, nasce em Rebordinho, Viseu, com uma cozinha desenhada à medida de quem quer reviver lembranças que pensavam esquecidas, nomeadamente a comida das avós e dos pais.

Inês Beja e Nuno Fonte queriam uma cozinha de verdade e que oferecesse qualidade. O nome do restaurante surge, porque queriam passar a ideia de uma confecção totalmente caseira. “Queremos fazer tudo no restaurante, de raiz e com raízes nas receitas das nossas avós e da cozinha tradicional portuguesa”, refere Nuno Fonte.

“Abrimos o deRaíz em agosto de 2019 e a pandemia veio em março de 2020, recebemos uns clientes vindos do Dubai e foi aí percebemos que nos tínhamos de preparar”, diz Nuno Fonte proprietário e chef de cozinha do restaurante.

Devido à pandemia, durante o ano de 2020 deixaram de ter reservas, algo que não era habitual para os proprietários. Decidiram fechar o restaurante e passado uma semana o governo decretou o confinamento total. Foi neste momento que Inês e Nuno tiveram de se reinventar. Começaram com o pão deRaíz em takeaway, como alternativa a estarem fechados. “É um pão de massa mãe e de fermentação lenta que servimos em takeaway”, explica Inês Beja.

Este foi o momento mais complicado para os jovens empresários, com quedas de quase 40% na faturação. Sustentar o negócio tão recente tornou-se complicado tendo sido pensado o fecho da atividade.

Mais tarde surge um novo desafio e apresentam ao público duas modalidades de takeaway o “Pronto” e o “Quase Pronto”. No caso do “Quase Pronto” dão oportunidade aos clientes de acabarem os pratos em casa, de maneira que não exista uma perda de qualidade ao serem finalizadas no restaurante.

Hoje, quase dois anos após o início da pandemia, Inês Beja e Nuno Fonte referem que ainda sentem que os seus clientes têm receio de sair de casa. No entanto, mostram-se otimistas para este novo ano já que os números da faturação estão quase a voltar à normalidade pré-covid. “Ainda temos um longo caminho a percorrer”, referem.

Tempos difíceis trazem descontentamento à restauração

Apesar de metade dos setores já ter regressado aos níveis pré-pandemia, a restauração é aquele que se apresenta 14% abaixo do nível pré-covid.

Com os custos que são colocados sobre os empresários da restauração, os proprietários mostram-se cada vez mais descontentes. Os clientes não aderem e não se conformam com determinadas medidas aplicadas, por exemplo na semana do Natal e do Ano Novo. “Acho que não faz sentido no dia 24 e 25 ser necessário teste negativo à covid para entrar no restaurante e no dia 26 já não ser preciso”, afirma Carla Correia cliente do restaurante Prema.

Nos últimos 2 meses, a ASAE suspendeu cerca de 40 estabelecimentos por falta de testes e certificados e pela falsificação de alguns documentos que comprovam alta médica ou teste negativo à covid-19.

Estima-se que estas medidas aplicadas desde o início da pandemia, tenham resultado no encerramento definitivo de vários restaurantes. Cerca de 50% de muitos negócios, os chamados negócios familiares, estão a ponderar encerrar portas, segundo dados do Jornal de Notícias.

Os portugueses continuam a demonstrar receio de frequentar estes espaços, não só por se sujeitarem ou a estar vacinados ou a terem um teste covid negativo é cada vez é percetível que os clientes não se habilitam a tal. “Prefiro comprar a refeição em takeaway a ter de apresentar um teste”, afirma Sofia Santos cliente do restaurante deRaíz.

Michelle Moraes, sócia do Prema vê nos seus clientes um descontentamento constante. “Não tenho o mesmo movimento que tinha quando abri o restaurante e mesmo durante o primeiro confinamento a adesão ao regime takeaway foi muito maior.” A empresária apresenta como principal motivo as medidas do governo: “ninguém quer fazer os testes e quando pedimos para apresentarem testes negativos recusam e vão embora”.

A esperança continua

As medidas foram implementadas, um ano depois dos internamentos terem registado números avassaladores. Este ano, com a nova variante Ómicron, os recordes diários de infeções foram batidos. Os empresários esperam que este novo ano de 2022 comece com o pé direito e que os seus clientes voltem a frequentar os restaurantes com o mesmo hábito antes da pandemia. Salientam ainda, que parte da economia de Portugal é suportada pela restauração e muitos dos empregos nascem por causa deste sector. Esperam por isso não serem esquecidos pelo governo e que o receio que vive dentro dos portugueses desapareça para que voltem a deliciar-se com as maravilhas que estes três restaurantes de exemplo apresentam.

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