Aplicação quer combater desperdício, mas parceiros viseenses estão divididos

“Levam-nos um produto de 12 euros e nós só recebemos dois, temos de pagar pra eles e ainda temos de pagar as caixas” afirma Carlos Santos, de 50 anos, atual gerente da pastelaria Horta em Viseu. Aplicação que quer combater o desperdício alimentar e lutar por uma maior sustentabilidade a nível global, divide opiniões pela população viseense.

Reportagem de Ana Miguel e Mafalda Oliveira

Too Good to Go é uma aplicação móvel que liga os clientes a restaurantes e lojas que tem excedentes alimentares não vendidos. Criada em 2015 na Dinamarca, já é usada nas principais cidades europeias. Na procura de uma maior sustentabilidade, em agosto de 2022 mais de 60 milhões de pessoas pouparam cerca de 155 milhões de sacos de alimentos. O principal objetivo dos criadores da Too Good to Go é reduzir o desperdício alimentar em que os clientes podem aproveitar os produtos que restaram depois de um dia de trabalho nos restaurantes, e comprar a comida que eventualmente seria deitada ao lixo a um terço do preço original.

Em Portugal, já foram vendidas mais de 1,8 milhões de refeições, e a aplicação em pouco tempo alcança inúmeros consumidores que se rendem às magic boxes (uma caixa surpresa com excedentes alimentares de restaurantes, pastelarias e supermercados).

Nuno Plácido é country manager da Too Good to Go em Portugal e, em entrevista ao Jornal Dinheiro Vivo, afirmou que “a subida dos preços da energia e dos alimentos face à inflação atual torna a questão do desperdício alimentar, e o seu significado para os orçamentos familiares, mais relevantes que nunca”. No entanto nem todos tem a mesma visão face a este assunto.

Cristiana Paiva de 40 anos, gerente da pastelaria Wolf em Viseu, depois de dois anos de uso da aplicação mostra-se insatisfeita com os resultados e com a forma que a plataforma gere os rendimentos para os fornecedores. Aderiu na pandemia com objetivo de combater os desperdícios e ajudar os próprios clientes, mas neste momento já desistiu de trabalhar em parceria com a Too Good To Go e mostra a sua indignação pela falta de cuidado e consciência por parte da aplicação atendendo às dificuldades que o país passa atualmente.

Também Carlos Santos, gerente da pastelaria Horta em Viseu, se mostra descontente com a experiência que tem vindo a ter com a Too Good to Go e refere, com alguma indignação: “as pessoas esperam pelo final do dia para virem buscar do bom e do melhor a pagar um preço mínimo por algo que também custou a fazer”. O empresário afirma ser a favor da sustentabilidade, mas não consegue esconder o seu desagrado, pelo facto de os clientes não aproveitarem o que o seu estabelecimento “tem para oferecer a um horário normal de funcionamento, porque já sabem que as onze horas da noite vale mais a pena para o bolso deles”.

“Como estudante é uma ajuda fundamental”

Já aos olhos dos clientes e utilizadores a perspetiva é outra. Guilherme Lobo, de 20 anos, estudante da Escola Superior de Educação de Viseu, considera que a Too Good To Go é uma ótima ajuda no combate ao desperdício alimentar e que cada vez mais devia haver campanhas com iniciativas iguais. Refere ainda que “como estudante é uma ajuda fundamental”, porque não tem tanta facilidade financeira como uma pessoa que tem um salário fixo ao mês.

Também Diogo Macedo, de 21 anos, estudante da Escola Superior de Gestão e Tecnologia de Viseu, parte da mesma ideia e afirma que usa e gosta da aplicação.

Confrontado com uma das maiores razões que os trabalhadores viseenses apresentaram como motivo para deixarem de usar a Too Good To Go, nomeadamente a má gestão do dinheiro por parte da plataforma e ainda os gastos exteriores como as caixas, Diogo Macedo mostra-se desiludido, mas não surpreendido.

Yoana André, de 22 anos, estudante deslocada em Viseu, afirma já ter ouvido “falar muito bem sobre aplicação”, mas nunca ter tido curiosidade em experimentar, por não sentir necessidade para tal.  Do seu ponto de vista é uma plataforma necessária, no entanto, revela já ter pensado sobre o caso que muita gente pode esperar pelo fim do dia para obter os excedentes alimentares. “A única coisa que pode prejudicar um bocado é o facto de as pessoas poderem aproveitar da hora para levantarem as magic boxes”, remata Yoana André.

Palmira Sousa, de 56 anos, habitante de Viseu, deixa bem explicita a sua posição acerca da problemática do desperdício alimentar.

O desperdício alimentar em Portugal é uma questão preocupante que carece de atenção imediata. Campanhas de consciencialização, incentivos para a doação de alimentos, melhorias na logística de distribuição e adoção de práticas sustentáveis de consumo são alguns dos instrumentos necessários para enfrentar esta problemática e criar um futuro mais sustentável para todos.

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