“M… de Amor” é o relato da perda pela voz da dor

Natural de Marco de Canaveses, Liliana Mendes de 45 anos, lançou no passado dia 14 de outubro a sua primeira obra: “M… de Amor” da editora Chiado Books. Uma obra que descreve como a “dor e desespero, esperança e felicidade, perda e escuridão, alegria e Amor são sentimentos que vivem dentro de todos nós” e visa homenagear a sua filha que não chegou a nascer. Uma entrevista para compreender um pouco mais da autora, da obra e da sua paixão pela escrita.

Por Ana Moreira

Sendo licenciada em Educação de Infância e exercendo a função de educadora de infância de onde é originário o amor pela escrita?

O amor pela escrita sempre me acompanhou, mais como leitora do que como autora. Ainda antes de saber ler, já gostava de ver as imagens dos livros e imaginar as histórias. Um dos meus odores favoritos é o de um livro novo!

 Depois de aprender a ler e a escrever, rapidamente adquiri o hábito de passar para o papel as minhas vivências e pensamentos. Porém, como era algo muito íntimo, nunca tive o impulso de editar.

Falando um pouco sobre esta sua obra “M… de Amor”. A Liliana demonstra ser uma pessoa muito ligada a emoções e talvez tenham sido estas que a levaram a escrever este livro. Como é que uma mãe após a dor da perda de uma filha, mesmo antes do seu nascimento, consegue arranjar forças para escrever sobre todo o processo que passou? 

A resposta a esta pergunta está na própria pergunta: foi essa dor (e todos os outros sentimentos) que me “assaltou” a alma e o pensamento que me levou a escrever “M… de Amor”.

Escrever o livro ajudou-a a lidar com a dor?

No meu caso, escrever foi a única forma que encontrei para comunicar/desabafar o que sentia. Comunicar, em primeiro lugar, comigo própria, porque durante alguns meses deixei de me reconhecer. Sentia coisas que até então nunca tinha sentido, tinha pensamentos que até então nunca tinha tido, reagia de forma que até então nunca tinha reagido. Foi através da escrita que consegui perceber, entender e assimilar tudo isso. E sim, escrever ajudou-me a aceitar a perda, a aceitar a dor e a fazer o meu luto.

Como é que foi o processo de escrita da obra? O relato que a Liliana dá aos leitores envolve outras pessoas, como é que estas encararam o facto de querer expor a sua história?

Como referi anteriormente, inicialmente escrevia só para mim. Assim sendo, não me sentia preocupada com o facto de fazer referência a outras pessoas.

Depois, quando comecei a pensar em editar o livro, decidi retirar qualquer referência pessoal acerca das pessoas envolvidas (nomes, ou qualquer outra situação possível de identificação).

No entanto, faço referência a duas pessoas, às quais alterei o nome. Fi-lo porque me senti melhor assim.

Tendo consciência de que “M… de Amor” é um relato muito íntimo, é evidente que previamente falei com quem de direito acerca de que pretendia fazer. O que me transmitiram foi todo o apoio e força para seguir em frente, porque considerando todos os aspetos, perceberam que era uma forma de me ajudar e de ajudar outras famílias. Assim, foi com o aval dessas mesmas pessoas que decidi avançar e editar “M… de Amor”. Se assim não fosse, não seria capaz de o fazer.

No entanto, quero referir que Margarida é o nome que escolhemos para a nossa bebé, e esse não fui capaz de alterar…

O que dizer a todas estas mães e famílias que têm de passar pelo mesmo que a Liliana passou?

O objetivo que desejo alcançar é ajudar outras mães e outras famílias que viveram, vivem ou poderão vir a viver situações similares e o que tenho para lhes dizer é que não se sintam sozinhas e não se isolem na dor. É absolutamente normal que se sintam perdidas e imersas em dor e tristeza, mas nenhuma de nós quer que esses sentimentos nos derrotem de tal forma que nos percamos para a vida. E todo o amor que sentimos por aquele/aquela bebé é um amor certamente sofrido e triste…, mas é amor! Há que aprender a viver esse amor.

Agora, depois do lançamento desta sua obra, existem projetos futuros?

Em relação a esta questão, eu gostaria muito de editar outras obras noutro registo. Os projetos existem, agora tenho de trabalhar para os concretizar.

Como a própria autora afirma “este livro é um novo acreditar; é AMOR”. O relato de uma história de amor entre mãe e filha, que nunca se conheceram. O livro já se encontra disponível nas livrarias online. 

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