“É a vontade de ganhar que nos dá aquela sensação de que somos bons em alguma coisa” – jogos a dinheiro quadruplicam em Portugal

De acordo com o estudo publicado esta segunda-feira pelo Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), entre 2012 e 2017 a quantidade de jogo abusivo em Portugal quadruplicou, passando de 0,3% para 1,2%. O estudo foi realizado a partir da análise do Inquérito Nacional ao Consumo de substâncias Psicoativas na População Geral, e concluiu que 96,5% dos jogadores são recreativos, 2,5% são abusivos e 1% são patológicos.

Por Ana Francisca Oliveira e Lea Diogo

Esta análise aborda essencialmente o consumo de raspadinhas e perante estes resultados, fomos recolher a opinião dos viseenses sobre este tema. Rita Almeida, de 25 anos, afirma que não compra raspadinhas e acredita “que seja um bocadinho desperdício de dinheiro” destacando que “é a vontade de ganhar que nos dá aquela sensação de que somos bons em alguma coisa”. Por outro lado, Rosa Menezes, de 55 anos, compradora frequente explica que, na sua opinião, este aumento do jogo abusivo deve-se ao facto “de as pessoas procurarem o mais fácil”.

O estudo feito pela SICAD conclui que a compra de raspadinhas é dominada pelo sexo feminino, o que surpreendeu os jovens entrevistados. Leandro Santos, de 20 anos, declara que “não tinha noção que o universo dos jogadores fosse do sexo feminino, mas sim pessoas que já estão na reforma e do sexo masculino”, e Hélio Albuquerque, de 24 anos, partilha da mesma opinião e confessa que “tinha mais a ideia da faixa etária” como fator de prevalência. De acordo com o estudo, 60% dos jogadores de raspadinha são casados ou vivem em união de facto e pertencem à faixa etária entre os 35 e os 54 anos. Face a esta conclusão, Rosa Menezes confessa que não sabia, mas que não está surpreendida sendo que “as mulheres estão mais tempo em casa, mais desempregadas, à procura de algum dinheiro extra”.

Apenas duas das cinco pessoas questionadas afirmam comprar regularmente raspadinhas, mas todos concordam que a compra das mesmas rapidamente se pode tornar viciante. Maria Figueiredo, de 32 anos, defende “que é um bocadinho preocupante porque a probabilidade de ganhar é muito reduzida, e é quase um vício, cabe a cada um ser responsável por si próprio”. Hélio Albuquerque revela preocupação perante o aumento de jogadores, afirmando que tem visto pelos seus amigos “que cada vez cresce mais como uma forma fácil de ganhar dinheiro, mas que por vezes é um vício”.

O estudo conclui também que um terço dos consumidores de raspadinhas são pessoas com rendimento mensal igual ou inferior a 500 euros. Questionado sobre isto, Leandro Santos acredita que “como as pessoas têm um ordenado baixo tentam jogar raspadinhas para conseguir ganhar dinheiro”. Hélio Albuquerque salienta ainda que “às vezes arriscam tudo, e pelos vistos é pouco, para ver se ganham mais algum dinheiro e ficam mais confortáveis na vida”.

Como são acessíveis a toda a população e tabeladas a vários preços, as raspadinhas tornaram-se o segundo jogo a dinheiro mais popular em Portugal entre 2012 e 2017.

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