Covid-19 traz mudanças à enfermagem portuguesa: as experiências de um profissional na linha da frente

André Monteiro, enfermeiro no hospital de Loures, trabalha com doentes covid-19, desde o início da pandemia. O serviço de infeciologia a que pertence, foi dos primeiros a receber doentes com o novo Corona Vírus. Com a chegada dos primeiros casos foi necessário proceder a uma alteração de rotinas, que afetaram tanto a sua vida profissional, como pessoal.

Por Inês Lamego

O profissional de saúde do hospital de Loures, conta quais são as alterações feitas na sua unidade hospitalar, desde a chegada dos utentes infetados. “São criados circuitos que não existiam. Circuitos de limpos, circuitos de sujos, onde só estariam os doentes”. Utilizam uma fita, para separar as áreas infetadas com doentes covid-19, das não infetadas. Passam assim a “trabalhar em modo espelho, com uma pessoa do lado dentro e outra do lado de fora”, acrescenta.

 O enfermeiro conta que os profissionais de saúde, agora executam todas as funções, para estarem o mínimo tempo possível em cada quarto. “Os médicos, tiram o lixo mudam fraldas, colhem produtos biológicos… e se for preciso os auxiliares dão a medicação”, diz. Passa assim, a existir uma maior interajuda entre os profissionais de saúde.

A segurança individual é o foco de qualquer hospital. André Monteiro explica que os profissionais de saúde “quando entram dentro do internamento, têm um balneário só para eles, para não estarem em contacto com colegas de outros serviços”.  Utilizam EPIS (equipamentos de proteção individual), e tomam banho sempre que se desequipam. O objetivo é tentar haver o mínimo de contacto possível e realizar as tarefas com a máxima segurança.

As mudanças, não só criam alterações no seu trabalho, como também afetam a sua vida pessoal. André Monteiro faz saber que a mulher e os filhos, são sempre motivo de preocupação.  Para evitar contagiar os seus familiares, o enfermeiro revela os cuidados que tem de ter: “Tomo banho antes de chegar a casa, chego a casa troco de roupa na entrada e desinfeto bem as mãos”. Desde o início da pandemia que deixou “de estar com as pessoas mais velhas de ambas as famílias”. Assim, o seu objetivo é minimizar o risco de contágio. O enfermeiro conta que existem colegas dele que foram contagiados, por isso todos os cuidados a ter, são poucos.

André Monteiro informa que “todos os dias há informações contraditórias, seja da forma de abordar o utente, seja da medicação, seja o que temos de fazer. Isto mudou um bocadinho o conceito porque tínhamos algumas certezas que foram alteradas ao longo do tempo”. Os ensinamentos da medicina permitem tratar os doentes de melhor forma. Assim, o medo não deve fazer parte do tratamento. De acordo com André Monteiro, já é suficiente a estranheza que os doentes sentem, quando os profissionais aparecem equipados, como “extraterrestres ou astronautas”.

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