Enfermagem do Centro Hospitalar Tondela-Viseu: “Éramos invisíveis aos olhos da sociedade”

No contexto atual, a equipa de enfermagem do serviço de urgência geral do Centro Hospitalar de Tondela-Viseu deparou-se com inúmeras dificuldades, tanto no trabalho, como a nível pessoal. O novo coronavírus trouxe a todos os profissionais de saúde uma realidade marcada pelo medo e por diversas dúvidas e incertezas.

Por Mariana Silva

Andreia Ferreira, enfermeira do serviço de urgência geral do hospital, diz que, numa fase inicial, o dia a dia no seu trabalho não foi fácil. A equipa sentiu muito medo da situação, o que prejudicou a relação e a “forma de estar e de agir” com os doentes. Assim que recebiam um doente, o medo aumentava pela probabilidade de estar infetado.

A rotina no trabalho não foi o único fator a ser afetado, a vida pessoal também foi bastante abalada. A enfermeira Andreia Ferreira afirma que chegou até a ter dúvidas sobre a escolha da sua profissão. “Isso para mim foi difícil, pois adoro o meu trabalho” diz. Por estar diariamente exposta ao perigo, a enfermeira afirma que, embora se adotem todas as medidas com regularidade, até mesmo depois do trabalho, o receio de infetar algum membro da família atormentava-a. “Além do banho prévio no final do turno, voltava a lavar-me e desinfetar-me e tentava afastar-me deles. O que era muito difícil é que tenho dois filhos pequenos, que vinham até mim, mal chegava a casa, abraçar-me”, explica.

Com o intuito de agradecer e de dar força a todos os profissionais de saúde, foi criado o “bater palmas à janela”. Este ato causou uma mistura de sentimentos à enfermeira. Sublinha que, por um lado, ficou de coração cheio, pois sentiu que as pessoas realmente estavam a valorizar os seus esforços, tanto a nível profissional como a nível pessoal. Porém, também lhe transmitiu “tristeza e revolta” pois garante que sempre cumpriram o seu papel, mesmo antes da pandemia.

Para além do medo e das incertezas, a pandemia também deixou muitas aprendizagens para o futuro de todos. A enfermeira Andreia Ferreira espera que nesse futuro, depois de todos os riscos a que ela e o resto da equipa foram expostos, a profissão seja mais valorizada. “De facto, morreram muitos profissionais de saúde em todo o mundo na prestação de cuidados a quem deles necessitavam, mas a meu ver e com muita pena minha, não vai mudar praticamente em nada a profissão no futuro”, explica.

O novo coronavírus veio para ficar e daqui em diante será necessário adotar todas as prevenções necessárias para evitar um novo pico de infeção.

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