“Indústria do fitness tem vindo a crescer e não dá sinais de abrandamento”

O estado de emergência decretado pelo Governo determinou, com que o sector dos ginásios, que abrange cerca de 539 mil clientes, segundo dados da Associação de Empresas de Ginásios e Academias de Portugal (AGAP), fechasse portas.   Para contornar a situação, a maioria dos ginásios têm-se mantido ativos online, onde disponibilizam vídeos, aulas virtuais e planos de treino. Estivemos à conversa com Hugo Santos, Instrutor/ Personal Trainer na cidade de Viseu, há cerca de 7 meses, que nos deu o seu ponto de vista acerca do paradigma atual da indústria do fitness.

Entrevista por Cláudia Prazeres

Qual o papel do Personal Trainer na mudança de paradigma e na garantia de atingir os objetivos de cada indivíduo?

Muitas vezes as pessoas fazem um treino que viram na internet e/ou um treino igual às outras pessoas, mesmo quando os objetivos são completamente distintos. O Personal Trainer garante que cada indivíduo trabalha para os seus objetivos, em completa segurança, através da realização dos exercícios mais adequados às suas características individuais, de acordo com as suas patologias ou outras limitações. O Personal Trainer prescreve um treino único, específico e individual para cada indivíduo.

Quais são os principais pontos a focar numa rotina de saúde e bem-estar?

Destaco 3 pontos muito importantes: Manter uma alimentação saudável; realizar atividade física no mínimo 3 vezes por semana; cumprir as horas de sono recomendadas, visando um bom descanso e recuperação do organismo.

Quais as maiores dificuldades da atividade de Personal Trainer no momento atual?

Levar as pessoas a aderir ao novo conceito de “treino em casa” ou “treino online”, fazê-las perceber que a situação atual não provoca qualquer impedimento na realização de atividade física e, com acompanhamento e um treino prescrito adequadamente para cada pessoa, é possível dar continuidade ao trabalho para alcançar o objetivo.

Quais as principais diferenças e desafios entre treinar pessoalmente com uma pessoa e acompanhar os treinos à distância?

Principalmente, a ausência de toque muitas vezes utilizado para correção da postura; presencialmente é mais fácil e intuitivo dar um feedback e/ou demonstrar um exercício, já à distância essa demonstração pode não ser tão percetível, devido à menor qualidade de visualização.

Para quem não gosta de ginásio, não tem uma vida desportiva ativa, e agora está a seguir treinos online (de influencers/ aplicações/famosos), acha que são suficientes para alcançar os objetivos?

Não podem ser considerados suficientes ou insuficientes, pois nem sequer são corretos. Como referi anteriormente, esses treinos online são gerais, não específicos às características de cada indivíduo nem adaptados a eventuais patologias ou outras limitações que podem existir. A realização desses treinos sem qualquer tipo de acompanhamento profissional, pode resultar em consequências graves, como lesões. De notar que maior parte desses influencers/famosos não têm qualquer formação nem são especializados na área, não conhecem as bases da prescrição de treino, logo, não faz sentido transmitirem treinos para o público geral. As pessoas devem ter consciência disso, e se querem começar a realizar atividade física, em segurança, devem fazê-lo através da ajuda profissional.

Como vê a quantidade de ofertas de treinos disponibilizados digitalmente? Sente o seu trabalho ameaçado?

Existem dois pontos de vista. Sim, quando são apresentados por alguém que não é profissional da área, porque muitas pessoas não sabem a diferença entre treino com qualidade ou apenas treino e essas sairão prejudicadas; Não, pois muitas vão sentir a diferença entre treinar sozinha e acompanhada, as que sentem necessidade de ajuda, de acompanhamento, vão recorrer a nós, profissionais.

Os sucessivos vídeos e tutoriais de influencers, que praticam atividade física com regularidade, mas não são profissionais do fitness, podem induzir a orientações mal feitas que são tidas como corretas?

Sim, sem dúvida, como expliquei anteriormente.

Na sua opinião, acha que o consumidor consegue filtrar os bons profissionais e pedir ajudar a quem realmente sabe?

Se são formados na área, não há bons ou maus profissionais, mas sim profissionais com métodos diferentes e cada pessoa vai identificar-se melhor ou pior com determinado profissional e o seu método de trabalho. No que toca a filtrar entre profissional e “influencer não formado”, penso que cada vez mais têm as ferramentas necessárias para conseguirem essa filtração, seja por meio de espaços próprios, como os ginásios, ou mesmo através de publicações nas redes sociais.

Que futuro prevê para a indústria do fitness?

Tem vindo a crescer e não dá sinais de abrandamento. Existe cada vez mais informação e as pessoas começam a perceber que realizar atividade física é a primeira linha de defesa e prevenção contra inúmeras doenças. O sedentarismo, ou seja, a inatividade física, continua a ser um dos principais fatores de risco no desenvolvimento de doenças cardíacas. Na mesma medida, a atividade física tem provas dadas na prevenção, combate e melhoria das mesmas. Dessa forma, prevejo um bom futuro para esta área, que vai continuar a ajudar e a melhorar a qualidade vida das pessoas, todos os dias.

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