“A porta da ordenação de homens casados não está fechada”

Um padre do concelho de Felgueiras concorda com a renúncia da ordenação de homens casados e mulheres diaconisas, mas aponta solução para combater a escassez de sacerdotes na Amazónia.

Por Diana Nunes, João M. Ribeiro e Vanda Marques

A Exortação Apostólica do Papa Francisco reconhece que é necessário encontrar formas de garantir os sacramentos da eucaristia e penitência nas regiões da Amazónia, mas não considera que a ordenação de homens casados seja a resposta para o problema. O Papa apela a oração e a incentivação vocacional aos bispos.

André Ferreira, padre há mais de 20 anos, divide o seu tempo entre as quatro paróquias, pelas quais é responsável. O celibato dos padres na Igreja Católica surgiu da “necessidade de disponibilidade total para estar ao serviço da Igreja”, conta o pároco de Felgueiras. Tal necessidade surgiu, igualmente, de um fundamento bíblico em que os filhos de Deus “nem se casam nem se dão em casamento”. Acredita que os padres, da Igreja Católica, não devem casar, mesmo no caso das regiões em que a falta de sacerdotes é uma realidade. Apesar disso, afirma que “a porta da ordenação de homens casados não está fechada”.

O padre de 47 anos mostra-se relutante acerca da não ordenação de homens casados. A realidade é só uma: “sempre houve padres casados na Igreja Católica, senão olhemos para a Igreja Católica de Rito Ortodoxo”. André Ferreira aponta a possibilidade do surgimento desse rito, nas áreas mais remotas da Amazónia e, dessa forma, torna-se possível a ordenação de homens casados.

Também a ordenação de diaconisas está fora de questão. O Papa Francisco não considera necessário a atribuição deste cargo a uma mulher, valorizando o seu papel desempenhado, ao longo do tempo, na transmissão e preservação da fé. “Na Amazónia, há comunidades que se mantiveram e transmitiram a fé durante longo tempo, sem que algum sacerdote passasse por lá… Durante séculos, as mulheres mantiveram a Igreja de pé nesses lugares com admirável dedicação e fé ardente”, afirmou o Papa.

O padre André declara que, no passado, a mulher era incluída em atividades da igreja e considera o sexo feminino o “motor essencial para o crescimento da Igreja, no seio da família, no anúncio da palavra, no ensino, na catequese, na caridade, e até no governo económico das comunidades eclesiais”.

As propostas em questão seriam uma evolução histórica no seio da Igreja Católica. E André Ferreira não tem dúvidas; a Igreja Católica “há-de encontrar o seu caminho, no tempo e na história para se adaptar aos novos tempos, nunca esquecendo o que lhe é essencial, o anúncio da pessoa de Jesus Cristo, para todos os tempos e lugares”. O segredo é depositar confiança no Espírito Santo “que sempre conduziu a Igreja”.

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