Trance Therapy Sessions: o projeto que trouxe a cultura do trance para Viseu

O trance é uma das principais vertentes da música eletrónica que emergiu no início da década de 1990. Para além do trance como vertente da música eletrónica, existe o movimento do trance que gira à volta de uma ligação à cultura oriental e às religiões budistas e hinduístas.

Por Cristiana Paiva

Este género musical é considerado uma subcultura que defende valores como liberdade individual, a defesa da natureza e a ligação à espiritualidade.

Começou por ser um fenómeno local, no entanto, transformou-se num movimento global, que tem aumentado cada vez mais. Atualmente, as festas de trance realizam-se quase todos os fins-de-semana, de norte a sul de Portugal.

Apesar de muitas das festas serem indoor, a maior parte das mesmas, tendem a realizar-se ao ar livre, o que favorece uma maior ligação com a natureza.

“Nas festas indoor sinto-me em casa, é um ambiente muito acolhedor onde se concentram boas energias. Em festas ao ar livre, a natureza, a água e a terra transmitem igualmente boas vibrações, há uma maior sensação de liberdade” afirma Sérgio Gregório.

Para além de favorecer o contacto com a natureza, as festas costumam realizar-se em locais afastados dos centros urbanos, como serras e florestas, com o objetivo de distanciar grupos indesejados, que não pertencem a este movimento e ao espírito do trance.

Sérgio Gregório, adepto de festas de trance, afirma que “muitas pessoas têm vidas que lhes causam muito stress, devido ao trabalho, à rotina, às obrigações, entre outros problemas, e quando vão a festas de trance, conseguem atingir  paz de espírito, saem da rotina, conseguem-se divertir, obter boas energias, fugindo, desta forma, aos problemas do quotidiano”.

“As festas servem como uma terapia. Não há julgamento, as pessoas aceitam-nos tal e qual como somos” afirma Abigail Torres, também adepta das festas de trance.

A divulgação das festas é feita entre as pessoas, mas também através da internet e de flyers distribuídos em festas anteriores. A maior parte dos amantes do trance, conheceram este movimento através de outras pessoas.

A decoração das festas tem como principal objetivo promover uma experiência psicadélica, o que é conseguido, principalmente, através da utilização de cores fluorescentes e do uso de luz negra. Muitas vezes, as decorações recorrem a imagens religiosas, nomeadamente, hindus e budistas, e algumas estão também relacionadas com a deusa Shiva.

“Parece que tudo à nossa volta influência o nosso estado de espírito, desde as pessoas, o som, o ambiente, as cores e as luzes” afirma Sérgio Gregório.

Nas festas de trance, as pessoas conseguem facilmente estabelecer relações entre si, como afirma Sérgio Gregório “é um ambiente mágico em que todas as pessoas se sentem livres, nostálgicas, sentem-se atraídas pelas boas energias das pessoas que as rodeiam, o que leva as pessoas a estabelecer laços entre elas”.

Em Viseu, está sediada a Trance Therapy Sessions, uma organização dedicada à produção de eventos de música eletrónica alternativa, que destaca principalmente a vertente do trance.

Este projeto surgiu em 2015 e, depois de ter ficado suspenso durante 3 anos, voltou ao ativo em novembro de 2018. 

O criador e mentor deste projeto é Francisco Lopes, responsável pela organização e gestão dos eventos, desde o contacto com os artistas à sua contratação. É responsável também pela comunicação, pelo marketing, pela gestão das redes sociais, pela gestão económica e financeira de cada evento e, ainda, pela decoração, montagem e preparação do espaço de cada evento.

“Este projeto nasceu pelo facto de nos termos apercebido que não havia ninguém, nesta região, a dinamizar eventos desta natureza” afirma Francisco Lopes, o criador do projeto Trance Therapy Sessions, reforçando que “como tal, decidimos arriscar e tentar perceber se havia público que justificasse a realização deste tipo de iniciativas, algo que se veio a confirmar, após a realização do primeiro evento”.

 Esta organização, para além de ser constituída por Francisco Lopes, é também formada por Cécile Placial, artista e principal responsável pela criação da decoração que é apresentada em cada evento realizado.

O local em que as festas da Trance Therapy Sessions se realizam é no ICE Club Viseu, uma vez que, este espaço disponibiliza todas as infraestruturas necessárias para a realização deste tipo de eventos. 

“A nível de artistas, tentamos estar sempre a par das tendências e trabalhar com os artistas mais trendy do momento, de modo a cativar o maior número de pessoas possível. Para além disso, também procuramos sempre novos artistas, de forma a podermos dar oportunidade a todos aqueles que queiram mostrar o seu trabalho” afirma Francisco Lopes.

Todos os eventos têm temas diferentes, o que reflete uma nova decoração, completamente diferente da apresentada em eventos anteriores. Francisco Lopes afirma que “somos fortemente influenciados por temas gerais como o universo e a natureza, pelo que a nossa decoração reflete sempre essas influências e é toda feita à mão por nós, de modo a criar ambientes únicos e personalizados”.

Para além das festas realizadas às sextas-feiras, as “Trance Therapy Sessions”, existem também as festas “Therapy Time”, eventos realizados a preço “low-cost”. A ideia destes eventos, realizados às quartas-feiras, tem como objetivo “abranger o público estudante universitário, que não é o nosso público-alvo, porque a maioria dos estudantes regressa a casa aos fins-de-semana” afirma Francisco Lopes.

A grande adesão das pessoas aos eventos organizados pela Trance Therapy Sessions foi notada logo na primeira festa. “Inicialmente, sabíamos que tal se devia ao facto de estes eventos serem uma novidade na cidade” afirma Francisco Lopes, adicionado que “acreditamos que continuamos a atrair pessoas porque fazemos festas diferentes do habitual, dando grande importância e valor a todo o público que nos acompanha”.

O mentor deste projeto acredita que a adesão mantém-se bastante significativa, uma vez que, “a qualidade das nossas festas é bastante superior a outras que se realizam pelo país, e temos noção que o nosso público se apercebe disso e valoriza todo o trabalho que temos”.

A organização tem como principal objetivo “colocar Viseu no mapa dos eventos alternativos eletrónicos” e ainda “tornar esta cidade num ponto de referência, incentivando e motivando outras pessoas a desenvolverem ideias e projetos que possam ter” afirma o criador do projeto.

As maiores dificuldades da organização estão relacionadas com o facto de Viseu ser uma cidade onde o poder de compra não é muito elevado, desta forma, é necessário realizar eventos com preços mais acessíveis, o que “apresenta dificuldades ao nível da rentabilidade dos eventos, atrasando assim, o crescimento da organização” conclui Francisco Lopes.

Para além de ser criador deste projeto que é a organização Trance Therapy Sessions, Francisco Lopes também é DJ. No mundo da música trance, apresenta-se como Anti-Moon.

Francisco afirma que a escolha do nome artístico se prende ao facto de “a lua transmite-me muita paz, calma e serenidade, mas, quando misturo música, perdendo transmitir exatamente o oposto disso, daí o prefixo “anti””. 

O seu primeiro contacto com o trance foi em 2011, contudo, só começou a misturar música na altura em que decidiu criar o projeto das Trance Therapy Sessions, no ano de 2015. Estreou-se, como DJ, na primeira festa das Trance Therapy Sessions que organizou. Afirma que não gosta de se prender a estilos musicais, dessa forma, tenta abranger um pouco de todos os estilos da música trance.

O DJ afirma que quando olha para a plateia a dançar ao ritmo da sua música tem uma sensação indescritível de felicidade e bem-estar, ao ver que o público é recetivo às suas escolhas musicais e que se sentem também felizes por estar a partilhar esses momentos com ele. “Não trocaria essa sensação por nada deste mundo!” afirma Francisco Lopes.

 “O trance é um estilo e modo de vida, representa uma maneira particular de estar na vida, em que nos tentamos conectar mais profundamente com aqueles que estão à nossa volta, sempre com um sorriso na cara e tentando sempre esquecer os problemas do dia-a-dia” esclarece Francisco Lopes.

Por fim, afirma que, em relação ao projeto da organização Trance Theraphy Sessions, espera “continuar a crescer e começar a desenvolver o nosso trabalho noutros pontos do país, bem como realizar eventos de maior dimensão, ao ar livre”.

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