Ver. Às Cegas

Ver a obra de Vasco Fernandes, célebre Grão Vasco, às cegas, é mais uma iniciativa do Museu Nacional Grão Vasco e do Teatro Viriato, a decorrer desde o início do ano. Uma criação de Leonor Barata, que conta com a interpretação de José Figueira, invisual.

Por Filipa Jesus

A venda escurece a sala e a visão é inteiramente anulada. Arrepios, hesitações e incertezas invadem a atmosfera da visita. Leonor Barata, e José Figueira traçam os limites do espaço, manipulam o tempo e criam as obras de arte com a descrição de pequenos detalhes.

Uma experiência que dispensa a visão, mas que intensifica a pureza de todos os outros sentidos. A realidade de José Figueira foi delineada ao mais pequeno pormenor. Um espaço que encolhe e um tempo que se estende. A impossibilidade de ver, distorce completamente a perceção do que é tempo e espaço.

Texturas, sons, cheiros propagam-se pelas várias salas. O público viaja pela vida de Jesus, desde o seu nascimento até à sua ressurreição. A narração de Leonor Barata e de José Figueira acabam por pintar aquela que é a obra do memorável Grão Vasco, o antigo retábulo da capela-mor da Catedral de Viseu.

A imaginação guia o percurso da visita, com a constante recriação das pinturas, em que cada um concebe uma imagem de cada peça apresentada. São vários os desafios que são propostos, desde cantar até sentir peças e texturas.

A retirada da venda traz a realidade de volta e as peças imaginadas ganham forma, cor, textura e limites, opostos à perceção criada com a venda.

Ver. Às Cegas. Uma experiência que nos envolve entre os mais diversos pensamentos, até ao contacto cru com a realidade.

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