Se Rio subir até ao fim, Costa ou descola ou é engolido

Precisamente quatro anos depois das últimas, aproximam-se as eleições legislativas no próximo domingo, dia 6 de outubro. Será mais um julgamento do povo português expresso nas urnas em relação à realidade visível e aos acontecimentos da última legislatura. Na minha opinião e na de muitas pessoas, foi uma legislatura singular, uma das mais particulares da nossa democracia e sobretudo perita em cambalhotas.

Por Jorge Afonso

No início da mesma, à esquerda tínhamos um Partido Socialista frágil derrotado em eleições e que um fresco Bloco de Esquerda e um consolidado Partido Comunista Português tiveram a iniciativa de pôr fim ao que consideravam as “duras políticas de austeridade da direita” ao formar um bloco maioritário no Parlamento para a estabilidade governativa, mas com o passar do tempo não só se sentiu que a austeridade não tinha acabado, como passou a ser o PS a ficar com os créditos de alguma devolução de rendimentos, descida do desemprego e redução histórica do défice público e os dois parceiros externos de governação(nomeadamente o PCP) a ficarem reduzidos apenas aos seus protestos por não haver mais coisas boas e por vezes, a terem o papel reforçado de serem oposição para além de parceiros do executivo.

À direita tínhamos uma oposição saudosista por parte do PSD(que não aceitava a realidade de ter passado à oposição) e criativa por parte do CDS(pois fora o único que não tinha ficado preso ao passado recente), mas que com o tempo se tornou nula pelo facto do PSD ter desgastado muito do seu tempo em guerrilhas internas pela liderança e após a eleição de Rui Rio houve muitas acusações de ser uma oposição frouxa e de querer um putativo bloco central com o PS e o CDS foi ficando para trás(como se viu nas eleições europeias) por vezes fazendo uma oposição só porque sim e gritando sem efeitos, pois tudo o que se passava de mal na saúde, educação, agricultura, finanças e variados casos polémicos à volta do Governo não tinha qualquer efeito nas sondagens e no espírito do executivo.

Vale até a pena dizer que, nestes últimos seis meses a liderança de Rui Rio foi ficando mais forte e coerente aos olhos das pessoas do que a de Assunção Cristas que foi ficando para trás, entre outras coisas por se referir apenas ao eleitorado do centro-direita, ao contrário de Rio que procura buscar votos ao grande centro, tanto à esquerda como à direita e sobretudo por concordar com os adversários quando tem de ser, o que só passa às pessoas uma imagem de entendimento, independência e honestidade.

A última cambalhota mais recente é a dos dois partidos do “centrão”, com o PS a aplicar uma austeridade invisível que juntando à devolução de alguns rendimentos, crescimento do emprego e descida total do défice, dá a António Costa a imagem pouco comum de Primeiro-Ministro socialista muito rigoroso nas contas(roubando totalmente discurso a PSD e CDS). O PSD(o CDS também um pouco) viu em cima dos seus ombros sempre a carga simbólica da austeridade e depois qualquer proposta relacionada com baixa de impostos sem querer tocar nos benefícios sociais e fiscais é logo colada ao despesismo (muito ligada ao PS do passado recente).

Mas o que fica agora na reta final da legislatura e depois desta campanha eleitoral, é a diferença que os debates e arruadas fazem na nossa tendência de voto. O PS passou de sondagens a dar quase maioria absoluta a resultados à tangente depois do desgaste de várias polémicas (Tancos e familiares) e o PSD do seu quase esvaziamento devido a uma oposição nula, a resultados mais taco-a-taco devido a propostas mais impactantes. Como digo no título, se Rio crescer até ao fim, Costa ou descola ou é engolido.

Temos agora uma reta final que chama mais a nossa a atenção devido a esta incerteza quanto ao vencedor e acho sobretudo muito importante saber, qual será a terceira força política. O Bloco, a CDU ou o CDS vão ficar com todos os focos em cima de si, se ficarem em terceiro e com uma percentagem entre os 9% e os 11% sobre se farão ou não uma aliança com o partido vencedor para a estabilidade governativa e o que dos três ficar em 5º com um resultado entre os 5% ou 7% vai ficar com a liderança ameaçada, sem dúvida alguma. O PAN irá em principio renovar o seu grupo parlamentar devido ao seu discurso cativante e por vezes populista e veremos se partidos como Livre, Aliança, Chega/Basta ou Iniciativa Liberal se irá juntar ao partido de André Silva na lógica do rompimento da tradição que vigorava desde 1999 dos 5 partidos(PSD, PS, BE, CDS e PCP/PEV).

No cômputo geral, em termos de propostas temos o Governo atual que com certos ajustes nos oferece continuidade, o centro-direita oferece descida de impostos, mais investimento nos serviços públicos e manter o incentivo ao investimento privado, a extrema-esquerda vai reclamar o que não conseguiu na perfeição nesta última legislatura nomeadamente salários mais elevados e combate às desigualdades e do PAN espera-se só a continuação do seu combate pelos animais, alimentação vegan e oposição às touradas. Destaco acima de todos Rui Rio, porque ao contrário de Costa, Cristas, Catarina, Jerónimo e Silva que falaram maioritariamente para pessoas ligadas às suas cores e ideologia, Rio falou para o país em geral, propõe reformas profundas e necessárias na justiça, comunicação social e sobretudo foi o único político no ativo que entendeu que este regime chegou a um ponto de esgotamento e necessita de uma revitalização. Juntando a isto o seu rigor em contas já demonstrado na Câmara Municipal do Porto e não cedendo ao populismo, Rio passa a ser um excelente candidato a Primeiro-Ministro a meu ver.

É unânime por todos os partidos o combate às alterações climáticas, é provável o retorno da questão da eutanásia e se virmos um fracasso das políticas de descentralização, poderá ser marcado um novo referendo à regionalização. Todas são questões diferentes, mas admito sem problema que embora reconheça a legitimidade da aprovação de uma questão social fraturante (eutanásia) ou económico-social(regionalização) por referendo ou por aprovação no Parlamento se estiver no programa de algum partido, prefiro o referendo. Porquê? Porque questões como aborto, eutanásia, casamento e adoção homossexuais, legalização de drogas, touradas, regionalização do país ou restrição de imigração são tudo questões que ultrapassam os partidos políticos e perguntar ao povo é sempre mais justo a meu ver, embora seja preciso saber fazer campanha e saber ler os resultados.

Independentemente do partido que vença e de quem o auxilie no poder, gostaria de ver nesta próxima legislatura menos casos polémicos, carga fiscal diminuída, dívida pública a não crescer mais e começar a ver mudanças estruturais para o nosso funcionamento enquanto Estado e não dar mais importância a questões secundárias.

Quero também referir que um fator muito importante para PS ou PSD ganharem e CDU, CDS e BE lutarem pelo terceiro lugar é a geografia em que apostam. Os dois grandes têm de se aguentar bem e liderar as duas grandes áreas metropolitanas(Lisboa e Porto), ter um excelente comportamento no Minho(Braga e Viana do Castelo), consolidar-se e procurar crescer na área mais conservadora do centro do país tanto a litoral(Aveiro e Leiria) como no interior(Viseu e Guarda), segurar Trás-os-Montes(PSD) e o Alentejo e Península de Setúbal(PS) e lutarem pelo eleitorado mais ao centro de distritos como Coimbra, Santarém e Faro. Esta receita para a vitória juntando as habituais surpresas que podem surgir em algum distrito ou ilha, também servem os partidos mais pequenos para a luta pelo 3º lugar.

Termino este artigo dizendo que é mais uma vez que irei votar, são as sétimas que voto desde que tenho idade para tal(18 anos em 2013) e as segundas legislativas. Voto sempre por convicções fortes, ideologia e competência dos candidatos, nunca me abstive e assim me pretendo manter. Costumo dizer que só se estiver em coma é que não voto! Deixo um apelo final a todos os meus leitores, colegas, professores, amigos, familiares etc… a que não se abstenham nestas eleições legislativas, pois é a nossa vida que está em causa.

Digo sempre que quando decidimos não ir votar porque é inútil, no dia seguinte só temos um direito… o de ser gozados porque permitimos que os outros decidissem por nós. Nunca o façam!

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