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Voluntariado. Conjunto de ações de interesse social e comunitário realizadas de forma desinteressada por pessoas, no âmbito de projetos, programas e outras formas de intervenção ao serviço dos indivíduos, das famílias e da comunidade desenvolvidos sem fins lucrativos por entidades públicas ou privadas. A definição consta da Lei n.º 71/98, de 3 de Novembro. Mas, afinal, quais as motivações que levam alguém a tornar-se voluntário?

Cátia Figueiredo, educadora social, e voluntária no Banco Alimentar Contra a Fome, considera que um voluntário é ” alguém que cede parte do seu tempo em prol do melhoramento das necessidades de outros e/ou das comunidades”.

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Para a jovem educadora, “a alimentação é um bem essencial para todos, contudo devido a vários fatores, infelizmente nem toda a gente tem possibilidade de ter um despensa cheia” e o “banco alimentar ajuda a que bens essenciais cheguem a quem mais precisa. É um auxílio para que mães consigam colocar comida na mesa dos seus filhos. E é a pensar nas famílias carenciadas e nos idosos sem possibilidades ou com reformas muito baixas” que as ações de voluntariado do Banco Alimentar são para Cátia uma ajuda de grande valor e que como educadora social já presenciou “alguns casos reais e a vontade de ajudar e de ceder” parte do seu tempo a fazer voluntariado ajudou-a “a crescer e evoluir enquanto pessoa e como profissional”. A experiência da jovem nas iniciativas do Banco Alimentar correram de forma cordial e foram muito recompensadoras, segundo a jovem que considerou ser muito “gratificante receber um saco de alguém após as suas compras com um bem, alimentar, que servirá para ajudar o outro. O espírito de entreajuda que se presencia nestes dias faz acreditar que são estas ações que nos levam a um mundo melhor onde a maioria gosta de ajudar o próximo independente das suas necessidades”.

As campanhas concretizadas pelos Bancos Alimentares Contra a Fome são muito variadas e têm como principal finalidade recolher alimentos e outros bens para pessoas e instituições carenciadas. No fundo, tudo se prende com a missão das instituições que procuram diariamente arranjar forma de combater o desperdício alimentar procurando assegurar alimentação aos que mais precisam, de forma gratuita.

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O Banco Alimentar dá apoio a várias instituições e famílias, tendo estas de comprovar que não têm possibilidades financeiras. Para o efeito, esta iniciativa recolhe e distribui toneladas de produtos alimentares durante todo o ano. De acordo com os dados disponíveis na página da Internet desta instituição sabe-se que a distribuição dos mesmos abrange já “mais de 390.000 pessoas”.

Em Viseu, o protocolo para a criação desta associação na cidade foi assinado em setembro de 2009, quando a Presidente da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares Contra a Fome, Isabel Jonet, aprovou que a Associação Para a Ajuda Solidária de Viseu se tornasse no Banco Alimentar Contra a Fome de Viseu.

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Andreia Almeida integra o Banco Alimentar e é estudante do 3.º ano no curso de Ciências Biomédicas Laboratoriais, na Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra. A sua primeira vez como voluntária foi “um pouco às escuras”, uma vez que “não sabia como devia agir, o que fazer”, de que maneira dirigir-se às pessoas, acrescentando ainda não saber como é que se iria sentir e se se identificaria “com o ser voluntária”. “O facto de estarmos realmente a ajudar quem mais precisa faz com que o voluntariado seja um processo natural e completamente espontâneo. O sentimento que se tem ao fazer voluntariado não é explicável, apenas faz sentido” exclamou por fim a jovem.

“Dias mais enternecedores”
A Associação das Aldeias de Crianças SOS é uma corporação a nível nacional e internacional. Os estatutos desta associação, em Portugal foram aprovados em 1964, no dia 25 de março. Este projeto conta com a existência de 533 Aldeias de Crianças SOS por todo o mundo.

Em Portugal, as Aldeias de Crianças estão localizadas na Guarda, em Vila Nova de Gaia e em S. João do Estoril. Contudo, contam ainda com a ajuda de um Centro Juvenil em Rio Maior e com o Programa de Fortalecimento Familiar em Cascais.

Segundo o site da instituição, a principal missão desta associação é apoiar crianças desamparadas procurando incorporar as mesmas num ambiente familiar. Esta associação existe já em 133 países, onde as pessoas envolvidas nesta iniciativa acompanham “crianças e jovens que se encontram em situação vulnerável, com o objetivo de promover o seu pleno desenvolvimento e autonomia, através do acolhimento, prevenção e do fortalecimento das suas redes familiares e sociais” de acordo com a página oficial da associação.

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Joana Martins, uma jovem viseense de 17 anos e a concluir o 12.º ano, decidiu ajudar esta causa e realizou voluntariado na Aldeia de Crianças SOS na Guarda em 2015. Numa pequena entrevista a jovem contou a “experiência fantástica ” que foi ser voluntária nesta instituição e que se concretizou num “curto período de tempo e na época de Natal o que tornou aqueles dias mais enternecedores”.

Questionada sobre o que é a que a levou a fazer voluntariado, tanto no Banco Alimentar Contra a Fome, como nas Aldeias de Crianças, Joana afirmou que quando o fez pela primeira vez, no Banco Alimentar, isso deve-se à iniciativa de amigos que eram voluntários. “Voltavam sempre com um ar de satisfação e a afirmar que era uma experiência muito boa”, recorda a jovem, acrescentando que aquilo que movia os amigos e que passou a movê-la também foi o facto de saber que estavam “a fazer alguma coisa que pode ajudar os outros e que de nós pede apenas um ligeiro esforço”.

Ao chegar à Aldeia SOS, a jovem foi invadida por “um misto de sentimentos”. Ansiedade, receio, angústia, nervosismo. “O desconhecido com o qual me deparava deixou-me sem saber muito bem por onde começar e o que fazer, mas com o aparecimento das crianças, com o início do desenvolvimento de uma relação de amizade mas ao mesmo tempo respeito e incerteza, com elas as coisas foram-se tornando mais fáceis e o modo como passámos a reagir às suas intervenções foi-se tornando cada vez mais natural”, recorda Joana Martins.

Contou ainda que “a forma como as crianças falavam das suas histórias de vida difíceis” marcou-a e quando se veio embora. “Posso dizer que vim com o coração cheio, com o sentimento de dever cumprido, a pensar que contribuí para facilitar e tornar um pouco mais felizes os dias daqueles meninos e meninas”, sustenta. De acordo com Joana, a experiência consistiu na realização de “várias atividades com as crianças. Desde dinâmicas para nos conhecermos, jogos tradicionais, atividades que elas próprias sugeriam, à reabilitação de algumas das salas daquelas instalações em que as próprias crianças se prontificaram a ajudar”.

Para Inês Almeida, estudante do 2.º ano de Fisioterapia em Viseu, ser voluntário é uma “das experiências mais enriquecedoras para o ser humano”. Como voluntária, durante alguns dias nas Aldeias SOS na Guarda, a jovem contou que foi uma “prova muito especial e tocante” afirmando ainda que “magoa pensar como é que se pode magoar e desiludir seres tão pequeninos e puros como são as crianças”, questionando-se com o facto de ouvir “histórias de adultos da boca de crianças”. A futura fisioterapeuta ressalvou ainda que todas as crianças com quem ela tinha contactado tinham “uma história para contar e cada uma acrescentou algo de positivo”. A jovem recorda-se de no momento da despedida as crianças também quererem ir com ela considerando a experiência muito gratificante, rematando que será “uma experiência a repetir sem dúvida nenhuma”.

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“Renascer P`ra Esperança”
Alice Santos, psicóloga a residir na cidade de Viseu, vai ingressar este ano numa nova aventura. Prepara-se para partir em missão para Moçambique para fazer voluntariado durante um ano, onde promoverá atividades para ajudar pessoas que vivem com carências. “Desde muito nova sinto que o voluntariado faz parte daquilo que quero ser. Sempre pude encontrar nas várias ações de voluntariado que fiz o retorno de um preenchimento indescritível. Sinto-me mais rica quando partilho o meu tempo e competências com os outros e por isso a decisão de partir além-fronteiras não foi difícil de tomar”, relata a jovem. Para Alice o difícil foi mesmo esperar pelo tempo certo de partir. “Sinto ser agora”, declarou a psicóloga, acrescentando ainda que considera que o ano que passará a fazer voluntariado será “um ano de aprendizagem pessoal e certamente um tempo de flexibilizar perspetivas”.

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O projeto “Renascer P`ra Esperança” resulta de uma experiência da missão Ad`Gentes da JMV de Portugal. O desafio nasceu na localidade de Chirrundzo, num Centro de Promoção Social. O programa procura cooperar para o crescimento e desenvolvimento de Moçambique conhecido como um país com graves problemas a nível financeiro e com carências em vários setores.

Cinco portugueses vão embarcar nesta “aventura” que começa efetivamente a setembro de 2016 e termina em agosto de 2017. O Centro que acolherá os voluntários, hoje em dia dirigido pelo Padre Inocêncio Sipoia, tem procurado desenvolver um programa de ajuda ao desenvolvimento daquela comunidade, nomeadamente através do apoio prestado a crianças órfãs. Os voluntários deste projeto têm correntemente sessões de formação e preparação.

Por Portugal inteiro e pelo mundo fora existem inúmeras associações e projetos para fazer voluntariado. “Basta dispensar algum tempo a ajudar o outro, a fazer com que pessoas desfavorecidas e com poucas ou nenhumas condições de habitabilidade consigam ter alimentos essenciais à saúde e para isso basta ser voluntário(a). Implica apenas ceder parte do nosso tempo a realizar ações que contribuem para a felicidade de outras pessoas mas também para o crescimento pessoal e social de quem faz voluntariado, porque as missões efetuadas deixam uma marca profunda nas nossas vidas. Saber que estamos a ajudar alguém, que vamos conseguir colocar um sorriso numa criança, num idoso, que vamos contribuir para uma sociedade mais justa e igual, a experiência de contactar com outras pessoas, sentirmo-nos úteis e o simples facto de ajudar e não esperar nada em troca são algumas motivações para fazer voluntariado”, conclui Cátia Figueiredo.
Mónica Figueiredo

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