Porque é que 400 mil apostam no Placard?

O Placard é o jogo mais recente da Santa Casa da Misericórdia (SCM). Em três meses este jogo tornou-se o terceiro mais vendido entre a oferta do departamento de jogos da SCM, num top liderado pela Raspadinha (710 milhões de euros de vendas brutas em 2014) e com o Euromilhões a surgir no segundo lugar (630 milhões de euros de vendas brutas no ano passado). Segundo o gerente da Casa da Sorte de Viseu, José Xavier, o número de apostas/apostadores do Placard no princípio emergiu bastante mas agora está a estacionar. O Euromilhões continua a ser o jogo que traz mais clientes à loja e é o mais rentável porque com 2 euros o apostador pode ganhar 100/200 milhões.

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Segundo os dados da Santa Casa da Misericórdia, entre 9 de setembro e 9 de dezembro de 2015 o Placard registou um total de 400 mil apostadores, tendo pago 33 milhões de euros em prémios. O estudante Emanuel Reis costuma apostar diariamente e adiantou que no último mês teve um lucro no Placard de perto de 200 euros. O jovem informou que faz análises dos jogos de basquetebol, futebol e ténis e adiantou que para ganhar dinheiro não é preciso saber quem ganha os jogos: o número de golos das equipas são um elemento que mais aposta e que lhe dá mais garantias.

Viver através das apostas

Atualmente o número de apostadores profissionais tem aumentado, e já são conhecidos nomes portugueses. Paulo Rebelo é um trader profissional, ou seja um apostador profissional de apostas que semanalmente faz um lucro superior a 50 mil euros. O trading consiste em fazer pelo menos duas apostas contrárias com o objetivo de ganhar dinheiro com a variação do valor da aposta. Mudou-se para Inglaterra e depois para Espanha porque em Portugal existe uma diferença de 1 segundo em relação à difusão do jogo. Para estes apostadores profissionais 1 segundo já pode fazer a diferença especialmente nas quotas.

Retrato dos jogadores do Placard

Entre os 25 e os 55 anos, homem e a viver em Lisboa, Porto ou Braga. Este é o retrato dos apostadores do Placard. António Pereira vive no Porto é enfermeiro e joga diariamente no placard. “Costumo jogar 1 ou 2 euros por dia, perco mais do que ganho e estou a tentar deixar de jogar. Sempre joguei desde os meus 18 anos nas apostas desportivas pois para mim é dos jogos mais correctos. No início é apenas uma diversão mas este jogo passa a ser um vício. Quando estão a dar os jogos que apostei estou sempre com a aplicação aberta para ver os resultados. Pretendo deixar de jogar porque a mulher por vezes fica chateada, é que fazendo bem as contas gasto 40/50 euros por mês.”

O impaco negativo do Placard

O surgimento do novo jogo teve um impacto negativo relativamente a um outro jogo desportivo, o Totobola. O apostador Tiago Fidalgo trocou o totobola pelo Placard. “No totobola a probabilidade de ganhar um prémio é muito reduzida. Joguei um ano inteiro o totobola e nunca tirei nada, comecei a apostar no Placard, e já ganhei dinheiro. A probabilidade de acertar em 12 resultados é muita baixa e saem poucos prémios no totobola. O Placard por vezes com 3 jogos dava o mesmo dinheiro que 12 resultados no totobola”, explica Tiago. Para o apostador o jogo não é um vício. “Só aposto em grandes jogos, nomeadamente na liga dos campeões e na Liga Europa, pois a meu ver estes jogos possuem quotas elevadas e ganha-se mais dinheiro”, revela.

Uma solução chamada Placard

O Placard está a conquistar os apostadores, na maioria são jovens que já faziam apostas online, as mesmas que durante um ano foram proibidas em Portugal. O jogo online de apostas passou a ser uma actividade legal em Portugal a partir do dia 28 de Junho de 2016, data que entrou em vigor o Regime Jurídico dos Jogos e Apostas Online. O governo português espera ter um encaixe adicional de 25 milhões este ano, não só com a legalização deste tipo de jogo, mas também com as alterações à lei que regula os bingos, as mudanças nas regras de exploração e prática das apostas desportivas à cota de base territorial e nas apostas hípicas mútuas de base territorial. A Bet Clic foi então a primeira casa de apostas legal em Portugal.

Como apostar ?

O sistema de apostas no Placard reúne várias possibilidades, como uma simples aposta ou uma combinação de resultados. Sempre que aposta, o jogador tem de fornecer o seu número de contribuinte, que ficará registado. O apostador pode escolher entre jogos de futebol, basquetebol ou ténis. Relativamente às apostas, estas variam entre 1 euro e 100 euros. O prémio é atribuído de acordo com a quota que for estabelecida. Esta é um número igual ou superior a um euro e traduz a probabilidade de acontecer um determinado resultado. Quanto maior for a cota, mais elevado será o ganho possível da aposta. É assim à procura de um resultado que garanta um prémio que os apostadores analisam as possibilidades dos vários jogos.

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“Menores conseguem apostar”

O apostador Américo Santos deixou de jogar apontando várias críticas ao jogo. “No Placard não dá para ganhar dinheiro e nos outros sites de apostas era diferente, pois havia muitas mais opções de apostar”. Segundo o apostador, o sistema online é importante. “Lembro-me de uma vez quando apostava na bet365 em que ganhei 200 euros. Faltava meia hora para acabar o Benfica que perdia com o Marítimo fora por dois a zero, e eu decidi arriscar e coloquei 10 euros, apostando que o benfica iria ganhar. Eles acabaram por ganhar nos últimos segundos e em 30 minutos ganhei 200 euros. Outro dos motivos pelos quais deixou de jogar no Placard foi prende-se com a obrigatoriedade de fornecer o meu número de contribuinte. Para o apostador isto é uma forma de controlo monetário. “Que não venham com desculpas a dizer que é um forma de controlar a idade dos jogadores, pois existem muitos menores que conseguem na mesma apostar” acusa.

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A ideia online

Os Jogos Santa Casa avisaram recentemente que vão avançar para o negócio do jogo online, uma decisão que vem contrariar a escolha do ano passado, quando a
entidade decidiu não se candidatar a uma licença para exploração das apostas desportivas online.

Mulheres em jogo

O Placard aumentou o número de apostadoras de desporto em Portugal. Apesar do predomínio estar entre o sexo masculino, o número de apostadoras tem aumentado. Sónia Silva começou a apostar devido à influência do namorado e agora todos os fins-de-semana faz a sua aposta. “Comecei a apostar devido ao meu namorado, ele joga quase todos os dias e por vezes ficava revoltada quando ganhava dinheiro e pensava ‘se ele consegue porque é que eu não consigo?’ Então comecei a fazer as minhas análises desportivas, aposto somente nos principais campeonatos europeus e as minhas apostas baseiam-se imenso nas classificações das equipas nos seus campeonatos”, explica. Para esta apostadora, a imagem feminina é discriminada em relação ao desporto. “Existem raparigas que não percebem nada de desporto, tal como existem rapazes que não percebem nadinha de desporto. Já ganhei várias apostas e posso afirmar que até agora tenho um lucro positivo em relação aos ganhos e às perdas”, afirma.

A lei dos 20%

O Estado Português fica com 20 % dos prémios que excedam os 5 mil euros, para quem apostar em jogos sociais explorados pela Santa Casa da Misericórdia. Estão em causa jogos como o Euromilhões, Lotaria Nacional, Lotaria Instantânea, Totobola, Totoloto, Joker, Raspadinhas e o Placard. Até à recente lei pagava-se imposto, mas apenas pela aposta em si e nem se dava por ele pois já estava incluído no preço. Agora os prémios vão passar a ser taxados, tendo sido defendido que esta lei foi adotada porque o Orçamento Português está “sem margem de manobra”. Agora, nem a sorte dos portugueses escapa. Justino Ribeiro é um apostador assíduo dos Jogos da Santa Casa e está incrédulo com a nova lei portuguesa. “Sou um apostador diário que vou mudando no que aposto, ou seja, jogo Raspadinhas, Euromilhões, Lotarias e recentemente comecei a jogar o Placard. Esta nova lei dos 20 % é um roubo à nossa sorte, até nos prémios já nos vão “roubar” dinheiro”, lamenta. Justino Ribeiro conta que chegou a lucrar 10 mil euros numa Raspadinha, 2 mil dos quais lhe foram retirados de imediado. “Apesar da felicidade extrema, uma pessoa fica sempre revoltada, é uma lei estúpida mas a verdade é que sacam milhões por dia com os prémios de certeza que saem milhares de prémios
superiores a 5 mil euros num dia”, considera. Relativamente ao Placard, o apostador ainda se encontra em fase de estudo das dinâmicas do jogo. “Ainda não percebi bem o método do jogo, mas considero que é um dos jogos mais verdadeiros que a Santa Casa da Misericórdia possui”, defende.

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A incerteza do futuro

Quando surgiu, o Placard provocou a curiosidade dos apostadores e angariou milhões de jogadores. Hoje a grande questão é se alguma vez este jogo ultrapassará o seu top 3 na Santa Casa. O Euromilhões continua a ser o jogo mais amado pelos portugueses, pois “com dois euros podemos ir buscar milhões”, tal como afirma José Xavier, gerente da Casa da Sorte de Viseu. As Raspadinhas, por sua vez, funcionam muitas vezes como uma “acompanhante” de um café, um sumo ou uma cerveja. Existem milhares de pessoas que ao sair do trabalho vão jogar a sua Raspadinha para ver se hoje é o dia de sorte, afirmando o gerente José Xavier.

Quanto ao Placard, uma das suas desvantagens prende-se com a legalização das casas de apostas desportivas. A Santa Casa afirma, aliás, que quer também criar uma versão online para concorrer com estas casas de apostas. A verdade é que as quotas das casas de apostas desportivas são superiores ao Placard e, claro, quanto mais as pessoas ganharem melhor. Exemplificando: a quota do Brasil no Brasil vs Equador está a 1,83 na BetClic enquanto no Placard está a 1,69. Esta diferença significa dezenas de euros que se ganham a mais na BetClic e, além disso, se o prémio for superior a 5 mil euros acontece o corte de 20 % por parte do Estado. A diferença está associada ao fato de a BetClic ser uma casa de apostas mundial de origem francesa. Em contra-partida o Placard é uma casa de apostas nacional.

A dúvida será desfeita nos próximos meses, mas será que esta poderosa ascensão poderá ter um enorme declínio nos próximos tempos? Ou será que a ideia online irá manter o Placard com milhares de apostadores? E se o número de apostadores do Placard aumentar? Estas questões irão ter uma resposta objetiva e clara nos próximos meses, mas há que salientar a excelente altura/ oportunidade em que foi lançada esta casa de apostas. A Santa Casa aproveitou e criou uma casa de apostas nacional claramente controlada com regras e limites.

Joel Magina (texto e fotos)

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