“O desporto desenvolve e capacita as crianças e jovens para diversas competências”

O Desporto é muito mais do que apenas a atividade física. O programa “+ Inclusão Pelo Desporto” promovido pela associação Implementar Uma Nova Atitude (IUNA), defende que o desporto pode auxiliar a população a desenvolver estilos de vida saudáveis, bem como instruir benéficas habilidades de vida e não menos importante, permitir ao indivíduo evoluir o seu processo de desenvolvimento pessoal. Rita Emanuel Pereira de Sousa tem 26 anos e vive em Coimbra. É licenciada em Serviço Social desde 2011 pela Escola Superior de Educação de Castelo Branco e mestre em Intervenção Social, Inovação e Empreendedorismo desde 2015 pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. Atualmente exerce funções no Observatório de Cidadania e Intervenção Social (OCIS) da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra e participa na investigação do projeto internacional “Rede de Facilitadores de Inclusão pelo Desporto”.

Há 5 anos que se encontra licenciada. Esse seu gosto pelo serviço social é antigo ou foi apenas algo que a chamou a atenção numa determinada fase da sua vida?
A minha paixão por esta área começou no final do 9ºano, ou seja tinha uns 14 anos. Tive de decidir na altura, o curso que queria para ingressar no 10ºano e estava indecisa entre contabilidade e ação social, que de facto são áreas totalmente distintas, mas a opção foi o serviço social. Na verdade, sempre fui uma pessoa bastante sociável e sempre pronta a ajudar. Talvez esse meu espírito e maneira de ser tenham sido fulcrais para tomar esta decisão. Ainda sem saber o que iria aprender, a escolha prendeu-se, também muito, pelas disciplinas que existiam no plano curricular do curso, uma vez que estas puxavam por um gosto pessoal meu como: Psicologia, intervenção social, práticas de ação social, entre outras. A verdade é que até hoje ainda não me arrependi. Segui sempre o meu coração e hoje sou Assistente Social, com orgulho.

Neste momento encontra-se a trabalhar no OCIS, pode dizer-me em que consiste e quais são as suas funções?
O OCIS é uma estrutura e um recurso pedagógico de carácter multidisciplinar e interuniversitário que potencia uma cidadania ativa e uma cultura de investigação nos domínios da intervenção social, das políticas e de problemáticas sociais. A intervenção do OCIS centra-se essencialmente em dois aspetos, nomeadamente na neutralização de distâncias entre a Academia e a comunidade envolvente e na criação de conexões entre professores e alunos dos vários cursos da Faculdade. As funções do OCIS incidem na elaboração de candidaturas a Projetos Internacionais, organizar seminários, congressos e open class. Quando estas possuem uma dimensão alargada leva-nos a solicitar alunos voluntários para diversas tarefas, tais como: apoiar logisticamente os eventos, planificar e elaborar cursos de formação sobre a prática de voluntariado e socioterapia. Prevê-se recentemente também a realização de um curso de verão sobre Violência(s), Riscos Socioculturais e Estratégias de Intervenção.

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Como foi o seu percurso até chegar ao OCIS?
Anteriormente estive em outros trabalhos sem relação com a área do serviço social (lojas, comércio) tal como a maioria dos jovens está até encontrar um trabalho na sua área de estudos. Passaram-se 2 anos depois de ter feito a licenciatura e surgiu a oportunidade de fazer um Mestrado numa área que poderia abrir novos caminhos “Intervenção Social, Inovação e Empreendedorismo”. Enquanto fazia o mestrado trabalhei num call center, experiência que não desejo a ninguém, mas quando a situação financeira obriga, lá tem de ser. Passou um ano de mestrado e uma das fases mais importantes do mesmo estava prestes a começar – a Tese. Foi quando conheci a minha orientadora, professora na Faculdade de Psicologia e Coordenadora do OCIS. Parece que a professora gostou de mim e convidou-me a conhecer o Observatório e questionou-me se não gostaria de trabalhar lá em regime de voluntariado, mas com a tentativa de conseguir algo remunerado. E foi assim começaram as minhas funções no OCIS.
Em 2015, no OCIS surgiu a oportunidade de um estágio remunerado doe Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), designado de Medida Emprego Jovem Ativo com a duração de 6 meses. Foi um estágio interessante e bastante produtivo pois a medida integrava dois jovens de nível 2 (qualificação de 3.º ciclo do ensino básico) e um jovem de nível 6 (licenciatura), que era eu. Como já estava no OCIS voluntariamente, acompanhei todo este processo de candidatura, elaboração do projeto de estágio, bem como a seleção dos jovens de nível 2. Foi um estágio que me permitiu adquirir muitas competências profissionais, acrescentando o fato de ter sido supervisora das estagiárias de nível 2. Terminado este estágio (janeiro de 2016) surgiu outra oportunidade no OCIS. A assinatura de um protocolo entre uma associação e o OCIS, uma parceira para um projeto de investigação. Desde Março de 2016 até ao momento que sou investigadora no projeto internacional “Rede de Facilitadores de Inclusão pelo Desporto” financiado pelo programa Erasmus+. Trabalho diariamente no OCIS mas sempre em colaboração com a IUNA.
Esta Associação é uma organização não governamental (ONG) que surgiu de dois projetos “inclusão pelo desporto” e “lusofonia” que atualmente são dois programas presentes na ação da associação. O projeto no qual estou associada está relacionado com “inclusão pelo desporto”.

Relativamente ao seu atual projeto, referido anteriormente, poderá explicar-nos em que consiste e quais os seus principais objetivos?
O Projeto Rede de Facilitadores de Inclusão pelo Desporto enquadra-se no Programa Inclusão pelo Desporto da Associação IUNA, tendo uma duração de 23 meses, com início em setembro de 2015 e término em julho de 2017. É um projeto internacional entre Portugal, Itália e Croácia. Este projeto pretende potenciar um debate académico e profissional sobre a temática “desporto como ferramenta para o emprego jovem e para a inclusão social”. Desporto, Empreendedorismo, Educação não-formal e informal, Empregabilidade e Inclusão Social são os conceitos chave deste projeto. De forma sucinta, este projeto pretende mostrar que através do Desporto e/ ou da prática desportiva (seja qual for o desporto) os jovens desenvolvem competências relevantes para o contexto profissional através da educação não-formal e informal, nomeadamente competências de espírito de grupo, entreajuda, liderança, partilha, organização, o cumprimento de horários e tarefas, entre outras. Como sabemos, estas competências dificilmente são adquiridas em contextos de educação formal (ensino), sendo importante para os jovens a integração em atividades não-formais e informais, como é o caso do voluntariado, a prática de desporto, associativismo jovem, a pertença a movimentos políticos e atividades extracurriculares como o teatro, dança, música. O Projeto Rede de Facilitadores de Inclusão pelo Desporto decorre da identificação de problemáticas sociais emergentes, como o desemprego jovem (mesmo de jovens habilitados com formação superior), exclusão social e da necessidade de criar mecanismos ou referenciais de validação e certificação de competências adquiridas em contextos não-formais e informais que são importantes para o desempenho e responsabilidades profissionais. Para além desta componente de investigação, o Projeto contempla um leque de atividades a realizar ainda este ano, tais como as Jornadas de Educação pelo Desporto, a Formação para jovens estudantes universitários sobre Empreendedorismo Social, os Seminários nacionais e internacionais (Itália e Croácia) para jovens e um congresso final em 2017. Acresce ainda um Manual de Boas Práticas que integrará vários projetos nacionais e internacionais em que o desporto foi ou é uma ferramenta de apoio a criação de emprego, à inclusão social e à aquisição de competências. Atualmente, o projeto encontra-se na fase do mapeamento de projetos possíveis de boas práticas em cada país, Portugal, Itália e Croácia.

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E na sua opinião o desporto pode potenciar a criação de emprego? Com base no mapeamento que tem sido feito que tipo de projetos há em Portugal?
Na minha opinião o desporto e tudo o que são atividades no âmbito da educação não-formal e informal desenvolvem e capacitam as crianças e jovens para diversas competências pessoais, sociais, funcionais e até mesmo profissionais (a longo prazo). A investigação diz-nos que existem vários projetos em que o desporto é uma ferramenta para a inclusão social, contudo ao nível da dimensão da empregabilidade e criação de emprego através do desporto a investigação ainda é escassa. O Desporto é maioritariamente associado à inclusão social e a projetos empreendedores e raramente associado à empregabilidade, criação de emprego, isto porque a grande parte dos projetos que ocorrem são sustentados por voluntários, donativos e patrocínios. A meu ver em Portugal ainda há alguns projetos de inclusão social através do desporto, contudo os financiamentos são reduzidos e só alguns projetos podem efectivamente concretizarem-se. O fator da sustentabilidade é muito importante para a continuidade dos projetos, caso contrário a sua duração é limitada ao tempo do financiamento. A maioria destes projetos são sustentados por voluntários, donativos e alguns patrocínios que vão surgindo, não garantindo a disseminação do próprio projeto nem a criação de valor económico. Como referi anteriormente, ainda estamos na fase de levantamento de projetos, mas de forma geral os projetos desportivos centram-se no futebol de rua, basket inclusivo, surf para todos e atletismo para jovens. São projetos de intervenção social que não visam a obtenção de lucro, mas sim a mudança social potenciando comportamentos saudáveis, a integração de actividades de ocupação de tempos livre em bairros excluídos e socialmente problemáticos, a interculturalidade, entre outros.

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Apesar de já estar a participar neste projeto inovador, quais são as suas expectativas para o seu futuro ao nível da sua profissão? Tem alguma preferência relativamente à sua área de intervenção social?
As experiências que tenho tido no campo da investigação tem sido muito úteis para a minha formação profissional, tem permitindo desenvolver competências de observação, análise, reflexão e capacidade crítica. No entanto as minhas ambições enquanto assistente social focam-se principalmente na intervenção em si, o contato direto com famílias, populações vulneráveis, em busca da mudança e transformação da sociedade. Apesar do serviço social ser uma área abrangente quanto à sua intervenção tenho um gosto pessoal e profissional de trabalhar com crianças e jovens em risco. Já tive algumas experiências com esta população e senti que realmente me poderia enquadrar profissionalmente. Dado o meu elevado interesse pessoal por esta população realizei a minha tese de mestrado neste âmbito. Espero realmente que o futuro seja promissor a nível profissional, pois sem dúvida que estarmos realizados profissionalmente é fundamental para levarmos a vida com outro ânimo.

Miguel Marques (texto e fotos)

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