Tilhon: da Música Clássica ao Hip-Hop

André Castilho, mais conhecido por Tilhon é um rapper natural da cidade de Viriato, Viseu. O gosto pela música começou desde muito novo, acabando por frequentar o Conservatório de Guitarra Clássica. O artista acabou por singrar no mundo do hip-hop e a sua história na música portuguesa.

Por Inês Azevedo

Apresente-se.

O meu nome é André Castilho, conhecido como Tilhon enquanto rapper.

 

Onde cresceu e como foi a sua infância?

Nasci em Viseu, desde miúdo, desde a minha infância que me dedico à parte musical, neste caso como aluno de Conservatório de Guitarra Clássica e foi aí que surgiu sempre a minha ligação à música. Estudei guitarra clássica, comecei a tocar guitarra com 8 anos, entrei na iniciação musical e fiz o Conservatório, onde continuei nos estudos superiores, mas sempre associado à Guitarra Clássica.

 

Como é que surgiu o gosto pela música?

O gosto pela música surgiu aí, essencialmente. Agora o gosto pelo rap também provém daquilo que eu ouvia enquanto era adolescente, que era rap.

 

Destaque os pontos principais do seu género musical.

Eu acho que quando escrevo e quando tento criar uma música, gosto de relatar um pouco daquilo que eu vou vivendo, ou seja, são sempre alguns desabafos que de alguma maneira me inquietam, ou que sinto a necessidade de me exprimir.  Às vezes é um bocado um “confessionariozito”, que apesar de a gente fazer de uma forma completamente solitária, o público passa a ser um confessionário público.

 

Considera que um artista de hip-hop sente mais dificuldade para crescer, comparado com um artista comercial?

Eu na verdade, acho que o hip-hop, ou o rap ou o que queiras designar, hip-hop é um movimento, o rap é a parte mais ligada à composição musical, é um estilo, é um género musical que está em voga de alguma maneira e que tem tido aceitação grande, por parte do público mais jovem. Hoje em dia, acho que é um género que até tem conseguido entrar em espaços, em festivais de música, clubs, coisa que outrora não se verificava e é sempre bom, porque faço isso, ou seja, também consigo eventualmente tirar mais partido desse trabalho. Por isso, neste momento não sinto que nós estejamos inferiorizados, comparativamente com outros estilos musicais. Mas claro que há estilos musicais que têm, um peso maior, ou conseguem ter uma abrangência maior que o próprio hip-hop, por assim dizer.

 

Sendo Viseu uma cidade do interior, sentiu algumas dificuldades e o peso da interioridade?

O facto de a gente ser do interior e não ser das metrópoles, Lisboa, capital, ou mesmo do Porto, eventualmente, existe uma maior dificuldade em que as pessoas nos conheçam. Não é uma cidade onde exista essa rede de contactos que, porventura, existem mais no Porto e em Lisboa, mesmo por exemplo as rádios e tudo isto, ou seja, o acesso pode ser um bocado menos imediato, mas também não quer dizer que não se consiga chegar lá, eventualmente temos de trabalhar um bocadinho mais que todos os outros, é um bocado por aí.

 

Quais são as principais diferenças do Tilhon artista e do André pessoa?

O Tilhon artista é o André pessoa, no entanto, o André pessoa faz mais do que o Tilhon faz, tem a sua vida familiar, profissional e tudo mais. Dou aulas de guitarra clássica, tenho projetos associados à guitarra também, mas o Tilhon está mais ligado à parte de rapper, embora a guitarra também seja trazida à coleção.

 

O porquê da Guitarra Clássica?

Sempre estudei guitarra clássica, ou seja, a guitarra está sempre um bocadinho de mãos dadas comigo.

 

Qual foi o seu maior incentivo para começar a escrever músicas?

O meu maior incentivo para começar a escrever músicas, como te disse
há bocado, na minha adolescência sempre ouvi esse estilo, embora não seja só o estilo que eu ouvia, onde ouvia música rock, música eletrónica, também ouvia outras coisas, só que também ouvia rap e como todos nós ouvimos e ouvimos, sentimos alguma vontade de querer experimentar. Fui escrevendo e gravando as minhas “coisinhas” lá em casa e houve uma altura que a gente partilhava e a aceitação foi sendo porreira e depois também ganhamos a motivação para continuar.

 

Quais são as suas maiores influências musicais?

Essencialmente, não me considero um ouvinte de rap puro, fui muito mais quando era adolescente e quando tinha essa vontade de consumir, até que comecei a experimentar eu próprio, escrever os meus temas. Agora que escrevo, até nem gosto muito de ouvir os outros, claro que os oiço, mas não gosto de ouvir muitas vezes, para também, de alguma maneira, não cercear o meu processo criativo.

 

Como é que as suas parcerias musicais surgiram?

Eu tenho tido algumas, sendo que antigamente com esse grupo chamado de DSL Team, e aí as parceiras existiram, porque eram colegas, amigos, onde cada um partilhava o meu dia-a-dia. No Cálix, que foi um álbum que eu fiz completamente a solo, esse não tem parcerias de ninguém, a própria produção foi uma produção minha e no Cálix, já houve vários artistas de Lisboa, Margem Sul e por aí. Um rap onde me identifico mais, não estando a pôr de parte o rap do Norte e dizer que não gosto, porque gosto também, mas não é claramente a minha orientação, mas surgiu essencialmente, ou porque cruzamos conversas, ou porque lhes encontramos em concertos, ou porque fomos trocando mensagens. Alguns não conheço ou não eram claramente meus amigos, ou seja, pessoas com quem eu privava, diariamente, mas que enfim, existiu química musical de uma maneira e houve interesse de ambas as partes e as coisas acontecem.

 

No que diz respeito à sua discografia, apresente-a.

Começamos a fazer o nosso primeiro exemplar discográfico, foi com o grupo DSL Team com quem comecei a escrever desde 2000, mas a gente estava em laboratório. Em 2004 pegamos em beats de rappers franceses e americanos e fizemos uma mixtape, porque não é um álbum de originais é a nossa composição de escrita, os nossos instrumentais são de rappers já com uma cotação forte. Em 2004, Balas Perdidas, 2006 foi o Renascer das cinzas, também um trabalho idêntico desse Balas Perdidas, mas já com a voz não tão fininha. Depois houve outro projeto chamado “Escola de Viseu” que reuniu os rappers aqui da zona. Depois disso, lançamos para a Internet DSL Team, também participo numa ou duas faixas, chamadas Sangue frio, que foi em 2011, aproximadamente também não sei, se me estou a equivocar na data. Depois disso, eu surjo a solo com o chamado Cálix, onde eu trago para a minha produção instrumental que eu não produzi só o rap, ou seja, associo à guitarra, instrumento que me acompanha desde puto, e comecei a criar os meus instrumentais. Eu acho que esta foi a marca de alguma maneira que não sei, se vinquei mais a minha personalidade enquanto rapper, o que também trouxe esta sonoridade mais nostálgica e espanhola, de alguma forma, para as minhas músicas. Acho que isso deu alguma identidade aquilo que eu fazia. 2015 é um álbum inteiramente a solo, produção e letra sem participação de rappers, nem produtores. 2016 já faço um outro álbum que é o Bunker, onde há participação de outros rappers e de outros produtores também. Tenho o som com o Malabá, rapper da Margem Sul, com o Sacik Brow, um rapper do Algarve, com o Cota e John, rapazes e companheiros aqui da zona, também rappers pesados.

Depois participei com o Kosmo, parceiro do Malabá, num projeto que na altura tinha com o Malabá Da Gun, também da Margem Sul e também com a Kiara que me faz um refrão, uma cantora da zona de Aveiro, e com a produção também de várias pessoas, tem produção minha, tem produção de um colega chamado 2.0, que é daqui de Viseu, tem produção de um rapaz que é o Logic, que também está atualmente no Brasil e se me esquecer de mais algum peço desculpa. Temos do Bunker que surgiu este EP que lancei há pouco tempo. Comecei com singles em 2018, no ano anterior, e acabei de apresentar o EP este ano, chama-se Rap Ninja, é um EP de 6 faixas, conta com a participação também de vários produtores e também minha, Badnappa, 2.0 e Cota que também produziu um dos sons e tem participação de 2 rappers, o Cota que fez o beat e também cantou comigo nesse som, chama-se Dançar à chuva, e com o Don, uma participação de um rapper neste caso também da Margem Sul. A discografia é essa, mas não sei, vamos caminhar para isso.

 

Qual é a principal mensagem que tenta transmitir nas suas letras?

A mensagem que eu tento sempre pôr, é que eu gosto de pensar na mensagem como ingrediente basilar em tudo o que vou fazendo. Agora é claro que se eu hoje estou animado, ou bebo um copito a mais, chego a casa e faço um som mais divertido, faço um som que também fala nisso. Embora possa aparentemente ser um som com menos mensagem, não deixa de também ter nem que seja o meu ponto de vista, sobre uma determinada coisa, mas gosto também de pensar sempre em temas nostálgicos, tal e qual como te falei na questão do confessionário, são inquietudes que tu tens e que enfim, que surge uma espécie de um diário também e aí se calhar, as mensagens são um bocado mais especiais, mais sentidas e mais deep. Mas não me vejo só a fazer esse tipo de abordagem, porque eu acho que nós não somos só uma cara, não estou sempre bem-disposto, eu não estou sempre chateado, não estou sempre num ambiente boémio, é como tudo.

 

Se tivesse que fazer a playlist da sua vida, as suas músicas seriam a sua própria playlist?

Certamente que incluía nessa playlist alguns temas meus, porque enfim, são sempre temas que me são especiais. Mas claramente, que incluía temas de variados artistas, não ia fazer uma playlist só minha.

 

Se pudesse escolher apenas uma música do seu álbum para cantar para o resto da sua vida, qual seria? Porquê?

Eventualmente, a música que eu escolhia para cantar o resto da minha vida seria a Jeremias, mas isto pessoalmente, porque é um tema sensível, é um tema que é uma autobiografia da minha vida, usando um heterónimo, ou seja, daí chamar Jeremias e não estar a dizer que sou eu, porque é um som que de alguma maneira, está ali um pouco da minha vida. Não se consegue resumir tudo do que a gente faz da vida em 3 minutos de música, mas não é um tema que por exemplo, eu uso sempre em concertos, porque acho que nem sempre é o ambiente mais propício para cantar esse tema, porque é um tema deep, tema down, e às vezes, a malta quer ir para o club para se animar e a gente pensa sempre em algumas faixas um pouco mais animadas para partilhar com o público.

 

E o reconhecimento? Acontece-lhe pedirem-lhe fotos e autógrafos na rua? Como lida com isso?

Vai havendo pessoas que me pedem para tirar fotos, para pedir autógrafos e vou sendo abordado na rua, por essencialmente, da camada mais jovem e não só. Para o fazer, claro que me sinto contente, por ver que as pessoas têm essa vontade e que ficam contentes, em tirar uma foto comigo ou pedir um autógrafo, e isso é fruto da exposição que é feita, porque a partir do momento, em que o som está no Youtube e é partilhado publicamente tem uma repercussão maior do que se guardar em casa.  Por isso, é que as pessoas vão dando love, e isso é sempre algo que é gratificante para nós, enquanto compositores, músicos ou rappers.

 

Quais são os seus próximos projetos?

Acabei de lançar um EP, chamado Rap Ninja, ou seja, na verdade o projeto a nível de disco, álbum ou EP não tenho em mente, agora isso, os projetos que vão sair são certamente singles, um tema ou outro que me identifico mais e que decido fazer vídeo, áudio e partilhar com as pessoas.

 

O que considera o futuro da música em Portugal, acha que está incluído?

A música em si é um bocado estranho falar, porque, dava conversa longa se referir o rap. O que eu vejo de futuro no rap em Portugal, como te disse ainda há pouco, uma evolução brutal, uma aceitação brutal, coisa que tem sido completamente crescente, não sei até que ponto é que vai ser sempre esta tendência crescente das coisas, claro que há-me de haver algum momento em que as coisas estagnam ou não. O valor também dos artistas está cada vez a ser maior a nível de “cachês”, ou seja, entramos nos clubs, mas a malta já está a subir a fasquia e já não há clubs que consigam pagar esse valor. Então, secalhar estamos a ir para open airs e vais ao ar livre, não faço a mínima ideia, talvez seja essa a evolução das coisas, se eu estou lá ou não, eu vou estando à minha maneira, a partir do momento, em que tu trabalhas, vais sempre estando, se há pessoas que estão marcadas na história da música, seja no rap ou não, porque aquilo que eles fizeram enquanto músicos, no tempo que trabalhavam tens vários exemplos, de quem nem sempre a qualidade, nem sempre o trabalho é sinal que ficas marcado na história, tens o exemplo de Mozart, Beethoven, Bach, compositores marcantes na história da música, que secalhar só foram reconhecidos depois de mortos. É sempre complicado saberes se vais ficar marcado ou não, tenho a certeza que vou ficar marcado para quem me conhece, pelo menos esses que me conhecem, pelo menos eles conheceram-me, então eu já fiquei marcado, se não ficar mais marcado que os outros, não tenho como te dar essa certeza.

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