A luta dos enfermeiros

Artigo de opinião por Inês Melo

Os enfermeiros encontram-se numa grande batalha para concretizarem os seus objetivos que, nos últimos tempos, não têm sido fáceis de alcançar. Contudo, mantêm-se firmes até ao fim, declarando que sentem todos os dias na pele o peso e o risco da sua profissão, que não é simplesmente “dar injeções e medir tensões”.

Estes são um elo central, uma peça chave e fundamental nas relações clínicas.

Em 2009 foi elaborado um questionário tendo sido este distribuído por vários elementos da enfermagem. A amostra foi constituída por cerca de 85% de enfermeiros do sexo feminino e 15% do sexo masculino. Como resultado deste questionário foi possível concluir que:

  • 27% não se encontravam a exercer a profissão.
  • 77% nunca receberam nenhuma oferta profissional
  • enfermeiros formados em 2006 e 2007, apenas cerca de 1% se encontrava sem emprego
  • dos indivíduos sem emprego, houve 71 enfermeiros que referiram já ter recebido ofertas de emprego, mas recusaram, justificando com o facto de as propostas de remunerações serem baixas (26,7%), más condições de trabalho e falta de estabilidade (18%).
  • dos enfermeiros que se encontram a exercer a profissão 95% praticam no território nacional, sendo que 5% exercem fora do País.

Relativamente ao tipo de contrato foi possível averiguar que apenas 31% dos indivíduos possuem contrato com tempo indeterminado ou com ligação à Função Pública. Dos restantes, cerca de 42,8% têm um contrato com data final definida e 17,8% estão a prestar serviços de forma independente ou sob a forma de passar recibos a instituições de saúde.

Atualmente, os enfermeiros encontram-se em greve devido às seguintes razões:

  • dignificação e respeito pelos cuidados de saúde que prestam e exigem respeito do Serviço Nacional de Saúde, pelos políticos e pelo governo- proclamam que são desvalorizados e desrespeitados, nomeadamente pelo governo : “Não podemos confundir aquilo que é o exercício da atividade sindical, o exercício legítimo do direito à greve, com práticas que não são de greves cirúrgicas, mas são greves selvagens, que visam simplesmente atentar contra a dignidade dos doentes e contra as funções do Serviço Nacional de Saúde, que são absolutamente ilegais e em relação às quais as instituições não podem ficar impassíveis”- primeiro ministro, António Costa; “A greve dos enfermeiros é cruel ”-ministra da saúde Marta Temido.
  • São funcionários da administração pública, licenciados e muitos com mestrado e doutoramento, com valor remuneratório de ingresso mais baixo, mal remunerado ao longo de toda a carreira, em comparação com outras classes e carreiras- muitos enfermeiros licenciados afirmam que ganham 6,5 euros à hora, bem menos do que alguns funcionários de limpeza. Salientam, também, que se querem ser especialistas têm de pagar pelo menos mais 6000 euros de propinas e, de seguida, esperar que sejam aceites numa instituição, que abram concursos, que se desbloqueiem verbas, entre outros. Apesar disto, realçam a ideia de que se querem tirar o mestrado ou pós-graduação arriscam-se a tirar tempo de família e, não esquecendo de que têm mais 3000 euros ou 6000 euros de propinas e que, em troca, afirmam receber 0 euros ao fim do mês.
  • Não possuem uma carreira profissional digna e atual;
  • Não progridem nas suas carreiras há cerca de 14 anos;
  • A situação existente não contempla as categorias diferenciadas de enfermeiro especialista e enfermeiro-chefe/gestor;
  • Tempo de trabalho excessivo e não recompensado nem valorizado- os enfermeiros devem exercer entre 35 horas a 40 horas semanais, cerca de 140 horas por mês. Contudo, é referido que estes fazem horas extraordinárias (aproximadamente 160 horas ou mais por mês) e não recebem mais por tal situação, apenas acumulam horas.

Os enfermeiros têm uma profissão que acompanha as pessoas no seu ciclo vital, desde o seu nascimento até à sua morte.

Estes lutam, frequentemente, para a obtenção daquilo a que têm direito e que, durante aproximadamente 14 anos, nunca possuíram

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