“O meu trabalho não reflete quem sou, mas como foi a minha infância”

Lord Mantraste é o alter-ego do artista que pretende ser a “Nossa Senhora da ilustração” e que cada trabalho que produz seja “um menino Jesus”. O designer gráfico e ilustrador, natural de Caldas da Rainha, realizou uma intervenção no Centro Municipal de Transportes de Viseu, no âmbito do festival Tons de Primavera.

Lord Mantraste
Quando é que decidiu entregar-se ao mundo da ilustração e do design gráfico? 
A minha entrada para mundo da ilustração e do design gráfico foi como um dégradé: foi natural. Trabalhava como desenhador técnico num atelier e fui percebendo que o que queria mesmo era algo mais criativo. Então fui para o design gráfico e dentro do design descobri a ilustração.
É impossível não reparar na explosão de cor que carateriza as suas ilustrações, assim como os elementos da cultura popular portuguesa, o misticismo e a natureza. De que forma é que o seu trabalho artístico reflete quem é?
Penso que a melhor maneira de explicar isto é que o meu trabalho não reflete quem sou, mas como foi a minha infância. É como se fosse uma tentativa de não envelhecer, porque é como via o mundo em 1988.
Ganhou os prémios de Sardinha Vencedora das Festas de Lisboa, em 2011, e Melhor Capa de Ilustração e Design, em 2015, com o livro “Arranha-Céus”, de J. G. Ballard. O que significaram para si e para a sua carreira?
Significam que o meu esforço foi reconhecido e isso é muito importante. Penso que se não tivesse ganho o concurso das sardinhas para as festas de Lisboa, hoje não era ilustrador.
Retratou, no Centro Municipal de Transportes da cidade, a “Eva” que, de cima dos montes, observa o correr do rio Dão em cor de vinho. Qual foi a inspiração para este projeto?
Como referências deram-me a primavera e o vinho dão. Quando era novo trabalhei com um homem que se chamava Adão, e ele tinha uma garrafa de Vinho do Dão num armário, onde estava desenhado a caneta um “A” antes de Dão. Quando recebi este trabalho fiz logo ligação a essa imagem da garrafa do Adão, e transformei-a no Dão e Eva.

Ana Rita Cabral

a