Céline sem acento

Foi em janeiro que ficámos a saber que Phoebe Philo, diretora criativa da marca francesa Céline, seria substituída por Hedi Slimane, antigo diretor criativo da Yves Saint Laurent. E para os mais atentos, Hedi Slimane é um nome familiar: responsável pela linha masculina Dior de 2000 a 2007. Mas o seu mais conhecido legado será, sem dúvida, a sua passagem pela Yves Saint Laurent, de 2012 a 2016.

Nesta nova etapa, seria de esperar uma mudança acompanhada pelo seu cunho pessoal. No entanto, Hedi Slimane parece precisar de travão quando se trata de definir limites.

É incontestável o contributo de Hedi Slimane no mundo da moda. No entanto, a sua exacerbada vontade de marcar as suas passagens pelas marcas, acaba por se tornar num furacão, que deixa danos irreparáveis.

A sua posição na marca Céline, começa a ser marcada quando o designer decide eliminar todas as publicações do Instagram da marca, agora à sua responsabilidade. Mas o que, numa primeira instância, nos parecia um movimento de marketing brilhante, rapidamente se torna num déjà vu.

Não é uma estreia, por parte do designer: a sua passagem pela Yves Saint Laurent fica marcada por uma atitude revolucionária, em que decide largar o “Yves” passando a assinar por Saint Laurent.

Desta vez, não foge à regra.

Slimane decide, então, anunciar nas redes sociais, de forma subtil, aquilo que indicaria mais uma controversa mudança: são publicadas imagens com o nome da marca alterado. Desta vez, Céline, marca fundada em 1945 por Céline Vipiana, passa a ser escrita sem o acento: Celine.

Parece um pormenor insignificante. No entanto, com grande impacto visual.

A revolta fez-se imediatamente sentir por aqueles que acompanham a marca e admiram a linha clássica chic estabelecida por Phoebe. Mas é, ainda, cedo demais para juízos de valor.

É, então, quando Hedi Slimane faz a sua estreia, em setembro, que deixa de haver dúvidas: Hedi Slimane com o seu cunho inconfundível, apresenta-nos aquilo que parece uma repetição da coleção outono/inverno apresentada na Paris Fashion Week de 2016.

Para aqueles que admiram a visão grunge e modelos unissexo do designer estarão, certamente, satisfeitos. Mas para todos os outros que admiravam Céline pela sua capacidade de tornar as suas peças intemporais e elegantes, esta mudança vai demorar a ser ultrapassada.

Parece-me justo afirmar que chegou o momento em que Slimane já não tem nada de novo para nos ensinar. Um acento que levou consigo um legado.

Farewell Phoebe, farewell Céline.

 

Texto: Beatriz Cabral Costa

a