O Dão ao sabor da União

Portugal é um destino que figura no topo da lista de lugares a visitar pelos habitantes dos diversos quadrantes do mundo. As pessoas procuram a beleza das praias algarvias e a riqueza cultural e histórica do país, mas também são atraídos pela gastronomia distinta e vinho de qualidade. E nisso, tal como no futebol, Portugal é campeão.

As regiões vinícolas expandem-se por todo o território luso. Do Porto e Douro até à zona do Tejo, passando pelo Alentejo até chegar à região do Dão, onde se produzem alguns dos vinhos mais apreciados no país e mesmo no estrangeiro. As vinhas estão instaladas em terrenos de baixa fertilidade, predominantemente graníticos com diversos afloramentos xistosos, e estão protegidas dos ventos oriundos do Atlântico pelas serras do Caramulo, Montemuro, Buçaco e Estrela.

A exuberante vegetação com verde de todas as tonalidades, que vai alternando com rocha, contribuem para o quase anonimato da vinha na paisagem. As videiras estão plantadas em cerca de 16 000 hectares, numa área geográfica de 388 000 hectares, onde as gentes do Dão aproveitam as excelentes condições para explorar a sua ancestral aptidão agrícola. Quem procura saborear os vinhos do Dão e, em simultâneo, conhecer um pouco da tradição e cultura relacionada com a produção de vinho nesta região, tem nas vinhas e adegas produtoras um destino obrigatório.

 

Adega Cooperativa de Penalva do Castelo

Situada numa zona privilegiada da região do Dão, na sub-região de Castendo, a adega de Penalva do Castelo estende-se por 1170 hectares, distribuídos pelos concelhos de Penalva e Sátão, cada um deles com caraterísticas singulares para a viticultura. Os seus vinhos tintos, compostos por castas nobres e elegantes, “possuem um aspeto límpido, cor granada, com aroma a fruta madura, encorpados, aveludados com um final de boca persistente. Com o passar do tempo a cor apresenta-se com laivos atijolados e os aromas tornam-se inconfundíveis”, afirma José Clemente, presidente da adega. As castas brancas, após serem transformadas, “originam os inesquecíveis vinhos brancos, com aspeto límpido, cor citrina, frutado com final de boca fresco e prolongado”, acrescenta.

Na génese de um vinho de qualidade, para além da uva, está, igualmente, a excelência de infraestruturas. A adega dispõe de um moderno centro de vinificação com capacidade para 1,5 milhões litros em inox. Tem um laboratório responsável pelo controlo de qualidade de todos os vinhos produzidos e comercializados, e ainda uma cave de estágio equipada com barricas de carvalho “das melhores madeiras do mundo”. Esta sublimidade apenas pôde ser alcançada devido às ajudas que foram disponibilizadas pela União Europeia.

“Há cerca de 5 anos, recebemos fundos comunitários da União Europeia, a rondar os 750 mil euros. Este apoio serviu para desenvolver e melhorar as infraestruturas de transformação, armazenamento e administrativas, para além adquirir equipamentos de fermentação. Algo fundamental para a modernização da cooperativa”, explica Alberto Gonçalves, tesoureiro da adega.

As ajudas comunitárias por parte da União Europeia (UE) não se cingem a fundos comunitários, pois a abolição das fronteiras europeias foi outra condição fundamental para o crescimento da adega. Esta medida facilitou sobremaneira as exportações, “pois antigamente era necessária documentação muito rigorosa para se poder exportar para países vizinhos, o que muitas vezes se tornava incomportável e impeditivo de fazer o negócio”, refere o tesoureiro. Assim, Inglaterra, Alemanha, Suíça e França, entre outros, figuram como alguns dos principais importadores dos vinhos gerados na cooperativa.

A recente certificação da adega, sendo a primeira a ter esse privilégio na região demarcada do Dão, é “de extrema importância para a venda dos vinhos engarrafados para o mercado nacional e essencialmente para o estrangeiro”, afirma.

 

Fazenda Glória de Santar

Em Santar, Nelas, podemos encontrar as vinhas da Fazenda Glória de Santar. Carlos Marques, filho do proprietário, explica o negócio que atravessou várias gerações da família. “Já desde o nosso avô que se cultivava, mas o vinho era quase na totalidade para consumo próprio. Mais tarde, quando o meu pai assumiu as rédeas do negócio, comprou mais terrenos e o comércio do vinho assumiu outras dimensões”, explica. A exploração agrícola da família Marques está em evolução contínua, pois “só assim é possível vingar num mercado cada vez mais competitivo” assume. Carlos Marques introduziu uma visão empreendedora e inovadora na organização.

Neste aspeto, os apoios recebidos da União Europeia foram essenciais. “Os apoios recebidos da União Europeia foram determinantes para a modernização da exploração agrícola e na compra de alguns equipamentos. Sem eles, a exploração agrícola familiar não tinha a dimensão necessária para estar num mercado tão competitivo como o do vinho”, refere.

A empresa está a levar a cabo a substituição de alguns talhões de vinha mais antigas, com cerca de 30 anos. Para isso, a empresa concorreu ao programa VITIS (ver em caixa) e garantiu uma ajuda de centenas de milhares de euros por parte da comunidade europeia para proceder à alteração. A última remodelação das vinhas é datada de 2002, tendo sido também ela comparticipada pela UE.

Os vinhos produzidos por “João Fazenda”, como é conhecido no meio, respeitam o processo tradicional da região do Dão, algo primordial para assegurar a qualidade do vinho. Ou seja, “os tintos em lagares com manta flutuante, os brancos e rosés de bica aberta. Na nossa opinião, a qualidade dos vinhos, está também ligado aos métodos de vinificação praticados”, informa João Marques, proprietário do negócio.

As caraterísticas do vinho da Fazenda Glória Santar são muito apreciadas em Portugal, mas também além-fronteiras. Com um volume de exportação a rondar os 30% da produção da quinta, Carlos Marques tem o objetivo de intensificar as vendas para o estrangeiro. “O vinho exportado é cerca de 30% do que produzimos anualmente e temos o objetivo de aumentar esta percentagem nos próximos anos”, afirma o enólogo.

Brasil, China, Austrália, EUA, Canadá ou Angola são alguns dos países onde é possível degustar os vinhos confecionados nas quintas de Santar há décadas. A estes, mais recentemente, juntaram-se muitos países da Europa, fruto da abolição das fronteiras. “O nosso vinho é comercializado quase em todo o mundo, mas curiosamente foi nos países europeus que demoramos mais tempo a enraizarmo-nos. Esse facto não pode ser dissociado da extinção das fronteiras, que tantos problemas nos levantada para exportar o produto. Tal como as ajudas comunitárias, esta medida foi muito boa para o meu negócio”, expressa João Marques.

 

Texto: Carlos Santos, Gonçalo Moura, João Miguel Carvalho, Luís Pina, Luís Silva

a