“O meu sonho foi sempre o futebol”

Cláudio Pires Morais Ramos nasceu no dia 16 de novembro de 1991, no Touro, concelho de Vila Nova de Paiva. Tem 26 anos e é um futebolista profissional português que joga no CD Tondela como guarda-redes desde 2012/13, clube com o qual conquistou a I Liga em 2014/15. Tem contrato com os beirões até junho de 2020. Vestir a camisola de Portugal é um dos seus objetivos. Acredita ter um lugar para estar entre os eleitos de Fernando Santos. Passou pelo Sport Clube Paivense, Académico de Viseu na época de 2004/05, Repesenses e terminou a formação no V. Guimarães onde despertou interesse, sem nunca vestir a camisola da equipa principal. Seguiram-se empréstimos ao Amarante e Tondela, até ficar em definitivo nos auriverdes. Em 2012/2013 ficou com a titularidade de Ricardo Andrade, tendo na época seguinte destronado Bruno Sousa.  Mais tarde, quando Rui Nereu se lesionou, Cláudio ocupou o seu lugar como titular da equipa, mantendo esse cargo até aos dias de hoje.

Como é ser eleito o Guardião da Primeira Liga 2017/2018 e receber o prémio de melhor guarda-redes da Liga NOS 17/18?

Cláudio Ramos É sempre muito bom vermos o nosso trabalho reconhecido depois de uma época longa, e, também o que é mais importante é o clube e a equipa no geral, mas também é bom sermos reconhecidos individualmente e fico muito satisfeito por isso.

 

Completou 200 jogos pelo CD Tondela, tornando-se no segundo jogador mais utilizado na história do clube, algum dia pensou em conseguir alcançar tanto no clube?

CR Não, no primeiro ano quando vim emprestado pelo V. Guimarães ao Tondela eu nunca pensei que fosse capaz ficar durante tanto tempo, pensei que fosse mais um ano de passagem, que passava um ano em Tondela e depois regressava a Guimarães e isso não aconteceu. Acabei por ficar no Tondela. Já é a sétima época, 200 jogos e ainda bem que isso aconteceu, permitiu-me subir da II Divisão B para a 2.ª Liga, e da 2.ª para a 1.ª e tem-me corrido muito bem as coisas.

 

Esta é a sua sétima época ao serviço do CDT. Qual a importância do clube para si?

CR O CDT faz-me sentir como se estivesse em casa, até porque este clube permitiu-me viver muitas experiências. Já são sete anos ao serviço do clube num total de 200 jogos. Para além disso já tive duas subidas de divisão e mais duas permanências. Tudo isto faz com que eu realmente me sinta em casa no Tondela.

 

No final da época passada teve propostas para sair, mas acabou por renovar o contrato com CDT para 2020. Essa opção justifica-se com essa relação de que fala?

CR Nem mais. E também pelo facto de já estar acostumado ao clube e de ter sentido que o projeto para este ano iria ser um pouco diferente, mais tranquilo, como está a ser.

 

Então essa foi a opção mais correta que tomou, certo?

CR Claro que sim. Nos últimos dois anos houve aquela aflição de ser tudo até à última e este ano as coisas estão muito diferentes. Ficámos com muitos dos jogadores da época passada e estamos a fazer um bom campeonato. Portanto, acho que foi uma decisão acertada da minha parte.

 

Se tivesse sido convocado para seleção nacional, qual seria a sua reação?

CR Sinceramente não faço ideia, acho que no início ficava um bocado surpreendido, não é? É um objetivo pessoal, um sonho pessoal e se isso concretizasse iria ficar muito surpreendido, mas ao mesmo tempo muito feliz.

 

Fazer parte da seleção nacional era um desafio para o qual se sentia preparado?

CR Sim, acho que sim. Qualquer jogador profissional está preparado para atingir os seus objetivos, trabalhamos todos os dias para isso, e se houvesse essa convocação, eu estava muito bem preparado.

 

Tem feito exibições de grande nível, especialmente contra os três grandes, Benfica, Sporting e o F.C. Porto. É uma forma de mostrar que tem qualidade para representar equipas desse calibre?

CR Acho que é normal termos mais trabalhos e aparecermos mais, estou a falar no caso dos guarda-redes, contra os três candidatos ao título, porque eles atacam mais, estamos mais expostos, e por isso é normal que as exibições e os meios sociais dão mais importância a esses jogos do que aos outros. E por isso é que se focam mais nesses jogos quando jogamos com o Setúbal ou com o Estoril, e se calhar é por isso que nós também aparecemos mais.

Ambiciona um dia pertencer ao plantel dos três grandes clubes portugueses?

CR Acho que é uma ambição que quem joga na I Liga e de quem é português, porque é o expoente máximo porque o nosso escalão nacional é jogar num dos três grandes, ou mesmo Braga e Guimarães. São os principais clubes da nossa liga, e é claro que sim, é normal que uma pessoa sonhe chegar sempre mais alto e seres o top do nosso futebol.

 

Este sempre foi o seu sonho, ser um profissional num mundo do futebol, ou tem outro objetivo de vida em mente?

CR A minha mãe disse-me quando eu era mais novo que o meu sonho era ser veterinário (risos), sinceramente só me lembro da parte do futebol. O meu sonho foi sempre o futebol.

 

Como se considera o seu desempenho como guarda-redes?

CR Considero-me um guarda-redes equilibrado, mas tendo como ponto forte o posicionamento dentro dos postes.

 

Na sua opinião, quais as características de um bom guarda-redes?

CR Acho que num guarda-redes, as caraterísticas mais importantes são a confiança e o aspeto psicológico. Porque passamos muito tempo do jogo fora do jogo, sempre sozinhos, temos que estar muito concentrados, temos que ter muita confiança em nós e por isso acho que esses dois aspetos são os mais importantes para um grande guarda-redes de futebol.

 

Qual é que acha que é a opinião dos seus colegas de equipa e do seu treinador, sobre o seu desempenho desde o início da sua carreira até agora?

CR É difícil de falar, pois desde o início da carreira apanhei vários treinadores e vários colegas. No futebol, de um ano para o outro muda muita coisa. Mas o feedback que eles me têm dado e quem acompanha já alguns anos a minha carreira, de ano para ano, a pessoa tem estado melhor, tenho melhorado de ano para ano e isso é normal. Trabalhamos todos os dias para melhorar e de semana a semana a corrigir os nossos erros, mas normalmente o que eles me dizem é que, de época para época, as coisas têm-me corrido melhor.

 

O que também faz diferença é a equipa ter o guarda-redes com mais defesas feitas no campeonato, até ao momento?

CR Sim. Nos últimos três ou quatro anos tenho feito excelentes épocas e este ano também tenho estado bem. E isso é importante: saber que posso ajudar a minha equipa e que a tenho ajudado. Mas não sou só eu. Nós somos a terceira ou quarta equipa menos batida fora de casa e isso é sinal do trabalho de toda a equipa, desde os homens da frente até mim, lá atrás. Sabemos que somos fortes defensivamente e isso é muito importante.

 

E apesar dessa solidez defensiva de que fala, ser o guarda-redes com mais defesas também é um sinal importante?

CR Eu acho que sim. O facto de estarmos a fazer uma boa época e mesmo assim eu ser um dos guarda-redes com mais defesas também é bom para mim. E claro que me sinto feliz com isso.

 

Em quem é que se inspira?

CR Sinceramente não tenho nenhuma fonte de inspiração. Gosto de acompanhar o futebol no geral, gosto de ver bastantes vídeos de guarda-redes do Real Madrid, do Manchester, desses clubes, mas não tenho assim nenhuma fonte de inspiração.

 

Para além do apoio da sua família, da sua esposa, também tem pessoas de fora que o apoiam tanto pessoalmente como nas redes sociais, em que partilham notícias e novidades que vai publicando. Como é que lida e reage a tudo isso?

CR Sim, acho que isso é muito bom. Tenho a minha página pessoal, tenho a minha página profissional e há muita gente que acompanha a minha página, e acho que isso também é muito importante, saber que as pessoas reconhecem o nosso trabalho. E mesmo nos momentos em que as coisas não corram tão bem, eles estão lá e partilham e nos apoiam, e acho que isso também é um dos objetivos das redes sociais. Mesmo que as pessoas estão longe e não conseguem acompanhar e lidar connosco, estão perto, pois têm esse meio para o fazerem e é sempre muito bom.

 

Já alguma vez pensou em desistir do futebol?

CR Sinceramente não, eu saí muito novo de Guimarães, com 14 anos, foi bastante difícil, e agora que olho para trás e vejo todo o sacrifício que fiz, acho que nunca me passou pela cabeça desistir do futebol. Valeu a pena todo o sofrimento, para mim e para a minha família, como fui muito novo para longe, e por isso valeu a pena.

 

Qual o balanço que faz relativamente ao seu percurso profissional enquanto guarda redes?

CR É um balaço bastante positivo, como eu digo e já disse muitas vezes, eu já passei pelas divisões todas. Joguei no Amarante na 3.ª Divisão, fomos campeões e subi à II Divisão B, joguei no Tondela subimos de divisão e também fomos campeões, e bom, tornei-me a ser campeão da 2.ª Liga, e por isso, cheguei da 3.ª Divisão para a 1.ª Liga, sem favores, sem ajudas, só por mérito, e só por isso, é um balanço bastante positivo.

 

Qual foi o melhor conselho que já deu e recebeu?

CR Eu dou sempre o mesmo que também foi o que recebi. Se nós não formos os primeiros a acreditar e confiar em nós, não vão ser os outros a confiar, por isso nós temos que sempre acreditar nas nossas capacidades e acreditar em nós próprios.

 

Como pode observar o Sporting tem sido alvo de grande polémica, o que é tem a dizer acerca deste assunto. Qual a sua opinião como elemento de uma equipa de futebol?

CR Acho que aquilo que se tem passado no Sporting é uma coisa que não deve acontecer, não é futebol, mas isso acho que é um bocado futebol português no geral. Está a ficar “podre” mesmo como se costuma dizer, porque se algum jogador de futebol falha, é porque está vendido, se um jogador faz um bom jogo é porque está comprado para ganhar à outra equipa, e então está-se a tornar um meio de muita desconfiança por parte de toda a gente e isso não é bom para o futebol português. Não é só no caso do Sporting, mas é no geral, e acho que tem que se ter cuidado e tem que se começar a pôr um travão nisso, pois qualquer dia ninguém quer jogar no nosso futebol.

 

Texto: Diana Ferreiro

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