NOS Primavera Sound: nem a chuva parou o festival

Já terminou a 7ª edição do Nos Primavera Sound. Música, emoção e chuva foi com o que se pôde contar.

O NOS Primavera Sound deu o mote de abertura à época dos festivais de verão em Portugal. Realizou-se entre os dias 7 e 9 de junho. A localização não podia ser melhor: o Parque da Cidade, no Porto. Sim, o facto de ser no Porto é importante. Não é justo que a maioria dos festivais sejam no sul do país. Cá para cima também há inovação, tradições, boa gastronomia, muito para conhecer e explorar.

No primeiro dia (7), à chegada, o cheiro a maresia e a relva que se fazia sentir relembrou-me de uma das razões por escolher este festival – a aproximação com a natureza.

Os concertos começaram tarde, para mim, mas de uma forma soberba. Quem melhor me podia receber nesse dia, a não ser Rhye? Com Taste a soar, bem depois da entrada, a voz melódica de Mike Milosh, vocalista da banda, envolve-nos pelas batidas suaves num ambiente relaxante. Mas não se engane, pois também dá vontade de mexer o corpo.

De Rhye passámos para Father John Misty, alter ego de Josh Tillman, que, sem dúvida, arrebatou o público com a sua presença em palco e abertura do concerto com Nancy from now on, o que fez com que os seus fãs o perdoassem logo pelo atraso. Há quem diga que ele é um misto de Nick Cave, John Grant e Jarvis Cocker (vocalista dos Pulp). Merecia o anfiteatro – palco NOS.

A cantora neozelandesa Lorde abriu a noite do festival com um concerto eletrizante. A sua energia e simpatia contagiou toda a gente, até os que pouco ou nada conheciam da artista. Um espetáculo surpreendente, em especial a partir de meio do concerto, quando cantou alguns hits como Magnets, 400 lux e para finalizar em grande, Green Light.

De seguida, o tão esperado rapper norte-americano Tyler, The Creator. Característico e irreverente, com um colete refletor verde e o palco muito bem conseguido a nível cénico, levou o público ao rubro com Who dat boy. Depois do seu álbum “Flower Boy” ter sido destacado como um dos melhores de 2017, o artista fez jus à sua reputação.

Para fechar a primeira noite de festa, dançou-se ao som de Jamie XX.

 

O regresso do sol

A banda portuguesa Black Bombaim iniciou o segundo dia do Primavera Sound (8) e trouxe o sol.

O dia foi marcado por conjuntos de irmãs. Primeiro as Breeders, que vieram presentear-nos com um espetáculo de comemoração dos 20 anos da banda. Foi bom recordar Kim Deal nos Pixies e a sua marcante canção Cannonball.

Uns passos ao lado encontravam-se as gémeas Ibeyi, no palco Pitchfork. Enalteceram o papel da mulher e o feminismo com No Man is Big Enough for My Arms, com uma parte de um discurso de Michelle Obama a fazer-se ouvir. Deixaram-nos levar pelo ritmo de Me Voy e incentivaram o público à rebelião enquanto cantavam “We are deathless”. Um espetáculo memorável.

Vince Staples veio mostrar o que vale com as suas rimas sobre racismo, política, pobreza, enquanto passavam imagens de emissões televisivas num painel. Cantou, dançou e deu energia ao público. Porém, atenção que não foi do agrado do público em geral.

O artista Kieran Hebden, mais conhecido por Four Tet, animava o palco Superbock e em simultâneo, no palco Pitchfork, os norte-americanos Thundercat seduziram o público com o seu jazz de fusão.

Fever Ray, a banda da sueca Karin Dreijer (antiga vocalista dos The Knife),  conquistou os portugueses com a sua banda somente feminina. A estranheza que nos fizeram sentir com a parte visual passou, rapidamente, a ser uma viagem (positiva) complexa pelo mundo da personalidade dissociada com When I Grow Up e IDK About You.

Quem trocou A$AP Rocky por Unknown Mortal Orchestra tomou uma boa decisão. O rapper norte-americano deixou a desejar, com um concerto repleto de sons de explosões e incentivos a mosh pits. Por outro lado, Unknown Mortal Orchestra vieram confirmar aquilo que já sabíamos – são So Good at Being in Trouble mesmo com problemas de som.

 

Festivaleiros à chuva

Por fim, o tão aguardado último dia (9). A chuva não quis migrar para outro lado, mas isso não foi impedimento para qualquer artista ou fã, aliás, intensificou muitos concertos.

Kelela emocionava-se ao ver a chuva a cair sobre o público que tinha. “Significa tanto para mim que me estejam a ouvir mesmo com chuva”, dizia a cantora. LMK foi a música de abertura, que pôs os fãs a dançar desde o início.

Enquanto a organização preparava os festivaleiros para a chuva, dando impermeáveis para a noite chuvosa que se adivinhava, os brasileiros Metá Metá, no palco principal, deram-nos um cheirinho de jazz, rock e funk à mistura.

De seguida, no Pitchfork, uma boa surpresa – Kelsey Lu. A artista mostrou que a solo estava completa, acompanhada de uma mesa com um sampling pad, um pedal de loops e a sua guitarra.

Por volta das 22h00 começava um dos espetáculos mais marcantes desta edição do festival – Nick Cave & the Bad Seeds. O anfiteatro do Parque da Cidade ficou lotado para assistir ao espetáculo. Nem a chuva impedia as pessoas, pelo contrário. Nick Cave cantou à chuva, comoveu o público e para finalizar, com Push the Sky Away deixou que dezenas de pessoas subissem ao palco. A idade é só um número e ninguém melhor do que Cave para comprova-lo.

War on Drugs vieram a seguir, mantendo a fasquia elevada após Nick Cave. Deram principal destaque ao último álbum, “A Deeper Understanding”, com a magnífica balada Strangest Thing e temas mais antigos como Lost in the Dream.

Com chuva torrencial no concerto de Mogwai, a banda escocesa deu-nos música (post-rock) para encerrar o palco principal no NOS Primavera Sound.

Esta edição do festival contou com novos palcos – o palco Seat (considerado o segundo mais importante) e o Bits (uma espécie de pavilhão e armazém dedicado à vertente eletrónica).

O festival do Porto, pela primeira vez, teve para lá de cem mil espectadores, tendo sido esta a edição com maior afluência.

Aguardemos pelo próximo ano, que será de 6 a 8 de junho de 2019 no sítio do costume, rezando para que o sol se faça mostrar e S. Pedro nos ajude.

 

Texto e imagens: Romana Martins

 

 

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