“Abrir hoje uma loja no interior é muito arriscado”

Manuel Miranda Ferreiro é relojoeiro desde os 16 anos e trabalha por conta própria há 33 anos numa ourivesaria no conselho de Vila Nova de Paiva. É perito no que toca ao ouro e relógios.

 

Em que baseia o seu trabalho?

O meu trabalho baseia-se em determinadas coisas dentro do meu estabelecimento. A principal atividade é estar ao balcão para atender e satisfazer as necessidades do cliente, tanto no aspeto de vendas de qualquer artigo, como analisar qual o problema em relógios, quer em reparações de outros artigos, nomeadamente ouro e prata. No intervalo, enquanto não há clientes, dedico-me a fazer reparações dos artigos que os clientes deixam para compor. Outra função do meu trabalho é analisar os artigos em falta para depois poder comprar conforme as necessidades do cliente e o que está na moda.

 

Em que é que consiste a técnica de analisar o ouro?

O ouro é extraído das minas com uma pureza de 999%, porque há sempre umas pequenas impurezas que não permitem 1000% de pureza. O ouro, antes de ser vendido, tem que ser transformado, e nós somos obrigados a cumprir determinadas regras pela lei. Ao que nós chamamos de “ouro de lei” é o ouro ao toque de 800 milésimas. Isto quer dizer que ao ouro, como é um metal muito mole, têm que se adicionar outros metais mais duros para fazer uma liga, e essa liga vai ser afinada ao toque das 800 milésimas. Assim, um quilo leva 800 gramas de ouro fino e 200 gramas de outros metais, os mais usados são a prata e o cobre.

O fabricante executa as peças dentro desta liga, e de seguida leva à entidade responsável máxima que é a contrastaria, uma localizada no Porto e outra em Lisboa. Os artigos são analisados a pente fino para ver se realmente o toque das 800 mm está correto. Se se confirma o toque correto, o artigo está pronto para ser vendido, se por qualquer erro do fabricante ao fazer a liga e o toque for inferior às 800 mm, a contrastaria destrói o artigo, e o fabricante tem de retomar todo o processo tendo o máximo cuidado para que os artigos estejam ao toque certo por lei. Uma vez o toque esteja certo, a contrastaria marca todos os artigos com um “punção” que tem um símbolo de um veado e 800 mm, o que sendo assim, já pode ser comercializado a nível nacional e internacional. Isto leva a qualquer ourives, ao analisar a peça, utilize a lupa e vendo que tem este símbolo, o artigo em questão é realmente um artigo de lei. Caso as marcas estejam gastas, pelo desgaste do uso, o ourives tem de analisar através de uma pedra e com um ácido para verificar se a peça reage ou não ao produto. Se reagir não é ouro de lei, porque o ouro é o único que não reage ao ácido específico. Qualquer outro metal estando mergulhado nessa solução, derrete por completo.

 

Este negócio atualmente é rentável?

Hoje em dia, com a abertura das grandes superfícies, o comércio local está a perder muito terreno, logo muitos dos clientes vão para o aconchego de um grande centro comercial. Os comércios chineses também são uma concorrência muito forte. No comércio local somos abrangidos por determinadas regras específicas que somos obrigados a cumprir, enquanto que nos comércios dos chineses isso já não se sucede. Outro fator é de desertificação do interior, pois toda a gente “foge” para as grandes cidades ficando o interior e por sua vez o comércio tradicional com pouca gente para movimentar. Posso concluir que, abrir hoje um comércio no interior é muito arriscado, tendo em conta que, têm que se fazer um grande estudo do mercado para ver se a aposta é viável ou não.

 

Texto e imagem: Diana Ferreiro

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