Judas representa os incêndios do ano passado

Artistas e voluntários amadores deram vida a mais uma edição da Queima e Rebentamento do Judas em Tondela. Um espetáculo que, para além de entreter a comunidade, serve também para refletir sobre os problemas vividos no ano anterior a nível local, nacional ou até mesmo internacional. 

Foi no passado sábado de Aleluia, dia 31 de março, junto ao Pavilhão Municipal de Tondelam que decorreu a Queima e o Rebentamento do Judas, um espetáculo de rua que contou com a participação de aproximadamente 300 pessoas. Este ano foram os incêndios que afetaram a cidade e os consequentes momentos de aflição vividos no final de 2017 que serviram de inspiração para mais uma edição do espetáculo que, com o tempo, se transformou numa das tradições locais ao ocorrer anualmente na véspera da Páscoa. Os operacionais dos bombeiros que estavam presentes na plateia foram homenageados por todos os presentes, desde artistas a espectadores.

O espetáculo conta com um texto que é resultado de uma reflexão coletiva acerca das situações menos boas que marcaram o ano anterior, teatralizando-se os males apontados através de uma linguagem humorística e sarcástica com a qual os espectadores se identificam. Este ano ironizou-se a culpa dos fogos ocorridos em 2017 através das seguintes falas: “De quem é a culpa? É do sol que queima muito, dos eucaliptos e das matas por limpar. Do governo desgovernado, da chuva que não chove e da terra que não absorve. É das piscinas e dos campos de golfe. É das águas do planalto que vendem a água ao preço do petróleo (…)”.

 

O Judas é “uma figura gigantesca representativa de tudo o que nos oprime e o símbolo de todos os males” que serão destruídos numa “lavagem de alma única e transformadora”, explicou a organização em declarações à Rádio do Centro. O boneco é construído em papel, vimes e canas atingindo uma altura de sensivelmente 8 metros. Inês Cardoso participa nesta atividade desde 2012 e esclarece que: “Todos ajudamos na construção do boneco quando não estamos a ter os ensaios com os grupos a que pertencemos. Contudo, existem pessoas específicas para essa tarefa e que não participam em mais nada durante o espetáculo”.

A Queima e Rebentamento do Judas, na cidade de Tondela, começou em 1985. Graças ao empenho da ACERT – Associação Cultural e Recreativa de Tondela, foi evoluindo e atualmente é resultado de uma semana de trabalho e formação intensiva em áreas como a música, cenografia, movimento, interpretação e figurinos à qual é atribuída a designação de “Fábrica da Queima”.

 

Texto e Imagem: Sandra Ferreira

a