Uma rádio cada vez mais multimédia

As comunicações dos estudos dos últimos anos em rádio estavam reservadas para esta terça-feira, o segundo dia do X Congresso da SOPCOM. As apresentações dos investigadores do grupo de trabalho de Rádio e Meios Sonoros da Sociedade Portuguesa de Ciências da Comunicação prolongaram-se por todo o dia.

Em destaque, durante a manhã, esteve o trabalho de Luís Bonixe, investigador e professor no Instituto Politécnico de Portalegre, que apresentou uma comparação entre a cobertura das três rádios portuguesas de tendência informativa às visitas papais nos anos de 2000, 2010 e 2017.

Intitulada “O jornalismo radiofónico e o multimédia – uma análise à cobertura das visitas papais a Portugal”, a apresentação visava a crescente utilização de meios multimédia da Antena 1, TSF e RR nas visitas de João Paulo II em 2000, Bento XVI em 2010 e, mais recentemente, do Papa Francisco em maio deste ano.

Apesar do estudo de Luís Bonixe mostrar um aumento considerável da utilização do multimédia, sobretudo este ano, na visita do Papa Francisco, o próprio afirma que há muito a imagem faz parte dos trabalhos radiofónicos.

“As três principais rádios de informação que foram o principal objeto [de investigação] do trabalho desta manhã já estão a trilhar esse percurso [da junção do multimédia] e, de facto, hoje encontramos já trabalhos jornalísticos muito interessantes que exploram não apenas o som, mas também todos os elementos que a internet permite explorar”, salientou Luís Bonixe.

Ainda assim, algumas formas de acompanhamento pelas rádios da última visita papal, a de Francisco a 13 de maio deste ano no centenário das aparições de Fátima, deixaram o investigador surpreendido.

Para Luís Bonixe, a utilização que as rádios deram ao vídeo em direto é motivo de interesse: “Isto é muito interessante porque pode indiciar aqui alguma tendência para as rádios trabalharem o vídeo em direto. Elas já faziam este tipo de coberturas em direto com som, mas agora, de facto, foi muito surpreendente ver a utilização do vídeo em direto seja no facebook, seja no próprio site das rádios”, destacou.

No congresso que assinala 20 anos de investigação em Portugal, Luís Bonixe acredita que a rádio se tem conseguido adaptar às mudanças dos tempos.

“A rádio percebeu que, enquanto meio de comunicação, para sobreviver neste mundo cada vez mais dominado pela imagem e pela internet também tem de jogar com algumas dessas armas que estão agora a surgir e, portanto, essa adaptação é fundamental. A rádio está a adaptar-se e a criar produtos muito interessantes e que exploram justamente as potencialidades da internet”, enalteceu o professor do Instituto Politécnico de Portalegre.

“Eu não alinho no discurso de que a rádio está a morrer e a prova de que não está a morrer é que se nos olharmos para as audiências da rádio em geral elas não são menores. Se calhar também não são muito maiores, mas elas mantêm essa constante. Se juntarmos a esta constância das audiências na rádio tradicional um número de pessoas que está a ouvir rádio também através da internet nós até percebemos que não há propriamente uma morte da rádio, mas sim um renascimento”, rematou Luís Bonixe.

Na mesma sessão de apresentações do grupo de trabalho de Rádios e Meios Sonoros em que participou Luís Bonixe, houve ainda mais três apresentações de investigadores portugueses: “O papel do humor no programa Manhãs da Comercial” de Rita Curvelo; “Para a história do jornalismo desportivo radiofónico em Portugal: o contributo da ‘Bola Branca’” de Luís Miguel Nogueira e “O Rádio Clube Português no 25 de Novembro” de Ana Isabel Reis e Helena Lima.

A Mesa 1, que absorvia comunicações relacionadas com narrativas, história e géneros recebeu ainda a apresentação “O Caso JBS: uma análise de enquadramento no jornalismo opinativo no rádio” da investigadora brasileira Bárbara Avrella.

 

Texto: João Pereira

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