O Presidente dos Afetos que aparece sozinho nos jornais

“Marcelo Rebelo de Sousa, um Presidente popular… que ocupa todo o espaço mediático”. Foi este o tema do trabalho apresentado por Felisbela Lopes na mesa de trabalho intitulada “Espaço e fronteiras entre o jornalismo, o espaço mediático e o protagonismo político” do grupo de trabalho de Comunicação Política. Este é um trabalho conjunto de Felisbela Lopes e Paula Espírito Santo, moderadora da mesa.

Tendo por objetivo “perceber de que modo o Presidente da República é mediatizado”, como explica Felisbela Lopes, o estudo faz uma análise de todos os artigos publicados em jornais generalistas portugueses (1313 artigos noticiosos do Diário de Notícias, Público, Jornal de Notícias e Correio da Manhã) entre 10 de março de 2016 e 31 de outubro de 2017.

Para além de caracterizarem o espaço público mediático em Portugal durante o primeiro ano do mandato de Marcelo Rebelo de Sousa, as investigadoras analisaram as fontes de informação citadas pelos jornais. Apesar de 92,6% dos textos sobre o presidente apresentarem fontes, 45,2% desses textos apresentam apenas uma, o que, nas palavras de Felisbela Lopes, começa a “dar algumas pistas sobre um jornalismo que começa a ter alguns problemas”. Segundo a autora, “há aqui uma voz hegemónica, que emerge de imediato em termos de citação de fontes, a voz do Presidente da República”.

Ao analisar o estatuto das fontes citadas, as autoras concluem que a fonte com maior destaque é o próprio Presidente da República. De acordo com Felisbela, o facto de os textos apresentarem com uma expressão tão reduzida (1,5%) os autarcas como fontes “não deixa de ter importância uma vez que temos um Presidente que tem uma preocupação descentralizadora mas quando vai ao chamado país real os autarcas não falam com os jornalistas. Para a autora, “se os jornalistas puxassem pela voz dos autarcas poderíamos ter aqui uma idiossincrasia interessante.”

A conclusão mais surpreendente deste trabalho, como referiu Carla Martins, que assistia à comunicação, é o facto “de este ser o Presidente dos afetos, muito ligado às emoções, o Presidente que consola mas que é apresentado como o Presidente que quando aparece nos jornais está sozinho”.

Segundo as conclusões deste trabalho, os cidadãos, quer sejam cidadãos notáveis ou desconhecidos, não são muito visíveis nos textos que falam de Marcelo Rebelo de Sousa. Paula Espírito Santo referiu que “o Presidente vai junto das comunidades dar-lhes voz mas, o que vem enunciado na imprensa é sempre, em primeira voz, aquilo que Marcelo Rebelo de Sousa diz. Indiretamente as populações estão representadas e são muitas vezes o motivo da notícia mas não são elas que são refletidas na primeira pessoa na construção noticiosa”, acrescenta.

Em forma de conclusão, Felisbela Lopes deixou uma interpelação à sala para futura reflexão e compreensão: “Estes são os factos mas será uma opção de Marcelo Rebelo de Sousa ou dos jornalistas?”

Durante esta sessão, foram ainda apresentados outros dois trabalhos relacionados com o Presidente da República: “A cobertura da campanha eleitoral para as Presidenciais 2016 no Telejornal da RTP1”, tese de mestrado de Sara Calado e “Comunicação Estratégica, conteúdo positivo e reputação: o caso da página do Facebook “Marcelo a fazer Coisas”, de Patrícia Dias e José Gabriel Andrade.

 

Texto: Rafaela Sousa

Imagem: Sandra Dias

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