Comerciantes divididos quanto à realização do Mercado de Natal no Rossio

Quem chega à Praça da República, em Viseu, pela subida da Avenida Dr. António José de Almeida, encontra de imediato uma faixa com a identificação do Mercado de Natal. Entre 8 de dezembro a 8 de janeiro foi este o destino de vários comerciantes que desejavam expor os seus negócios à população viseense e a todos os visitantes que por lá passassem.

Reportagem de Beatriz Guerra

A percorrer a fachada frontal da Câmara Municipal de Viseu e o restante espaço do Rossio, apresentam-se as barraquinhas de Natal que abrangem várias categorias de negócios, desde a alimentação até ao artesanato.

A Ginjinha na Sé é a primeira casa que salta à vista na chegada pela Avenida. O laçarote vermelho que dispõe a rodear a casa e os cartazes que referem a existência da ginja prendem a atenção dos visitantes. Eunice Batista, representante do negócio, mostrou-se ocupada ao tentar entender o pedido de uma visitante de origem chinesa. Como faz o Mercado de Natal em Viseu há cerca de oito anos e apresenta uma vasta experiência em festas e certames, conseguiu elaborar um inglês básico e convencer a visitante a provar um copo da ginja, que resultou num ar de satisfação e na compra de uma garrafa de ginja.

Ginginha da Sé

Passagem do Mercado 2 de maio para a Praça da República

Em edições passadas, o Mercado de Natal realizava-se no Mercado 2 de maio, contudo, os visitantes da aldeia de Natal “têm vindo a aumentar desde que viemos para o Rossio”. Eunice Batista explica que “é muito melhor aqui, porque passa mais gente nesta zona da cidade” e existem muitos viseenses com o hábito de beber uma ginja depois de almoço.

Sentado à volta das suas cestas de palha e a traçar duas fibras na mão como quem estivesse a começar uma nova, Fernando Sampaio queixa-se da meteorologia, como a chuva dificultou os negócios e complicou a realização de animações na rua. O cesteiro reflete ainda sobre a crise e a “disponibilidade financeira das pessoas”, que neste momento “não é a mais favorável para comprar estas lembranças”. Segundo o artesão, “já houve anos melhores, mas este também não foi assim muito mau”.

Cestaria Sampaio

Ainda que prefira o Mercado de Natal na Praça da República graças à maior visibilidade, Fernando Sampaio clarifica que a organização do mesmo não se encontra bem coordenado, uma vez que “se houvesse animações, um palco ali no meio não ia estar devidamente incorporado porque estragava as vistas para as casinhas”, em oposição às antigas instalações onde “havia espaço para tudo e estávamos mais agasalhados”, acrescenta Fernando Sampaio.

Das 16 barraquinhas presentes no Rossio, a Isabel Soares está presente numa e divulga os seus enfeites e presépios de Natal feitos à mão. Envolve-se nestas iniciativas há vários anos e evidencia a valorização que as pessoas reúnem pelo artesanato, “ainda existem muitos colecionadores de artigos artesanais e todos os anos temos que diversificar para apresentar peças diferentes e atrativas”. Em relação às vendas e à divulgação obtida do seu negócio, a artesã refere que é sempre vantajoso estar presente neste Mercado de Natal.

Com a sua ampla experiência em eventos natalícios, a expositora avalia o Rossio como um local de passagem, que por um lado “beneficia o destaque que os negócios recebem”, mas por outro lado “não tem a devida atenção das pessoas que passam com alguma pressa”.

A falta de animação revela-se também um ponto negativo na medida que não existem atividades que prendam os visitantes e “façam com que eles vejam os produtos com mais tempo”. Isabel Soares exemplifica ainda que no Mercado 2 de maio decorriam atividades com o pai natal. Isso “trazia muitas famílias e fazia com que passassem muito tempo connosco”, considera.

A recomendação de um espaço mais favorável

Natural da margem sul de Lisboa, Maria de Lurdes veio de Almada para Viseu há cerca de nove anos. Recorda com saudade as praias e as feirinhas que decorriam na sua cidade natal. Todas estas memórias revelaram uma necessidade de participar nas festas e nos eventos programados em Viseu.

Maria de Lurdes

“Já passei muitos anos o Natal no Mercado 2 de maio, era um espaço mais resguardado, só que muita gente não entrava”, afirma Maria de Lurdes, ao explicar que no Rossio existe mais opção de venda.

Para apelar a mais pessoas e mais estrangeiros, a lojista sugere a realização de feiras todos os fins de semana no parque da cidade. “O povo português é de hábitos, se souberem que há festas eles ganham o hábito de visitar o comércio local”, sublinha. Segundo a artesã, o parque da cidade seria o local ideal para realizar o Mercado de Natal e todas as atividades a realizar durante o ano, além de ser “um espaço bonito”, apresenta “uma área muito grande onde se podia fazer muita coisa”.

A última casa de madeira a ocupar a parte da frente da Câmara Municipal de Viseu é dos Sabores da Chousa Velha, um negócio de produção de frutos vermelhos que com a boa aceitação que recebeu na fase inicial do projeto, expandiu-se para todos os eventos deste género.

Sabores da Chousa Velha

Rita Miranda, questionada sobre a preferência entre a realização do evento na Praça da República ou no Mercado 2 de maio, admite que “como viseense preferia o mercado”, pois “vivia-se mais o espírito natalício”. “O Natal é das crianças e aqui estamos a esquecer esse fator”, diz, acrescentando a observação de que a zona é rodeada por estradas e esse perigo faz com que alguns pais evitem passar muito tempo distraídos com compras.

Rita Miranda, acompanhando a ideia da colega da casa ao lado, explica que o local mais indicado para a realização desta iniciativa seria o Parque Aquilino Ribeiro, visto ter “ainda mais espaço para outros negócios serem divulgados, espaço para a magia do Pai Natal e as máquinas de neve e ainda oficinas, espetáculos e atividades para os miúdos.”

Ainda sobre as crianças, Joana Cunha, representante do negócio How to Zero, expõe: “o que nós sentimos por observação é que não havia animação para as crianças e elas andavam aqui a volta do mundo a tenter entreter-se”.

Necessidade de dinamizar a Rua Direita

Além do Mercado de Natal estar situado no Rossio, recebe uma extensão de dez espaços na Rua Direita. Durante um mês as lojas desocupadas nesta rua recebem inquilinos provisórios como artistas, artesãos e espaços para workshop.

Segundo o presidente da Câmara Municipal, Fernando Ruas, a tradição do Natal tem um relevo acrescido em Viseu. “Termos colocado a Casa do Pai Natal na Rua Direita e espalharmos o nosso Mercado de Natal entre o Rossio e a Rua Direita, tem o objetivo de dinamizar o comércio local”, afirma.

No ano passado Joana Cunha divulgou a sua mercearia a granel numa loja da Rua Direita e revela que não correu da melhor forma devido à “pouca visibilidade” que obteve. Culpa a falta de visitantes à “fraca sinalização que o município ofereceu” da extensão que o Mercado tinha para a rua.

How to Zero

Este ano o negócio está presente numa casa de madeira no Rossio visto “ter mais visibilidade”. A comerciante já alertou sobre o facto de que “aqui no rossio não existe avisos que indiquem que a feira continua para lá, devia haver um cartaz com horários” e mesmo na Rua Direita, “a informação que explica que a loja em questão pertence ao Mercado de Natal é muito discreta” e conclui a referir que a decisão de colocar na Rua Direita as atividades relacionadas com a neve e o Pai Natal tem sentido para chamar mais público e turistas.

As luzes de Natal como principal atração do Rossio

Cerca de 422 mil lâmpadas de tecnologia LED enfeitaram as ruas, praças e avenidas da cidade jardim, de forma a incutir o espírito natalício na população visiense. As luzes utilizadas são de baixo consumo, amigas do ambiente e estiveram ligadas em horário reduzido das 17 horas às 23 horas.

O presidente da cidade explica que a câmara está preocupada com a sustentabilidade ambiental e isso motivou a instalação de um “Mundo Verde”, no Rossio, uma grande escultura que “inspira na temática ambiental de um mundo mais sustentável, principalmente os mais pequenos, e que, ao mesmo tempo, coloca a cidade de Viseu “no centro do Mundo”.

A maior parte dos expositores refere que as iluminações este ano estavam “fantásticas” e “maravilhosas”, o que incentivava as famílias a apreciar as luzes da Natal com os filhos e criar recordação nesta época natalícia.

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