Rita, uma ópera satírica e crítica em torno da violência doméstica

Rita é uma célebre peça de ópera cómica da autoria de Gaetano Di Donizetti. A ACERT (Associação Cultural e Recreativa de Tondela) exibiu uma adaptação por parte da companhia Versos e Duetos, em português, assinalando assim a abertura do seu 28.º Festival Internacional de Teatro.

Por Sara Silva (fotografia de Daniel Nunes)

Para uma espectadora assídua de ópera, assistir a uma peça em português foi uma novidade agradável. São poucas as óperas que são adaptadas para a nossa língua, por isso é de valorizar o trabalho feito por José Rui Martins – encenador e cenógrafo – nesta adaptação. Também é de assinalar a diversidade de espetáculos longe dos grandes centros urbanos, tendo em conta que a ópera é um estilo de teatro menos conhecido e que não agrada facilmente toda a gente pela lírica envolvida durante o espetáculo.

A peça retrata a vida de uma mulher, Rita (Maria Mendes), que pensa que perdeu o seu primeiro marido Gasparo (Luís Rendas Pereira) num naufrágio e com isso, volta-se a casar com Beppe (Victor Sousa). A peça inicia com Beppe a partir involuntariamente uma peça de porcelana para flores e a história desencadeia-se a partir daí. Rita tem um comportamento violento e abusador com o marido, por afirmar ter sofrido do mesmo com o seu ex marido e acaba por bater em Beppe por ele partir o vaso.

Gasparo entra em cena de forma inesperada pois, fica bastante tempo a conversar com Beppe sobre como um casamento deveria ser na sua visão- “um casamento à russa” -, com base na violência perante a mulher e com uma visão deveras conservadora. Gasparo pensava que Rita tinha morrido num incêndio, mas a certo ponto, depara-se com ela. Rita observa também Gasparo e ambos ficam confusos com o que estão a ver.

Para Beppe foi uma felicidade saber que o suposto ex-marido de Rita estava vivo pois isso era sinónimo de puder escapar da relação infeliz onde se encontrava até perceber que amava Rita e não lhe desejava ficar com alguém que a maltratasse.

Esta ópera é uma sátira que, apesar de ser antiga, continua a abordar um tema bastante atual e os atores brincam com isso, fazendo uma pausa a meio da peça, para explicar que não passa de uma ridicularização de um tema deveras sério, mas de forma crítica.

O FINTA (Festival Internacional de Teatro da ACERT) decorreu entre os dias 8 e 12 de novembro. Este ano o festival ofereceu uma programação diversificada, com espetáculos intensos e inovadores, com destaque para as criações portuguesas e espanholas, celebrando não só teatro ibérico, mas também o teatro na sua transversalidade com outras disciplinas artísticas.

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