Termas Óquei Clube: 69 anos de história e a luta pela manutenção na 2.ª Divisão

Um clube que honra os seus compromissos, os seus pergaminhos e a sua história. Renasce das cinzas e em três anos conquista aquilo que muitos não conseguem em tão pouco tempo. Não teme as lutas, não fraqueja em frente ao adversário. Começa por engrandecer o seu nome na região de Lafões e hoje, o Termas Óquei Clube afirma-se no plantel Nacional da Segunda Divisão com o objetivo de manter o lugar.

Reportagem de Mariana Loureiro

9 derrotas, 3 vitórias e um empate. Das catorze equipas séniores da zona norte, o Termas Óquei Clube (TOC) ocupa a 11.ª posição. Ainda longe de encerrar o campeonato, com 13 jornadas pela frente, o ambiente já se revela intenso para a modalidade da região do centro de Portugal, na cidade de São Pedro do Sul. “A exigência é outra, mas organizámo-nos e preparámos a equipa a todos os níveis para o efeito”, admite Manuel Ferreira, vice-presidente do TOC.

A caminho da 14.ª jornada, com a disputa em casa do Famalicense Atlético Clube, no dia 29 de janeiro, o membro da direção não esconde que, “sem dar um passo maior que a perna, o objetivo do clube passa pela permanência na Segunda Divisão”. Manuel Ferreira, residente no concelho, acrescenta ainda que o próximo passo consiste em, “calmamente, ganhar sustento para preparar o futuro do Termas OC”.

Pedro Ferreira, atual treinador do TOC, chegou no início da época 2021/2022. Começa a carreira de treinador em 2010 e, antes de ser convidado para cooperar com a equipa da região de Lafões, o ex-jogador da Académica de Coimbra treina o Hóquei Clube da Mealhada, na cidade situada no coração do país.

Embora não tenha acompanhado o clube na subida de divisão em julho do ano passado, com a vitória frente ao ACD Vila Boa Bispo por 5-1, Pedro Ferreira acredita que o Termas OC “está num processo de subida” e que “certas dinâmicas devem ser fortalecidas para que os resultados venham ao encontro das expectativas”.

Apuramento do Termas Óquei Clube à subida da 2.ª Divisão Nacional, em casa

O apoio fundamental do Município para a disputa do campeonato

O Município de São Pedro do Sul é o alicerce do Termas Óquei Clube que, através de um contrato-programa anual, proporciona apoios logístico e sobretudo, financeiro, a todos os clubes desportivos do concelho. Em função da participação do TOC nos Campeonatos Nacionais de Hóquei em Patins, as autarquias têm fornecido um valor financeiro ao clube, na ordem dos 40 mil euros.

Pedro Mouro, vereador do desporto da Câmara Municipal de São Pedro do Sul, declara que “o montante tem vindo a aumentar de ano para ano” devido às “deslocações dispendiosas” por todo o território nacional, em função do material para os jogadores e dos atletas que são necessários recrutar.

Quanto ao local onde a equipa reúne, espaço que é regularmente utilizado para treinos e jogos, o vereador do desporto da cidade termal relembra “a recente contribuição do Município nas obras e melhorias do pavilhão David Correia de Andrade”, para que “a prática da modalidade tenha cada vez melhores condições”.

O vice-presidente do clube manifesta ainda que “só é possivel a disputa no campeonato nacional graças ao apoio do Município e dos patrocinadores que suportam o projeto”.

Os entraves da pandemia e a falta do público em casa do TOC

A retoma da atividade desportiva que obriga à realização de milhares de testes nos atletas, com finalidade de detetar a doença da Covid-19, não foi diferente no caso do Termas Óquei Clube. Manuel Ferreira certifica que “o TOC segue todas as regras ditadas pela Direção Geral da Saúde e, nos treinos realizados três vezes por semana, os jogadores são devidamente testados”.

Com o campeonato interrompido na época 2019/2020, momento em que as infeções diárias pelo coronavírus começaram a disparar em Portugal e no mundo, o Termas OC viu suspensa a primeira oportunidade de assegurar o lugar na Segunda Divisão, já a poucos pontos de competir contra as equipas no pódio.

Manuel Ferreira confirma que, “sendo as Termas de São Pedro do Sul uma região de turismo, o clube ainda hoje é afetado na questão dos patrocinadores” e, nesse sentido, “o apoio do Município torna-se fundamental para se conseguir dar a volta”.

Jogo do Termas Óquei Clube em casa, após a retoma da atividade desportiva

O vice-presidente não deixa de salientar a “importância do público nas bancadas e o abalo sentido pela falta de apoio dos sócios e simpatizantes durante os jogos em casa”, caracterizando os tempos pandémicos como “desafiantes, mas que originaram uma forma mais cautelosa de gerir o clube”.

A importância de um “bom balneário” para uma equipa vencedora

“Juntos somos mais fortes” é o lema do TOC e a expressão que Manuel Ferreira, vice- presidente, procura implementar no clube, através de um “ambiente saudável e familiar”. O membro da direção esclarece que “se não se criar um balneário unido e se não existir uma sintonia entre equipa técnica, jogadores e público, o clube não faz sentido”.

Existem sempre pontos positivos e negativos e nas vitórias é mais favorável manter o clima entre jogadores unido. Segundo o vice-presidente, “o TOC não tem conseguido tantos jogos ganhos quanto os que desejava e para os quais tem trabalhado”, mas não é isso que impede a equipa de continuar a trabalhar dentro e fora do balneário “em prol do sucesso do clube e do bom relacionamento, sobretudo, entre os atletas”.

Ricardo Pereira é considerado uma das grandes apostas e contratações do TOC, um ano depois de se ter reativado o clube, na época de 2017/2018. Aos seis anos começou a defender na baliza da União Desportiva Oliveirense, passou pela Seleção Portuguesa de Hóquei em Patins Masculino e é o ex-guarda-redes do Hóquei Académico de Cambra, equipa que atualmente se encontra no sexto lugar da classificação geral.

Ricardo Pereira, guarda-redes principal do Termas Óquei Clube

Com 29 anos de experiência na posição de defesa, o atual guarda-redes principal do Termas Óquei Clube garante que, “para a criação de um grupo forte, é necessário fazer as escolhas certas e, mais que qualidade, o importante é a conduta de um jogador que olhe para o bem comum e não apenas para o seu umbigo”.

Os condicionalismos de um clube do interior são um entrave à manutenção do lugar?

As Termas de São Pedro do Sul acolhem um passado de 69 anos da história do TOC. A modalidade de hóquei em patins, com um cariz marcante para as gentes da zona, distingue-se, para o treinador, pela “capacidade de organização e construção de uma equipa, por parte da direção, mediante todos os condicionalismos de um clube tão afastado dos centros de hóquei”.

O guarda-redes Ricardo Pereira, que abraça o projeto do Termas OC há três épocas consecutivas, reconhece que “a prestação do TOC ganha alguma dimensão pelo facto de um clube do interior se colocar na disputa com regiões muito fortes e ricas em tradições”.

Fundado em 1953, o clube permaneceu inativo durante anos, devido à falta de atletas e más condições de instalações. O sénior masculino conclui que “as zonas junto ao litoral possuem mais ofertas de jogadores em relação ao Termas OC”, que geograficamente se debate com essa dificuldade.

“Há clubes que andam anos para conseguir o que o TOC conseguiu em tão pouco tempo”

Títulos regionais, a presença no Campeonato Nacional da 1.ª Divisão e nas Taças de Portugal, são marcos da equipa que teve uma forte aposta na região durante as décadas de 50, 60, 70 e 80. É no fim dos anos 90 que o Termas OC suspende a modalidade de Hóquei em Patins, no escalão de séniores masculinos.

Por iniciativa de Tiago Ferreira, o atual presidente do TOC, a modalidade volta a reativar em 2016, na terra que em tempos a viu chegar longe. Manuel Ferreira, vice-presidente, confessa que “inicialmente se procurou criar uma equipa para reativar o clube” e, a partir daí, “de acordo com o perfil de jogadores que já sabíamos que queríamos contratar, fomos consolidando a equipa”.

O treinador do clube alega que “as saídas as saídas e entradas de novos jogadores poderiam não favorecer logo a entrada no campeonato, como seria desejado”. Ainda assim, Pedro Ferreira confessa que a “equipa apresenta-se mais forte e consciente nos jogos daquilo que é preciso fazer”.

O guarda-redes, Ricardo Pereira, acredita que “há clubes que andam anos para conseguir o que o TOC conseguiu em tão pouco tempo” e mesmo não pertencendo à região das Termas de São Pedro do Sul, o clube é um “motivo de orgulho” para o atleta que contribuiu para a rápida evolução da equipa até ao plantel Nacional da Segunda Divisão.

A atual direção, formada por ex-atletas do Clube, fomentou e apresentou aos sócios e simpatizantes do clube um projeto que reergueu o Hóquei em Patins em São Pedro do Sul, que oferece novamente aos sampedrenses novas vitórias e uma nova forma de potenciar e gerar movimento na região turista da Lafões.

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