A política-espetáculo

Durante as últimas semanas, temos assistido a vários debates entre os candidatos (com representação parlamentar) às eleições legislativas de 30 de janeiro. Se, por um lado, a existência destes debates é benéfica para a nossa sociedade, por outro, a forma como foram planeados, encarados e concretizados deixa muito a desejar.

Por Kevin Santos

Que bom que é ver os portugueses mais interessados em política. Tenho pena que o povo português continue neste estado de hibernação e, apesar de  parecer acordar aos poucos, guardo algumas reservas relativamente a este interesse súbito dos portugueses em matérias políticas. Porquê? Porque não estamos a falar de debates realmente construtivos e que representem algo de positivo para o nosso país. Antes, observamos uma espetacularização da política, a política-espetáculo. Os debates colocam, frente a frente, dois representantes de partidos candidatos (apenas os que interessam aos media…) e vamos observando uma batalha de vários rounds, em que o jornalista se apresenta como autoridade arbitrária, por vezes com um tom professoral, quando os alunos… Perdão, os candidatos se perdem em guerrilhas de palavras que fazem lembrar o “quem o diz é quem o é!”. As televisões apresentam, ou apresentaram, debates como se de combates de boxe ou artes marciais se tratassem. 

No final dos debates, para agravar a situação, discute-se sobre quem venceu o debate e quem saiu derrotado. Pois bem, quem ganha, ou ganhou, não sei, até porque não sou muito disto da política. Mas quem perde, disso não tenho dúvidas, é o povo português. Durante os debates, esquecem-se as propostas e os programas eleitorais. Comparam-se os tamanhos dos documentos, como catraios comparam outras coisas  nas casas de banho ou nos balneários da escola – “o meu é maior que o teu” – e quem acaba pequeno é Portugal. Este país precisa de soluções e estratégias eficazes para atrair os cidadãos para as suas responsabilidades cívicas. Este sistema apenas contribui para a perpetuação dos problemas que nos assombram há vários anos.

Num país com taxas de abstenção tão elevadas, o aparecimento de movimentos extremistas torna-se ainda mais perigoso e esta exploração da política, de uma forma sensacional e espetacular, apenas favorece estes movimentos. Os discursos populistas, que nos vão sussurrando ao ouvido as palavras que queremos ouvir, garantem, desta forma, um palco com ainda maior destaque. Figuras com grande poder de retórica mostram-se, naturalmente, muito fortes neste tipo de confrontos, uma vez que os programas eleitorais são postos de parte e apenas se atacam as propostas dos adversários (ou os próprios adversários).

Com isto, devo abordar, também, a questão do tempo. Como poderão os partidos apresentar as suas propostas em tão poucos minutos? Mesmo pondo de parte as várias discussões histéricas e vazias, não haveria tempo suficiente para apresentar os programas eleitorais (pelo menos a maioria…). Portanto, este espetáculo televisivo não favorece, em nada, os reais interessados num futuro melhor para este país.  

Estes debates provocaram um maior interesse dos portugueses na discussão política, porque acabavam por ver os confrontos, quer por interesse nos programas e propostas, quer pelo próprio entretenimento. Contudo, a política que se discute, não é a política que realmente importa, a que garante um futuro próspero para Portugal. Discutimos apenas quem ganhou e quem perdeu, como se de um jogo de futebol se tratasse. Bem, se calhar é mesmo o futebol a única forma de convencer os portugueses a ir às urnas… Ou o futebol ou o Big Brother.

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