“Quanto mais tu sabes sobre futebol, mais o odeias”

Como tudo na vida, o futebol tem o seu lado bonito – a magia do futebol, com os artistas, os cânticos e as emoções fortes – e o seu lado negro, que também não nos é estranho… Os exemplos são muitos: os confrontos entre adeptos, a ditadura do dinheiro, etc. Mas hoje vamos falar de uma (alegada) faceta do futebol que é ainda mais negra.

Por Kevin Santos

Durante um Space (um direto) do Twitter, no dia 18 de novembro, Romain Molina fez algumas revelações chocantes sobre os bastidores do futebol mundial. Apesar de não se tratar de informação oficial, são alegações fortes e Molina prometeu lançar mais informações sobre os casos. Falamos de episódios de violência, alcoolismo, pedofilia e abusos sexuais, que envolvem jogadores, treinadores e dirigentes de clubes e federações internacionais. Romain Molina é um jornalista de investigação (e desportivo) e escritor francês, de 30 anos, que conta com publicações em vários jornais conceituados e com 6 obras publicadas.

O jornalista francês, que em 2020 denunciou um caso de alegados abusos sexuais na Federação de Futebol do Haiti, acusou Ferland Mendy, jogador do Real Madrid, de agredir uma mulher com socos e pontapés na cabeça, antes de lhe mostrar os genitais. Segundo Molina, o Olympique Lyon, clube do jogador na altura, encobriu o caso, antes da transferência para o Real Madrid. O jornalista freelancer garante, também, que mais de 400 jogadores, que jogam atualmente na Premier League, Championship, Ligue 1 e Ligue 2, foram abusados sexualmente quando jovens e que alguns deles, inclusive, contraíram doenças e lesões, que exigiram tratamento em clínicas privadas. Uma situação que acontece há duas décadas e que Molina promete desvendar, com a primeira história a ser publicada em dezembro.

O escritor, que conta com publicações em jornais como The Guardian ou New York Times, acusou, ainda, Megan Rapinoe, jogadora dos Estados Unidos da América conhecida pelo seu ativismo, de preferir “ganhar dinheiro”, ao invés de “defender as jovens raparigas” haitianas. E a seguir, listo vários casos apontados pelo jornalista francês:

  • Vários clubes e agentes pagam ao portal Transfermarkt para aumentar o valor dos jogadores;
  • A troca Arthur/Pjanic foi ilegal e ninguém fez nada quanto a isso;
  • Mais de 100 empregados abandonaram o Paris Saint-Germain durante o último ano e Leonardo, diretor desportivo do clube, é odiado pelo seu comportamento/atitude. A contratação de Icardi também não foi bem recebida pelo treinador da época;
  • Personalidades importantes ‘vergam-se’ perante Nasser Al Khelaifi (PSG);
  • 80% dos jogadores fumam shisha. Os jogadores do PSG costumavam levar shisha/hookah com eles para os jogos fora. Blaise Matuidi fumava regularmente, mas as coisas corriam-lhe bem;
  • Didier Deschamps lesionou, propositadamente, um jogador da seleção francesa;
  • Emmanuel Macron teve influência no regresso de Benzema à seleção;
  • A Federação Francesa de Futebol pressiona para que algumas personalidades sejam contratadas por seleções africanas. Aconteceu com Didier Six, que treina a Guiné e já treinou Togo e Maurícia;
  • Há vários casos de abusos sexuais na seleção feminina de França;
  • Um jogador internacional francês organizou festas em que defecava na boca de mulheres e filmava-se enquanto o fazia. Ele forçou uma rapariga, que mais tarde fez queixa, a participar. Alguém ofereceu o vídeo a Molina, mas ele rejeitou ver;
  • Um ex-jogador internacional francês envolveu-se em tráfico de drogas e outros produtos. O presidente do seu clube ‘salvou-o’;
  • Um jogador fez uma partida a outro, apresentando-o a uma menor e fazendo com que ele dormisse com ela;
  • Benjamin Mendy (jogador do Manchester City que se encontra detido) fez coisas “inimagináveis”;
  • O Amiens, da Ligue 2, é um ‘circo’. No regresso dos jogos fora, todos cheiram a álcool. Os jogadores adoram álcool, shisha e ‘noites de bebedeira’;  
  • A campanha negativa em torno do Mundial do Catar é política e financiada por pessoas/organizações que querem o mal do país;
  • Um jogador do Spezia desapareceu. Este caso está ligado a tráfico humano e a uma academia fundada na Nigéria pelo presidente do clube italiano;
  • A FIFA afirma que apoia o futebol feminino, mas não atua na proteção das raparigas/mulheres de abusos, que acontecem de forma recorrente, um pouco por todo o mundo;
  • Uma menor foi violada e forçada a abortar num “centro internacional da FIFA”;
  • Alguns jogos na Ásia têm resultados combinados e vários jogadores deixaram de jogar pelas suas seleções por causa disto;
  • Os resultados nas ligas do sudeste asiático, leste europeu e em vários países da América Latina são combinados. Também há muitos jogos combinados na Irlanda, Malta e Gibraltar;
  • Elye Wahi, atualmente no Montpellier, não foi despedido pelo SM Caen por ter agredido um supervisor da academia, mas porque obrigou, através ameaças físicas, alguns colegas a despirem-se e masturbarem-se à sua frente;
  • Um clube da Ligue 1 encobriu um caso de pedofilia na sua academia, fazendo uma lavagem cerebral ao jogador, antes do envolvimento das autoridades. Mais tarde, enviaram a vítima de volta ao seu país;
  • Os jogadores do Arsenal inalam óxido nitroso;
  • Um treinador internacional foi apanhado em flagrante, depois de violar duas meninas de apenas 13 anos, durante um torneio. O seu empregador despediu-o, sob outra justificação, em 2017. Um assunto de especial interesse para os franceses, considerando o envolvimento de uma personalidade muito amada pelo público no encobrimento desta história;
  • O “responsável pela arbitragem colombiana” é um pedófilo. Uma criança de 12 anos enviou uma queixa a Molina, mas este não foi capaz de ler tudo porque é angustiante;
  • Um jornalista do L’Équipe tem estado envolvido em “coisas obscuras” durante os mercados de transferências;
  • Vários jogadores africanos receberam grandes quantias de dinheiro para representarem as suas seleções. Mario Lemina, do Gabão, é um exemplo;
  • Uma das maiores academias na República Democrática do Congo é gerida por uma rede de pedofilia;
  • Na Federação da Mongólia, os abusos sexuais são recorrentes, incluindo as jogadoras da equipa de sub-15 feminina. Um treinador propôs dormir com a avó de uma jogadora em troca de um lugar no 11 inicial;
  • A maioria dos presidentes de federações de futebol africano recebem prostitutas pagas ou pagam os estudos das filhas noutros países com dinheiro das federações;
  •  Marrocos tem grande influência na Confederação Africana de Futebol e “fazem o que querem”;
  • A federação queniana tem 16 contas bancárias diferentes, incluindo contas ‘escondidas’. A maioria das federações tem uma ou duas;
  • Timor-Leste eliminou a Mongólia, pagando a jogadores brasileiros para jogar;
  • A federação de futebol da Serra Leoa falsificou testes de Covid-19 durante a pandemia, por exemplo no jogo frente ao Benin. Outras federações e clubes também são suspeitos de falsificação destes documentos, mas nada confirmado até ao momento;
  • Depois das queixas do Senegal acerca de um jogador adversário que excedia o limite de idade num encontro de sub-17, o jogador foi declarado ‘morto’. Ele continua a jogar, agora na seleção sub-21 do mesmo país;
  • A organização terrorista Al-Qaeda usa o futebol para recrutar novos membros.

É difícil digerir tanta informação… e a confirmar-se a veracidade destes casos, o mundo do futebol vai ‘abanar’. O jornalista francês prometeu lutar contra estes fenómenos que assombram o futebol e afirmou que “haverá um antes e depois no futebol mundial”, depois das revelações que irá lançar em março e abril de 2022. Por agora, resta-nos esperar… e por mais que deseje que Molina tenha inventado tudo isto, tudo me parece demasiado real para que sejam apenas mentiras. Não é estranho que a Federação Francesa de Futebol, um dia depois de Romain Molina lançar estas ‘bombas’, anuncie o reforço da ação em favor da proteção dos cerca de 2 milhões de atletas federados, incluindo cerca de 1 milhão de menores de 18 anos? Será o início de (mais) uma revolução no futebol? Será que isto é tudo verdade e, tal como evoca Molina, “quanto mais tu sabes sobre futebol, mais o odeias”? O tempo o dirá…

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