Sobre o fim do Cartão do Adepto

Na passada quarta-feira, dia 10 de novembro, foi aprovada a revogação do Cartão do Adepto, que havia sido introduzido no início desta época e causou uma autêntica avalanche de críticas negativas e contestação por parte da larga maioria dos adeptos do futebol português.

Por Kevin Santos

Os cânticos soavam um pouco por todos os estádios, as críticas surgiam através de responsáveis dos vários clubes da Liga Portugal Bwin… E, depois de meses de contestação, a medida, que visava o controlo e identificação dos elementos pertencentes a claques, caiu. Podemos mesmo afirmar que a iniciativa aplicada pela Autoridade para a Prevenção e Combate à Violência no Desporto (APCVD) estava, na sua génese, condenada ao fracasso. Porquê? Ora vejamos, como poderemos combater fenómenos como a xenofobia e o racismo, segmentando e estigmatizando os adeptos do desporto rei? Não se torna ironicamente absurdo?

            Num país em que há uma extraordinária dificuldade de preencher as bancadas em cerca de 80 ou 90% dos jogos e estádios (se não mais…), o Cartão do Adepto não só não se mostrou eficaz em relação ao seu objetivo, como causou ainda mais problemas, uma vez que afastou, ainda mais, os aficionados dos eventos desportivos. O futebol – o desporto, aliás – é de todos, sejam novos ou velhos, indivíduos ou famílias… e não devemos criar zonas específicas destinadas a quem quer que seja. Ainda para mais, exigindo uma carrada de dados pessoais –  nome completo, morada, documento de identificação, número do documento de identificação, data de nascimento, número de identificação fiscal, endereço de correio eletrónico, número de telefone e promotores de espetáculos desportivos que apoia. Sim, isto tudo!

            Considerando a contestação de todas as partes envolvidas no mundo do futebol português, sou obrigado a concordar com Miguel Pinto Lisboa, presidente do Vitória Sport Clube (Guimarães), quando afirma que a revogação “apenas peca por tardia”. Mais, não compreendo, sequer, como esta iniciativa foi autorizada (já expliquei porquê). Mas, por outro lado (que não é bem outro lado, mas vocês entendem), eu espero, realmente, que a luta pelo controlo e promoção de boas práticas em eventos desportivos continue. Aliás, espero que haja uma revolução positiva para que estes fenómenos sejam erradicados de uma vez por todas, porque não há espaço no futebol (no desporto e no mundo!) para este tipo de atitudes.

Apesar do Cartão do Adepto não representar a solução ideal, o problema é real e continua(rá) a existir, infelizmente. Acredito que a Autoridade para a Prevenção e Combate à Violência no Desporto deve redirecionar o foco dos seus esforços para a implementação de novas estratégias que visem o controlo e promoção de boas práticas de segurança e o combate ao racismo, xenofobia e qualquer outro tipo de discriminação nos eventos desportivos (que era o objetivo primordial do Cartão do Adepto).

O fim do Cartão do Adepto é motivo para festa no futebol português. Mas quão maior/melhor seria a festa se o respeito fosse caraterística imanente do adepto português?

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