Semestres online foram “trabalhosos, exigentes e difíceis”, dizem estudantes de Viseu

Trabalhosos, exigentes e difíceis são os adjetivos que os estudantes dos cursos mais práticos de Viseu atribuem aos últimos dois semestres lecionados, na maioria, em regime online. Desporto, Enfermagem, Fisioterapia e Medicina Dentária são alguns dos cursos mais práticos do ensino superior da cidade de Viseu.

Reportagem de Inês Ferreira e Maria Lobo

A vida académica corria como esperada para estes estudantes, até que aparece a Covid-19, que obrigou a uma mudança trágica na vida de todos os cidadãos. Apesar de todo o ensino superior ter tido mudanças devido às circunstâncias que se viviam, os cursos mais afetados foram os que têm maior número de unidades curriculares práticas.

Relativamente à adaptação dos docentes e estudantes ao regime online, aquando do primeiro confinamento, as opiniões são diferentes de curso para curso e até mesmo de ano para ano.

Carolina Pratas, aluno do 2º ano do curso de Fisioterapia do Instituto Piaget de Viseu confessa que “foi difícil ter aulas online num curso tão prático”, mas que, no geral, correu bem. Mariana Correia, aluna do mesmo ano e curso diz que, apesar de os docentes terem conseguido encontrar a melhor forma de dar as aulas online, “as aulas práticas são muito mais enriquecedoras se forem presenciais”.

O aluno do 4º ano de Desposto e Atividade Física da Escola Superior de Educação de Viseu (ESEV), Pedro Lobo, justifica algumas lacunas no sistema de ensino com o facto de ninguém estar preparado para esta nova realidade. “Primeiramente, a sociedade andou mais preocupada em estabilizar a propagação do vírus e só depois reformular o quotidiano da sociedade”, nomeadamente o ensino, refere o estudante. Pedro Lobo identifica algumas lacunas a nível tecnológico e defende que houve “um excesso de carga de trabalhos que os docentes pediam para fazer”. 

Esta ideia é defendida pela maioria dos estudantes que acreditam que no primeiro confinamento houve uma sobrecarga de trabalhos em todas as áreas referidas. Maria Inês, aluna do 4º ano de Enfermagem da Escola Superior de Saúde de Viseu (ESSV), defende que a “adaptação ao online já deveria ter sido feita” e, como não foi, “as pessoas tiveram de ter uma capacidade de adaptação instantânea”. A estudante refere ainda que nem toda a gente o conseguiu fazer, o que fez com que a adaptação fosse custosa a nível físico e psicológico.

Por outro lado, os alunos da Universidade Católica Portuguesa de Viseu, Diana SottoMayor e Benedito Pires, do mestrado integrado de Medicina Dentária, referem que apesar de ter havido sobrecarga de trabalho, “aprenderam mais na altura do confinamento, porque não davam apenas matéria” e estudavam os casos mais aprofundadamente, o que fez com que chegassem à clínica mais preparados.

Já André Monteiro, aluno do 4º ano do curso de Desporto e Atividade Física da ESEV, acredita que as aulas práticas “deviam ter sido adiadas, em vez de terem utilizado métodos online”.

Aumento do cansaço e impacto negativo na saúde mental

Durante os sucessivos confinamentos, os estudantes referem ter tido um aumento no cansaço psicológico levando a um aumento de ansiedade, desmotivação, “stress” e perturbações do sono. Muitos estudantes confessam terem sentido sintomas de depressão, cansado e fadigo relacionados com as horas passadas em frente ao computador.

O estudo feito pela Associação de Estudantes da Faculdades de Ciências Sociais e Humanas (AEFCSH) da Universidade Nova de Lisboa entre 16 de fevereiro a 2 de março de 2021, concluiu que 90% dos 483 inquiridos afirmam que o confinamento provocado pela pandemia de Covid-19 está a ter um efeito negativo na sua saúde mental.

Neste aspeto, vários estudantes comprovam este estudo e referem ter sido desgastante o tempo que passaram em casa em regime online.

Mariana Correia diz que o facto de os estudantes terem ido para casa e “não terem estado com os colegas também afetou negativamente, pois o Piaget é um instituto muito pequeno”, onde se acabam por conhecer uns aos outros. Acrescenta ainda que “a parte afetiva e social afetou muito”, já que nem “ir beber um copo” com os amigos se conseguia fazer.

O cansaço psicológico também é referido por André Monteiro, que justifica esse cansaço com a “soma de trabalhos curriculares pedidos” e com “o facto de terem estado fechados em casa”.

Pedro Lobo ressalta a ideia de que as dificuldades económicas e sociais se manifestaram ainda mais durante os meses de confinamento. O aluno refere que ao início a ideia de ir para casa foi “uma alegria”, mas que “com o passar dos dias” verificou-se a gravidade dos problemas.

Quando questionados em como a pandemia afetou o percurso académico e, consequentemente o futuro dos estudantes na entrada para o mundo do trabalho, as opiniões são discordantes.

Por um lado, Pedro Lobo acredita que seja qual for o aluno e o curso, a pandemia afetou negativamente, nomeadamente no seu curso que é 70% prático e 30% teórico.

Já Maria Inês refere que por estatísticas se sabe que não afetou o percurso académico por completo, tendo apenas afetado “algumas unidades curriculares”, mas que “a verdade é que as pessoas acabaram por se adaptar, o que não teve implicação no sucesso dos estudantes”. Complementa ainda que “a partir do momento em que foram ultrapassadas algumas barreiras de logística, se conseguiu promover o sucesso de todos os estudantes”.

Luís Santos, aluno do 4º ano de enfermagem da ESSV afirma que sendo aluno do 4º ano, os confinamentos sucessivos não afetaram, já que a escola conseguiu formas de os alunos circularem nas instalações e irem a estágio.

Quando se fala na pandemia que estamos a viver é inevitável não referir o tópico da vacinação e, tendo em conta que o curso de fisioterapia e enfermagem estão todos os dias na linha da frente, os estudantes destes cursos têm pontos de vista fortes e firmes.

Carolina Pratas defende que os alunos do curso de fisioterapia já deveriam ter sido vacinados, uma vez que “estão em contacto com pessoas de risco”, nomeadamente no estágio nos lares, onde estão com pessoas de faixas etárias mais velhas.

Os alunos finalistas do curso de enfermagem já se encontram vacinados por serem do último ano, mas defendem que todos os estudantes já deviam ter sido vacinados mais cedo, pela mesma razão que os alunos de fisioterapia. Luís Santos refere mesmo que o seu estágio poderia ter ficado comprometido se tivesse ficado infetado com o novo coronavírus.

Imagem de Hatice EROL por Pixabay

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