Notícias da Beira-Douro: “um jornal feito por carolas”

 O Jornal Notícias da Beira-Douro, tal como o nome indica, é um jornal dedicado a dar notícias sobre o Douro (concelho de Lamego, Armamar, Tabuaço e Pesqueira) e a Beira (Concelho de Moimenta da Beira e Tarouca). Fomos conhecer a história deste jornal local, que faz 40 anos de existência em junho. Rui de Carvalho, diretor do Notícias da Beira-Douro sublinha que “é um jornal feito por carolas”.

Reportagem de Mariana Fernandes

Em junho de 1981, a publicação é fundada em Armamar, concelho do distrito de Viseu, mas é no Porto que o jornal se encontra ativo, uma vez que Armamar não tinha os recursos necessários para continuar a desenvolvê-lo.

Tentou alargar-se para os concelhos de Lamego, Moimenta da Beira, S. João da Pesqueira, Tabuaço e Tarouca, todos concelhos vizinhos, do Douro e da Beira.  Esse alargamento ajudou a impulsionar o jornal e a difundi-lo para outros locais.

É conhecido por ter um vasto número de assinantes no estrangeiro, principalmente na Austrália, Alemanha, Estados Unidos, França e Luxemburgo. Isto deve-se ao facto de estas regiões terem muitos emigrantes espalhados pelo mundo fora.

Rui Carvalho, diretor do jornal começa o dia no terreno. Na redação está Lurdes Cerqueira, chefe de redação e é encarregue da paginação das notícias e da impressão do jornal.

À distância, é assim que funciona este jornal mesmo em tempos em que a pandemia não estava presente. Segundo Rui de Carvalho, “os colaboradores fazem as notícias”, mandam para ele e este vê “se se enquadram nos estatutos do jornal e se não ferem os métodos deontológicos “.

Rui de Carvalho acompanhou-nos nesta visita ao Jornal. Segundo o diretor “é uma publicação que não está ligada a qualquer ideologia política (…) nem crença religiosa”.

Na altura em que o jornal surgiu era quinzenal, atualmente é mensal devido à falta de recursos financeiros, uma vez que sobrevive com a ajuda dos assinantes.

A tipografia Uniarte é a proprietária do jornal e torna o ambiente de trabalho um “bocadinho caseiro”. O gosto pela profissão de jornalista e pela descoberta de acontecimentos faz com que os que lá trabalham o façam sem lucrar com a publicação.

Segundo Rui de Carvalho, o periódico “não é conflituoso, pretende identificar os problemas, acabando por denunciá-los”. A simplicidade é uma das caraterísticas que podemos encontrar quando encaramos a primeira página da publicação.

A falta de notícias sente-se diariamente na redação o que dificulta a expansão do jornal. Apesar disso imprimi mais de dois mil exemplares.

Fomos saber a opinião de um assinante muito antigo deste jornal, Nelson Dias reformado da polícia, natural de Vale de Figueira (Tabuaço), mas é em Lisboa que reside e o recebe mensalmente. “É um jornal que permite estar próximo das nossas origens e é isso que o distingue de todos outros jornais”, afirma Nelson Dias.

Fala-se nas redes sociais, um termo que Rui de Carvalho demorou a aceitar, porque considera que são um entrave, uma vez que o periódico é mensal e quando chega ao leitor, “já toda a gente sabe o que aconteceu e têm que dar uma certa triagem às notícias, para que quando chegue às pessoas, ainda seja novidade”, comenta o diretor do jornal.

Na altura que decidiu ingressar nesta área, ainda não existia licenciatura em jornalismo nas universidades e decidiu tirar um curso no CENJOR (Centro Protocolar de Formação Profissional para Jornalistas. Ao longo da conversa afirmou várias vezes que “gostava de ser jornalista” dizendo ainda num tom bastante alegre, “mas um jornalista que ia para o terreno e não aquele que fica na redação”.

Atualmente é reformado, mas durante a semana era na câmara municipal de Tabuaço que trabalhava, no gabinete de comunicação e imagem.

Ansiava que chegasse o fim de semana para fazer aquilo que mais gostava, ir para o terreno à procura de acontecimentos para serem publicados no jornal de notícias da Beira-douro.

Em 2004, quando assumiu a direção do jornal, o trabalho aumentou, mas sente que esse passo foi bastante importante. Quando chegou, começou a perceber que a vida na redação era muito atribulada, as notícias eram produzidas nas máquinas de escrever, as fotografias que acompanhavam as notícias tinham que se revelar e isso demorava tempo. Confessa que “atualmente é tudo mais prático com os meios tecnológicos”.

É com entusiamo de continuar a fazer mais e melhor que se vive naquele jornal, muito devido às cartas de apoio de agradecimento e recomendação que recebem do estrangeiro, que “sentem o jornal como um cordão umbilical”.

Um jornal que zela pela igualdade e proximidade de todos levando a informação aos locais mais rurais onde os jornais de caráter nacional não estão tão presentes. É isso que o distingue de todos os outros, não é conflituoso, pretende identificar o que está mal e elogiando o que de bem se faz. É um jornal onde a informação se interliga com a opinião numa perspetiva formativa, defendendo que só a verdade deve ser divulgada, dentro dos limites da liberdade de expressão. Mais do que dar informação é preciso ser cidadão e ser um bom ouvinte, ajudando assim a construir uma sociedade mais justa. 

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